Quando o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, dirigia um comício em Mucojo, distrito de Macomia, província nortenha de Cabo Delgado, diversos cidadãos locais subiram ao pódio para pedir a elevação do seu Posto Administrativo a categoria de distrito.
A primeira ideia que pode ocorrer a alguém é que, com o pedido, Mucojo pretende ter os seus próprios “Sete Milhões” (fundo de cerca de 210 mil dólares canalizado a cada distrito do país para financiar projectos de geração de emprego e comida) e passar a os gerir nas actuais quatro localidades, quando já tiverem ascendido a categoria de postos administrativos. Mas esse não é o caso.
Para os sonhadores de Mucojo, a ascensão do seu Posto para a categoria de distrito seria um ‘bilhete’ para sair da pobreza e passar a ter todas as infra-estruturas básicas sócias e facilidades ora inexistentes ou insuficientes no local. Localizado a cerca de 50 quilómetros da Estrada que liga Montepuez a vila sede de Macomia, Mucojo não possui estrada asfaltada, transporte público de passageiros, ou rede de telefonia móvel, servindo-se apenas de algumas cabinas fixas de telefonia fixa.
Os cerca de 28 mil habitantes locais sobrevivem da agricultura de subsistência e da pesca artesanal. A água potável não chega para todos, havendo parte da população que se abastece de água dos poços e outras fontes tradicionais, segundo indica o informe do Governo do posto local a que a AIM teve acesso. “Nós estamos a pedir para que Mucojo seja distrito”, disse Abudo Passa Cunoa, falando durante o comício orientado, Domingo passado, pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, em Mucojo, durante a sua Presidência Aberta e Inclusiva a província de Cabo Delgado.
“Assim, teremos uma escola secundária. Agora quando as crianças concluem a sétima classe não têm onde ir. Também teremos Hospital e rede de telefonia móvel quando quisermos falar com alguém que esteja noutro lugar”, disse Passa, sublinhando que “nós sabemos que o Governo da Frelimo quando promete, cumpre”. A ideia de Passa foi muito aplaudida e repetida diversas vezes por outros oradores, sem, contudo, mudar de argumentos. Para Assane Trigo, Mucojo pode ser distrito porque tem recursos, desde faunísticos, marinhos, bem com infra-estruturas sociais e turísticas (com destaque para um hotel).
“Mesmo uma criança cresce”, disse Trigo, para sustentar o seu pedido. De facto, Mucojo tem recursos: vastas áreas com paisagens naturais, diversidade faunística, belas praias, recursos marinhos, entre outros, mas será isso suficiente para elevar o posto a categoria de distrito.
A AIM colocou esta questão ao vice-Ministro da Administração Estatal, José Tsambe, tendo este explicado que há vários requisitos a considerar, nomeadamente população, superfície e recursos naturais. Tsambe disse que a população necessária para um posto administrativo ascender a categoria de distrito é um mínimo de 80 mil habitantes.· “Para o caso de Mucojo tem cerca de 28 mil habitantes distribuídos em quatro localidades (Manica, Pangane, Naunde e Mucojo sede), mas analisando outros requisitos se calhar possa ser elegível”, disse o governante.
Mas esses não são as únicas propostas de nova divisão administrativa apresentadas a Guebuza durante a sua visita em Cabo Delgado. Um cidadão de Nangade pediu para que o seu distrito seja uma ‘província autónoma’ separada de Cabo Delgado, sem contudo apresentar argumentos para sustentar melhor a sua proposta. Questionado na conferência de imprensa desta Terça-feira sobre esta nova tendência, Armando Guebuza disse que os pedidos serão analisados por um sector apropriado e, mais tarde, poderão ser submetidos ao Conselho de Ministros para a apreciação.