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Mulheres concedem crédito às mais desfavorecidas no bairro Chamanculo “D”

Mulheres concedem crédito às mais desfavorecidas no bairro Chamanculo “D”

A condição gritante da pobreza em muitas famílias, aliada à fraca renda familiar e a condições deploráveis de sobrevivência das moradoras do bairro Chamanculo “D”, em Maputo, foi o que inspirou duas dezenas de mulheres a unirem esforços e, desta forma, cultivarem o espírito de poupança com o intuito de ajudar as mais carenciadas, através da concessão de crédito.

A secretária-geral da Associação de Poupança e Crédito Social de Mulheres Unidas de Chamanculo “D”(APOCRESMUD), Glória Massingue disse que tudo começou em 2006, quando 24 mulheres foram submetidas a uma formação específica sobre as melhores maneiras de fazer poupança pela organização não- -governamental alemã LWF.

A assimilação do conhecimento e a promessa de financiamento após a formação fez brotar naquelas mulheres batalhadoras a esperança de garantirem a sua emancipação económica, através da participação activa e massiva em actividades de geração de renda familiar e crescimento da economia nacional. Foram sete dias de capacitação sobre as melhores formas de poupança, com o intuito de dotá-las de ferramentas inovadoras e capazes de promover o espírito empreendedor e a cultura de poupança. No entanto, o investimento prometido não veio a efectivar-se.

Ainda assim, não cruzaram os braços, decidiram unir esforços e cada membro passou a economizar 60 meticais mensais, incluindo a quantidade de alimentos consumidos diariamente. Um mês após a criação do órgão, este já tinha poupado cerca de 15 mil meticais, que beneficiou na primeira fase oito mulheres, entre as quais viúvas e carenciadas cujo crédito variava entre 2.500 e 5.000 meticais, que deveriam reembolsar a uma taxa de juro de cinco porcento, revelou Massingue.

Este apoio, de acordo com a nossa interlocutora, veio melhorar as condições de vida das beneficiárias, que abriram pequenas bancas de comercialização de produtos alimentares e hortícolas, entre outras formas de negócio, factores que contribuíram para que algumas crianças regressassem à escola e as condições de sobrevivência melhorassem de forma significativa.

No ano seguinte, porque o crédito tinha uma elevada procura e o número de mulheres viúvas, pobres, desempregadas e abandonadas crescia, a taxa de contribuição foi incrementada para 100 meticais, com o propósito de elevar o número de beneficiárias e desta forma impedir que algumas famílias passassem fome e crianças ficassem sem estudar por falta de dinheiro, realçou a secretária-geral.

“Antes de concedermos o crédito às mulheres elas são submetidas a um processo de capacitação em matéria de poupança, uso sustentável e eficiente do dinheiro e de outros bens alimentares e materiais, com vista a promover o espirito da poupança nas famílias e desta forma contribuir para o desenvolvimento das mais carenciadas daquele bairro”, sublinhou a nossa interlocutora.

Na óptica da entrevistada beneficiam do crédito jovens, adultas e idosas que vivem em casas de condições precárias, sem dinheiro para inscrever seus filhos à escola e as que passam fome, porque falta-lhe oportunidade para ingressar no mercado do emprego, deficientes físicos, auditivos, visuais, entre outros que necessitam de apoio para recomeçar a vida.

Glória assegura que muitas mulheres abandonaram a mendicidade com esta iniciativa, o que demonstra que a união pela mesma causa constitui um incentivo para que muitas moçambicanas lutem de diversas formas para vencerem a pobreza que ainda é elevada no bairro. Já em 2007 conseguiram poupar o dobro, o que contribuiu para que aumentasse o número de beneficiárias para um universo de 20 mulheres, numa quantia equivalente a 90 mil meticais, mas o problema reside no fraco nível de reembolso que actualmente se estima em 30 porcento, muito abaixo das previsões que se esperava que se situassem entre 50 e 70 porcento, garantiu Massingue.

