Moçambique é um dos países beneficiários de um projecto financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates para a promoção da batata-doce na região da Africa Sub-sahariana avaliado em 21 milhões de dólares, que visa combater a desnutrição e fome no continente.
Segundo um comunicado de imprensa do Centro Internacional da Batata (CIP) recebido hoje pela AIM, o projecto envolve oito países africanos nomeadamente Moçambique, Uganda, Quénia, Ruanda, Tanzânia, Malawi, Gana e Nigéria.
Designado por Acção da Batata Doce para a Segurança Alimentar e Saúde em Africa (SASHA), o projecto que numa fase inicial terá uma duração de cinco anos visa explorar as potencialidades da batatadoce para melhorar a nutrição, renda e segurança alimentar de um milhão de famílias na região da Africa Sub-sahariana. “Eu e Melinda acreditamos que ao ajudar os camponeses mais pobres a produzirem mais batata doce e transportála para o mercado é o única forma que, por si só, o mundo possui para reduzir a fome e pobreza”, disse Bill Gates falando na cerimónia do lançamento do projecto, que lugar durante as celebrações do Dia Mundial de Alimentação no Estado de Iowa, Estados Unidos.
Em termos de produção, a batatadoce é a terceira cultura alimentar na região da Africa Oriental e a quarta cultura mais importante na Africa Austral. Este tubérculo possui um maior rendimento por hectare em condições climáticas adversas, e precisa de menos insumos e mão de obra comparativamente a outras culturas, razão pela qual é particularmente mais adequado para as famílias mais afectadas por imigrações, instabilidade política, ou doenças tais como ao HIV/SIDA.
Mesmo assim, o potencial desta cultura na mitigação destes desafios ainda está longe de ser explorada integralmente devido a falta de investimentos para melhorar o seu rendimento e uma percepção negativa, pois a mesma é considerada como fonte de alimento para as populações pobres. “Este projecto vai melhorar a segurança alimentar, nutrição e o padrão de vida de pelo menos 150.000 famílias directamente envolvidas no projecto, e indirectamente de um milhão de famílias na Africa Sub-sahariana nos próximos cinco anos.
Também vai criar condições para atingir 10 milhões de famílias durante os próximos 10 anos”, disse a Dra. Pamela K. Anderson, directora geral do CIP. Para o efeito, está prevista a criação de três centros regionais de apoio que serão baseados nos principais centros de investigação em Moçambique, Gana e Uganda, para melhorar a capacidade técnica a nível nacional. “O Uganda viu como é que a batatadoce ajudou a melhorar a segurança alimentar durante os tempos de escassez alimentar severa e quando outras culturas sucumbirem devido a doenças. Estamos preparados para partilhar a nossa experiência com outros países”, disse Dennis Kyetere, Director da Organização Nacional de Pesquisa Agrícola do Uganda.
A SASHA também terá como enfoque o empoderamento da mulher. Aliás, para Anderson “as mulheres são as guardiãs da família e produtoras primárias da batata-doce, mas geralmente não aproveitamos a vantagem desta mãode- obra”. Por isso, o projecto vai abordar este desafio através da inclusão de especialistas africanos na questão do género e integrar estratégias para assegurar que as mulheres tenham uma voz nas suas intervenções e partilhar os ganhos de uma forma equitativa.
Por outro lado, o projecto vai promover as variedades mais comuns da batata-doce, bem como as variedades com polpa alaranjada, que são ricas em vitamina A. As variedades da batata-doce, com polpa alaranjada, podem reduzir significativamente a deficiência de Vitamina A que ameaça cerca de 43 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos na região da Africa Sub-sahariana.
Refira-se que a deficiência de Vitamina A contribui para os elevados índices de cegueira, doenças e morte prematuras de crianças e mulheres grávidas. Para satisfazer as preferências dos consumidores e dos produtores, o projecto vai multiplicar e produzir uma vasta gama de variedades de batata-doce locais resistentes a seca e doenças. Particularmente, vai produzir variedades resistentes a larvas, que destroem entre 60 a 100 por cento das culturas de batata-doce durante a seca.
O projecto vai assegurar que os pequenos agricultores produtores de batata-doce tenham o acesso rápido ao material de plantio livre de doenças através do aumento da disponibilidade de mudas saudáveis. Também vai explorar sistemas inovadores para disseminar o material plantio de uma forma mais eficiente entre os agricultores que carecem de recursos, sobretudo as mulheres e suas famílias. Segundo o director do projecto, o Dr. Jan Low, “o CIP vai trabalhar com os cientistas locais, parceiros e entidades internacionais para assegurar a capacidade dos oito países beneficiários de produzir efectivamente a batata-doce em Africa para Africa”.