Moçambique possui a dieta alimentar mais pobre da África Austral, de ponto de vista de micronutrientes e proteínas, de acordo com os relatórios regionais sobre essa matéria, citados pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN).
De acordo com SETSAN, a dieta alimentar do moçambicano da parte norte do país é rica de mandioca, um produto com baixo conteúdo proteico, e no sul do país destaca-se o milho. Enquanto isso, as famílias urbanas têm o milho e o pão como alimento base.
“Com a excepção dos vegetais de folha verde que muitas vezes acompanham estes alimentos de base, a produção de outros alimentos ricos em micronutrientes (como hortícolas, fruta, carne, ovos, peixe e leite) é baixa”, indica o documento do SETSAN, que serve de referência para a IX Conferência dos Chefes dos Estados e dos Governos da Comunidade de Países da Língua Portuguesa.
Por outro lado, apesar da tendência crescente, o consumo do peixe continua muito abaixo da média mundial de 28 quilogramas por pessoa.
Actualmente, o consumo médio do peixe em Moçambique estima-se em nove quilogramas por pessoa, o que corresponde a média continental.
Apesar disso, o SETAN considera que nos últimos 10 anos, Moçambique registou progressos na integração da segurança alimentar e nutricional nas políticas e planos estratégicos sectoriais da agricultura, saúde, educação, comércio, acção social básica, nas universidades, entre outros sectores.
“Isto mostra que a segurança alimentar e nutricional está gradualmente a contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos”, indica o documento, apontando o exemplo do país ter deixado de ser importador de alguns alimentos básicos, como o milho, feijões e mandioca.
Segundo a fonte, este facto (auto-suficiência em alguns produtos) contribuiu não só para o aumento da quantidade de consumo alimentar per capita (que subiu de 1,750 calorias por pessoa para 2,500 calorias), como também permitiu a melhoria na geração de renda dos pequenos agricultores.
Entretanto, as autoridades estão preocupadas com o actual cenário de insegurança alimentar e nutricional no país.
O documento do SETSAN indica que em Março de 2010, o Governo reconheceu que o principal problema de nutrição é a desnutrição crónica e em Setembro de 2011 aprovou o Plano Multissectorial para a Redução da Desnutrição Crónica (PAMRDC 2011-20).
No essencial, este programa visa acelerar a redução da desnutrição crónica em crianças menores de cinco anos dos actuais 44 por cento para 30 por cento até 2015 e 20 por cento, em 2020.
Refira-se que, actualmente, estima-se que existe perto de 28 milhões de pessoas desnutridas, do total de cerca de 223 milhões de habitantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, organização que congrega Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe.
Com 44 por cento, Moçambique figura da lista dos países com maiores índices de desnutrição, onde também consta Angola, Guiné-Bissau e Timor-Leste.