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Mulheres ganham a vida vendendo “comida de rua” na cidade de Nampula

A venda de “comida de rua” tornou-se, para muitas mulheres moçambicanas, uma das alternativas para ganhar a vida. Nos grandes centros urbanos, onde geralmente estão concentrados os postos de trabalho, as vendedeiras ambulantes solteiras, casadas, divorciadas ou separadas e viúvas expõem-se ao frio, ao sol e ao vento para vender refeições que trazem de casa já preparadas. Na cidade de Nampula, o cenário não é diferente. As senhoras, algumas donas de casa e outras chefes de famílias transportam, diariamente, panelas de arroz, xima, feijão e carapau para as várias artérias daquela urbe com a finalidade de vendê-los.

O negócio é bastante concorrido. Os consumidores dizem que os preços são baixos, comparativamente aos praticados pelos proprietários de alguns restaurantes, pastelarias e outros estabelecimentos que supostamente comercializam comida em melhores condições de higiene.

O negócio de comida de rua é uma prática bastante antiga. A partir de meados do século XVIII, segundo a pesquisa feita pelo @Verdade, alguns escravos eram empregados ou “alugados” pelos seus senhores para produzir, comercializar ou prestar serviços a terceiros.

Para incrementar o orçamento doméstico dos seus senhores, saíam da cozinha para as ruas, levando comida feita em casa: eram vendedeiras ambulantes, que percorriam as cidades com tabuleiros, negociando bolinhos e outras iguarias.

No princípio foi muito difícil vender comida

Augusta Fonseca, de 32 anos de idade, reside no bairro de Namicopo, arredores da cidade de Nampula. À nossa Reportagem disse que começou a vender comida numa das ruas daquela urbe em 2005, altura em que se separou do marido, com quem teve quatro filhos, neste momento sob sua guarda.

Nesse ano, não tinha condições para custear as despesas de um lar, nem sabia o que é trabalhar para garantir que as crianças estudem, tenham vestuário, por exemplo, porque o seu cônjuge tomava conta disso e mais coisas. Porém, quando se separou não cruzou os braços e teve de exercer alguma actividade – venda de comida – para sobreviver.

A nossa interlocutora contou-nos ainda que para iniciar o seu negócio fez um empréstimo de 500 meticais que foram reembolsados em 10 dias. Por cada jornada laboral lucra entre 300 e 400 meticais, dependendo da clientela.

“Não é muito mas dá para sustentar a minha família.” Há vezes em que a comida apodrece por falta de compradores e os prejuízos são enormes. Entretanto, apesar dos obstáculos que enfrenta, disse-nos que a sua vida melhorou graças à venda de “comida de rua”, tendo reabilitado a sua casa e comprado vários electrodomésticos.

O município não proíbe o negócio mas não cobra taxas

Às vezes, o Conselho Municipal da Cidade de Nampula surpreende os vendedores ambulantes com uma fiscalização relâmpago. Contudo, as senhoras que vendem comida nas diferentes artérias da província mais populosa de Moçambique ainda não foram vítimas dessa acção dos agentes da Polícia Camarária.

Para além de a edilidade não se pronunciar sobre aquela actividade, não cobra nenhuma taxa diária, o que para as comerciantes é um ganho para o seu negócio.

Hulina João, de 38 anos de idade, mora no bairro de Murrapaniua, periferia daquela autarquia. Ela é uma das pessoas que estão satisfeitas com a “impunidade” do seu negócio. Alega que se tivesse de pagar alguma taxa diária, os prejuízos seriam notáveis nos seus lucros.

Crianças vendem água

Justino Costa, de 13 anos de idade, residente do bairro de Natikiri, em Nampula, é penas um exemplo de várias crianças que comercializam água gelada lado a lado com as vendedeiras de comida alegadamente para ter mais clientes. Da sua casa para o centro da cidade de Nampula, onde pratica o seu negócio, percorre uma longa distância.

O adolescente, que frequentava a 7ª classe, abandonou a escola para se dedicar à actividade informal. Segundo as suas palavras, deixou de estudar para ajudar a sua tia que não tem condições financeiras para custear as despesas de casa. Os pais morreram num acidente de viação ocorrido no distrito de Nacarôa, onde se encontravam a trabalhar.

Os compradores ignoram a falta de higiene

Os alimentos vendidos na rua podem representar um problema de saúde pública, uma vez que, às vezes, são preparados e vendidos sem a observância das adequadas condições de higiene.

A forma como são manuseados pode também colocar em risco a saúde dos consumidores. Nos lugares onde as nossas interlocutoras exercem as suas actividades, as condições de higiene são deploráveis.

A água é transportada em bidões pouco limpos e as panelas de comida são aguardadas em sítios inapropriados e expostas às moscas. Para além do lixo, os restos de comida são descartados sem o devido cuidado, o que concorre para a multiplicação de alguns insectos.

Entretanto, alguns cidadãos que passam as suas refeições nesses “restaurantes ambulantes” parece que pouco se importam com essa situação que pode estar na origem de algumas doenças diarreicas.

O mais preocupante é que as autoridades sanitárias e municipais ignoram por completo o cenário atentatório à saúde pública que os mesmos locais representam.

Abdul Amade, 16 anos de idade, morador do bairro de Carrupeia, contou-nos que é estivador num armazém da cidade de Nampula. Acorda às quatro horas de madrugada e dirige-se ao centro da cidade, onde se encontra o seu posto de trabalho.

“Não é fácil sair da cidade para passar uma refeição em casa porque a distância é longa. Como forma de evitar gastar muito dinheiro com o transporte, prefiro comer na rua”, disse Amade.

Por sua vez, Jordão Luís, jovem de 22 anos, residente no bairro de Namicopo, explicou-nos que recorre à “comida de rua” para almoçar porque fica muito tempo ocupado com o trabalho e o tempo para o almoço é curto.

Segundo ele, os clientes não olham muito para a higiene dos lugares onde passam as refeições, querem apenas comer e voltar para os seus afazeres.

“Todos sabem que a higiene da “comida de rua” não é a mais recomendável, sendo de imaginar o que se passa nas casas dessas senhoras na altura da confecção de alimentos.

Os consumidores preferem não pensar nisso porque faltaria coragem e apetite para se alimentarem…”, afirmou Jordão Luís. Enquanto isso, Sílvio Raimundo, de 24 anos de idade, disse que “na rua os preços são razoáveis. Um prato de arroz com feijão custa dez meticais e nos restaurantes 50 meticais é o preço mínimo de cada refeição, dependendo do tipo de comida.”

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