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Mukhavele inova no Franco-Moçambicano

Na antevéspera do seu concerto no Centro Cultural Franco-Moçambicano @ VERDADE visitou um dos últimos ensaios de Luka Mukhavele que hoje actua naquela casa de espectáculos. Na garagem de uma moradia no luxuoso bairro de Sommerschield respirava-se música por todos os poros. Por entre baterias, violinos, marimbas, guitarras, muitos instrumentos tradicionais e cabos a ligar os ditos à electricidade, Mukhavele dava instruções à banda:

“A tonalidade, a tonalidade tem de ser mais suave; tens de afinar a xigonia com água; estás a lutar muito com o instrumento; vocês estão muito agressivos; muita percussão não é bom.”Tudo com vista à perfeição para o concerto de hoje intitulado “Tradição em Inovação – Ancestral Bantu”.

 

O que é que vamos ter no espectáculo do Centro Cultural Franco-Moçambicano?

Luka Mukhavele (LM) – Qualquer pessoa procura fazer da sua experiência única, mas vamos ter muitos instrumentos de música tradicional, exóticos, pouco conhecidos, porque o meu trabalho se desenvolve sobretudo na área da pesquisa de instrumentos e ritmos tradicionais. É o que tenho levado aos palcos. Chamei a este concerto “Tradição em Inovação” porque parto do princípio de que toda a tradição vai inovando, integrando-se e enquadrandose na realidade social. Esta tradição, que não pode ser morta, não pode ser exclusivamente estudada, tem de ser vivida.

Tens sido criticado por conciliares a música tradicional com a electrónica. Como encaras essas críticas?

(LM) – As críticas nunca faltam. Quando as pessoas são confrontadas com coisas que não conhecem reagem sempre. É normal. Chegam-me críticas do campo académico e dos artistas tradicionais. Ambos dizem que não é possível conciliar as duas coisas. Mas não concordo porque música é som e o som é um fenómeno físico que tem de ser estudado também por esse ponto de vista porque a acústica é um fenómeno físico. E, é claro, sociocultural. Sou da opinião de que há sempre pontos de encontro, uma plataforma comum, entre a música tradicional e a dita europeia e se formos à sua procura encontramos esses tais caminhos comuns.

Que instrumentos vamos ter no espectáculo de hoje?

(LM) – Teremos vários instrumentos de percussão, batuques, chocalhos, etc. Vamos ter igualmente dois instrumentos de corda tradicionais: o xitembe e xizambi. O primeiro é parecido com o berimbau que se usa na dança da capoeira e o segundo é um cordofone. Teremos ainda marimba, xilofone, bateria, saxofone, violino e guitarra. Espero que tenhamos tempo para tocar todos estes instrumentos.Que não seja só um cheirinho.

O concerto está previsto para durar quanto tempo?

(LM) – Cerca de 90 minutos.

Tocas todos estes instrumentos?

(LM) – Sim, estes que mencionei, sim.

Inventaste algum destes instrumentos?

(LM) – Não, inventados já estavam todos, mas melhorei-os, optimizei a sonoridade e o seu manuseamento.

O espectáculo tem um subtítulo curioso: “Ancestral Bantu”. Queres explicar?

(LM) – A base da música toda que toco é bantu. São as bases do concerto, é uma busca de raízes.

Queres apresentar o resto da banda?

(LM) – Sim : na bateria, Pedro na percussão e marimbas, Filipinho no baixo, Genito no xilofone e percussão também, o Dionísio na guitarra, o Timóteo no saxofone e Dulce e Noémia no coro. Mas não estamos todos no palco ao mesmo tempo. Há músicas que toco a solo. É tudo rotativo.

Estás a ensaiar há quanto tempo para este concerto?

(LM) – Há muito (risos). Isto requer muito trabalho. Mas com a maior parte dos elementos da banda já trabalho regularmente há mais de três anos por isso já temos muita rotina. Precisamos de rever o reportório e de fazer as indispensáveis actualizações porque há sempre novos elementos a surgir. Agora estamos a trabalhar de forma intensiva já há duas semanas. Ensaiamos duas horas por dia, mas raramente é com todos os elementos.

É a primeira vez que actuas no Franco-Moçambicano?

(LM) – Com o meu reportório é a segunda, mas já lá fui várias vezes integrado em bandas de outros músicos.

Vive-se da música neste país?

(LM) – Não é nada fácil viver exclusivamente da música em Moçambique. Ter-se outras actividades ajuda muito. Eu, por exemplo, dou aulas na Faculdade de Música da UEM e isso ajuda-me muito. Ajuda também a estruturar melhor a vida, porque obriga a pessoa a ter uma agenda.

Que cadeiras leccionas?

(LM) – Trabalho com quatro disciplinas. Dou Acústica Organológica, Seminário sobre Construção de Instrumentos Tradicionais, Análise Organológica de Instrumentos Musicais e Investigação Musicológica.

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