Os moradores da célula “C”, no bairro Missão Roque, no Distrito Municipal KaMubukwana, em Maputo, estão de costas voltadas com as estruturas da sua zona supostamente porque são coagidos a desembolsar 20 meticais por família, para a construção de um posto para a Policia Comunitária no sentido de esta passar a ter melhores condições de trabalho. Os residentes não concordam com a medida e argumentam que há anos que despendem, anualmente, 60 meticais para a mesma força pública encarregue de manter em funcionamento as normas de convivência social local. Porém, persistem os problemas relacionados com a insegurança, a falta de esclarecimento de alguns delitos e a não identificação dos responsáveis pelos mesmos.
Os entendidos na matéria defendem que, actualmente, o serviço de policiamento comunitário é, sem dúvidas, uma forma de vigilância que mais se aproxima das aspirações da população. Contudo, pelo menos na cidade de Maputo, os munícipes andam agastados e declaram que não se identificam com essa polícia, nem confiam no trabalho dela, pois, por vezes, são as próprias pessoas da corporação que roubam aos munícipes.
Segundo os habitantes daquela área, apesar de reconhecerem que a ausência de um posto policial é uma preocupação de todos, pagar o valor em causa seria o mesmo que estar a “fazer um pacto” com uma corporação com a imagem já desgastada devido ao mau serviço prestado à comunidade. As pessoas malevolentes continuam a cometer desmandos e nada lhes acontece porque pouco se tem feitas no sentido de refrear os seus actos.
Apesar de haver munícipes que se queixam de já terem sido forçados a pagar os referidos 20 meticais, outros afirmam que nunca o irão fazer. Hélio Banze vive no bairro Missão Roque, é uma das pessoas revoltadas e disse que a população não pode ser obrigada a custear as despesas de construção de uma instalação para indivíduos que não conseguem garantir a segurança no bairro e a integridade física dos seus moradores.
De acordo com o nosso interlocutor, o que mais lhe preocupa é facto de as autoridades da zona intimidarem os cidadãos que não aceitam desembolsar o valor em causa e ainda terem de ouvir palavras segundo as quais “caso essa pessoa tenha um problema não será dirimido naquele no posto policial a ser erguido pelos outros, a não ser que pague o dobro do valor exigido pelos líderes de quarteirões”.
“Como é que num país com um Governo a população é compelida a fazer o que não é estritamente da sua competência?”, perguntou Banze que acrescenta: “isso representa um encargo para um citadino sujeito ao pagamento dos vários impostos que não trazem nenhuma mudança na sua vida. Estamos cansados de ser roubados mas desta vez não vou tirar nada, nem que me escorracem da zona”.
No entender de Banze, as autoridades locais pretendem aplicar o dinheiro em coisas particulares e não para satisfazer os interesses da comunidade, uma vez que as inquietações dos residentes em relação aos malefícios protagonizados por indivíduos de má-fé não estão a ser resolvidas, não está a ser contida a violência urbana, nem na sua área, nem num outro ponto da capital do país, principalmente porque o policiamento comunitário não funciona como uma força empenhada na melhoria do relacionamento entre si e a sociedade, e nem procura restabelecer a sua credibilidade e a confiança perante a população.
O problema exposto pelos nossos entrevistados parece sério, uma vez que alguns cidadãos interpelados pela nossa Reportagem falaram na condição de anonimato, alegadamente porque temem represálias. Segundo eles, a cobrança coerciva do montante em alusão está a dividir as opiniões no bairro, mas uma parte significativa de munícipes não vai desembolsar nenhum tostão, não obstante as ameaças proferidas pelo chefe do quarteirão três, Sebastião Sitóe.
“Nem fomos consultados sobre a ideia de se construir um posto da Polícia Comunitária com o dinheiro proveniente dos nossos bolsos”. “Os agentes do policiamento comunitário não fazem nada. Os chefes locais deviam primeiro encontrar formas de combater o crime e a insegurança no bairro e não estarem a pensar nas artimanhas para extorquir dinheiro”.
Em contacto com o @Verdade, Américo Matavele narrou que ficou indignado quando o chefe do quarteirão três foi à sua casa exigir 20 meticais com a finalidade de se construir instalações para uma força pública que se tem mostrado ineficaz na sua missão de patrulhar o bairro Missão Roque.
“As suas acções continuam nulas e, ao invés de garantir a tranquilidade, colabora com os assaltantes e também comete desmandos”. Entretanto, quando o responsável da zona jurou, a pés juntos, que nenhum membro da família Matavele iria ser atendido no posto a ser erguido, o nosso entrevistado sentiu-se amedrontado e desembolsou o valor, “apesar de reconhecer que não vai adiantar nada no que tange às preocupações dos moradores”.
As contribuições não são obrigatórias
Não foi possível ouvirmos as reacções dos outros líderes locais. Todavia, Sebastião Sitóe, chefe do quarteirão três, disse à nossa Reportagem que nenhuma pessoa foi forçada a comparticipar nas despesas de construção das referidas instalações, só desembolsa 20 meticais quem achar conveniente. Não se trata de uma edificação de raiz mas, sim, do melhoramento de uma residência que está abandonada há bastante tempo.
Nesse contexto, Sitóe classificou os depoimentos dos residentes com quem conversámos de descabidas e, na sua opinião, isso só demonstra que há gente de má-fé, que não quer que se edifique um posto de policiamento comunitário na zona.
As pessoas não percebem a importância disso para a resolução dos embaraços que tiram o sono à comunidade. “Em nenhum momento ameaçámos quem quer que seja dizendo que não iríamos atender as suas preocupações se não contribuísse na construção do estabelecimento policial”.