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“Muito se faz mas também pouco se faz em relação a desnutrição crónica em Moçambique”, que em 10 anos reduziu apenas 1 por cento

“Muito se faz mas também pouco se faz em relação a desnutrição crónica em Moçambique”

Foto cedido pelo UNICEFMoçambique está a perder a luta contra a desnutrição crónica, dos 44 por cento de moçambicanos afectados pela doença em 2008 apenas um por cento saiu dessa situação revelou a Directora Nacional Adjunta da Saúde, Maria Benigna Matsinhe, que esta semana reconheceu que “Muito se faz mas também pouco se faz” em relação a esta doença que retarda o crescimento das crianças, deixa-as vulneráveis a contrair doenças infecciosas e degenerativas, causa fraco desempenho intelectual e “pode conduzir a perdas de produtividade de cerca de 2 a 3 por cento do Produto Interno Bruto”. Para o Representante Adjunto do UNICEF, Michel Le Pechoux, um dos problemas é que as autoridades de saúde e parceiros envolvidos passam “demasiado tempo no nível central no desenho e não na implementação e aprendizagem nas nossas comunidades”.

Quando a 28 de Setembro de 2010 o Conselho de Ministros, na altura de Armando Guebuza, aprovou o Plano de Acção Multissectorial para a Redução da Desnutrição Crónica tinha a ambiciosa meta de reduzir os 44 por cento afectados à data para 20 por cento em 2020.

Ao contrário do senso comum que dá ideia que a desnutrição crónica deriva da falta de comida hoje sabe-se que a doença é originada pela falta de ingestão dos nutrientes que o organismo necessita mas também pelo deficiente acesso a água potável, ao saneamento do meio e a serviços de saúde contínuos.

Foto cedida pelo UNICEFQuiçá olhando para o pouco trabalho realizado e para os enormes desafios que tinha de lidar quando Filipe Nyusi assumiu a Presidência em 2015 reviu em alta a meta de redução da desnutrição crónica dos 20 por cento para 35 por cento em 2020, no Plano Quinquenal do seu Governo.

Nesta quarta-feira (04), durante um encontro de coordenação envolvendo os responsáveis pela área de saúde e nutrição do Ministério da Saúde (MISAU), do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), doadores, parceiros de cooperação e organizações não governamentais a Diretora Nacional Adjunta da Saúde constatou que essa meta do Governo é inalcançável, “(…) nós estamos há 2 anos de 2020 e só reduzimos 1 por cento, de 44 para 43 por cento. Temos ainda muito trabalho, devemos sentar e analisar aonde é que estamos a falhar para não conseguirmos que avançar com maior celeridade”.

Fala-se na obesidade mas pouco nos focalizamos naquele é o problema que realmente neste momento assola o país que é a desnutrição crónica

Na perspectiva da doutora Maria Benigna Matsinhe a desnutrição crónica deve ser colocada “no grupo das doenças negligenciadas. Muito se faz mas também pouco se faz em relação a desnutrição em Moçambique. Temos tido várias intervenções, várias estratégias, vários planos mas a nossa comunidade continua a não saber o que comer, como comer e quando comer. Em que momento fazemos as diferentes intervenções alimentares para o crescimento de um cidadão até que se torne adulto, ainda temos algumas lacunas que tem que ser resolvidas”.

A Directora Nacional Adjunta da Saúde admitiu “onde nós Governo e Parceiros costumamos falhar é a questão da coordenação. A desnutrição é uma área que é complexa, precisa de ser analisada com muito cuidado e também deve ser atacada com a agressividade necessária mas também com o cuidado necessário”.

Para além disso a representante do Ministério da Saúde considerou fundamental destacar a desnutrição crónica das restantes doenças e coloca-la no mesmo patamar de prioridade como é dada a malária ou HIV/Sida. “Nós em Moçambique temos por uma lado os desnutridos, porque não comem os nutrientes necessários, mas por outro lado temos os desnutridos porque comem aquilo que não devem comer. E nós olhamos para as grandes cidades, apesar de termos 43 por cento de taxa de desnutrição em Moçambique, realmente temos este populismo de falarmos na redução da obesidade e muito pouco nos focalizamos naquele é o problema que realmente neste momento assola o país que é a desnutrição crónica”.

Embora reconheça muito do trabalho que tem sido feito desde que o Governo assumiu a luta contra a desnutrição crónica, Maria Benigna Matsinhe enfatizou que “ainda não chegamos a pessoa que é nosso alvo, que é a criança”, pois a luta contra esta doença não deve ser realizada em Maputo mas ao nível dos distritos e povoações.

É necessário sair dos workshops e seminários e partir para acções concretas no terreno

“Eu penso que realmente é preciso trazer urgência a este problema, isto está a evoluir tal e qual os problemas relacionados com a alimentação(…) O problema está aí, as crianças estão a crescer mal, o adulto tem o problemas da infância”, acrescentou a responsável do MISAU que apelando que “(…) temos de sentar ao nível central sim, pensar é bom, mas vamos lá ao nosso alvo que é a população senão vamos ter mais desnutridos”.

Foto cedida pelo UNICEFEsta posição do Ministério da Saúde é comungada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) cujo o Representante Adjunto em Moçambique afirmou que é necessário sair dos workshops e seminários e partir para acções concretas no terreno. “Acho que passamos demasiado tempo no nível central no desenho e não na implementação e aprendizagem nas nossas comunidades, (…) porque não passamos para acção”, questionou Michel Le Pechoux.

Aliás o @Verdade nota que 44 por cento do povo moçambicano em 2008 correspondia a pouco mais de 9 milhões de pessoas, mas hoje 43 por cento equivale a mais de 12 milhões de moçambicanos em desnutrição crónica, portanto em termos absolutos o número de doentes estará a aumentar.

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