O uso generalizado em África de insecticidas para vários fins, em particular na agricultura, está a tornar o mosquito causador da malária resistente aos produtos usados no combate à doença, alertou em Maputo uma especialista britânica.
Clare Strobe, investigadora da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, Inglaterra, alertou para a perda de eficácia dos insecticidas aplicados contra o mosquito causador da malária, quando falava esta terça-feira num “Simpósio sobre a Resistência da Malária”, promovido pelo Gabinete da Primeira-Dama de Moçambique, Maria da Luz Guebuza. “Após serem aprovados pela Organização Mundial da Saúde como mais eficazes e acessíveis contra a malária, os insecticidas confrontam-se hoje com uma crescente resistência dos mosquitos ‘anopheles gambiens’ e ‘anopheles arabiens’, os principais factores da malária em África”, sublinhou Clare Strobe.
Por ser constantemente confrontado com os insecticidas, principalmente o DDT, em vários locais do meio ambiente africano, o mosquito causador da malária desenvolveu mecanismos de defesa, tornando-se mais resistente e mortífero, assinalou a investigadora. “Ainda não temos resultados oficiais do impacto da resistência do mosquito aos insecticidas, mas não se poderia esperar que a prevalência da doença baixasse, enquanto a eficácia do DDT se perde”, enfatizou Clare Strobe.
Segundo a pesquisadora da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, em África, o mosquito responsável pela propagação da malária tem vindo a familiarizar-se com os insecticidas usados na agricultura, mas também nos meios urbanos, onde são usados óleos industriais com insecticidas, um contacto que lhe tem conferido maior capacidade de resistência.
De acordo com Clare Strobe, as estimativas de um milhão de mortes por ano em África devido à malária deverão ser revistas por cima, na sequência de estudos que apontam para uma maior resistência aos insecticidas. Falando no encontro, a representante do Gabinete da Primeira-Dama, Joana Ali, afirmou que “a malária continua um problema preocupante e de graves proporções em Moçambique, uma vez que é ainda a primeira causa de mortalidade intra-hospitalar”.