Somos pelo bem-estar da mulher carenciada

“Graças à nossa actividade de poupança e concessão de crédito conseguimos melhorar residências que estavam prestes a ruir, prestamos assistência médica aos doentes sem parentes, inscrevemos crianças que já não tinham esperança de voltar à escola, entre outros casos de emergência assistidos por nós”, explica a visada.

A fonte é peremptória ao afirmar que o objectivo principal da associação não é a aquisição do lucro, mas sim do bem-estar da mulher para que participe mais na vida económica, cultive o espírito empreendedor e contribua para a melhoria da renda familiar, da comunidade e no crescimento económico do bairro em particular e do país no geral.

Glória aponta como principais desafios do órgão que dirige a falta de cultura de poupança em muitas mulheres da comunidade, gestão deficiente dos poucos recursos que têm, porque estão habituadas a receber dinheiro sem trabalhar, fraco nível de reembolso, falta de água regular, entre outros, para além de que as taxas de juros obtidas com os reembolsos servem apenas para custear despesas de electricidade, água, aquisição de material de escritório para assegurar o seu funcionamento, entre outras que obstam que mais mulheres beneficiem de apoio.

“Muitas mulheres já saíram das casas de madeira e zinco para as feitas de blocos, deixaram de dormir ao relento e de passar fome, graças à concessão de crédito às mais vulneráveis”, vincou a secretária-geral.

Poupança é um meio de geração de riqueza

Na sexta-feira (31), celebra-se o Dia Mundial da Poupança. Massingue reconhece que há necessidade de intensificar a educação cívica junto a todos os moradores, de modo a fazer da poupança um meio vital para a criação e multiplicação da riqueza.

Por conseguinte, acrescenta que mais do que gerar riqueza, a actividade fortalece a economia nacional, incrementa os níveis de investimento local e melhora as condições de vida da população, através do aumento da renda, e consequentemente do aperfeiçoamento dos serviços sociais primários, com base na criação de incentivos.

De acordo com o Banco de Moçambique esta efeméride deve servir para educar todos os cidadãos, com enfoque para as crianças, jovens e professores para que sirvam de agentes indutores de mudanças comportamentais.

“Falta de espaço inibe-nos de progredir”

O principal obstáculo que impede o incremento do nível de poupança da associação é a falta de espaço para implantar os projectos em carteira, nomeadamente o depósito de refrigerantes, a abertura de um estaleiro para a produção de blocos para revender localmente, entre outros, disse ainda Massingue.

“Se tivéssemos espaço seria uma mais-valia para a mulher do Chamanculo “D”, uma vez que iria gerar cerca de cinco a sete postos de emprego, aumentar as receitas e o valor da poupança e os níveis da receita adquirida com as taxas de juro”, afirmou Massingue.

No ano passado foi criado o banco “Mulher Caixa de Poupança e de Crédito”, com o objectivo de apresentar soluções financeiras que correspondam às necessidades das mulheres empresárias, assim como servir e dar prioridade aos negócios das mulheres empresárias no país, captar depósitos e efectuar o pagamento de salários e pensões, de modo a permitir uma maior inclusão financeira.

Passado um ano após a sua criação pouco ou quase nada mudou, porque apenas 45 porcento das mulheres é que têm acesso ao crédito, com enfoque para as mais letradas em detrimento das que não sabem ler e nem escrever. Sobre a inclusão da mulher, Massingue defende que ainda há muitas mulheres que continuam no anonimato, como um segmento menos importante na produção da riqueza, assim como a sua participação no processo da cidadania, da justiça social e na promoção da igualdade do género.

A nossa interlocutora acrescenta que para sair desta situação há necessidade de tornar as actividades de concessão de crédito mais dinâmicas e desta forma maximizar a valorização e a auto-estima das mulheres no plano económico e social e, desta forma, assegurar o prestígio social das feministas.

“Não vamos exigir mudanças bruscas, porque o principal actor da valorização da mulher é a própria mulher que aos poucos está a conquistar o seu espaço de privilégio na sociedade”, concluiu Massingue.

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