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Moçambicana vence Prémio CNN Jornalista Africano de 2011

Moçambicana vence Prémio CNN Jornalista Africano de 2011

No dia em que Moçambique comemorou 36 anos de independência, sexta-feira passada, uma jornalista e apresentadora moçambicana conquistou o mais prestigiado troféu do jornalismo em África, o Prémio CNN Multichoice Jornalista Africano, na categoria de Notícias Gerais de Expressão Portuguesa. Selma Marivate é o seu nome.

A reportagem vencedora é sobre o movimento Rastafari em Moçambique – foi produzida, e difundida, em meados de 2010 no programa Contacto Directo da TV Miramar – em que Selma leva o telespectador a uma viagem à sua cultura, explica-nos como vivem e fala-nos da filosofia de vida desta seita muitas vezes olhada com desconfiança pela sociedade.

“Selma soube encontrar nesta reportagem o balanço entre a objectividade e a criatividade. Uma história que começa por ser apenas interessante acaba por ser muito profunda e com muito trabalho investigativo”, comentou o jornalista da CNN Pedro Pinto, um dos membros do júri independente.

Linda e emocionada, a jornalista moçambicana recebeu o prémio no Centro de Convenções de Sandton, na cidade de Johanesburgo, na África do Sul, das mãos de Arlindo Lopes, também membro do júri independente.

Na cerimónia da gala, Selma começou por agradecer a Deus pelo prémio, não descurando o apoio do seu marido, dos seus colegas e da administração da TV Miramar – o canal de maior audiência em Moçambique – que tem dado suporte para que reportagens como estas possam ser produzidas e dedicou o prémio aos moçambicanos.

A grande vencedora

O Prémio CNN e Multichoice Jornalista Africano recebeu este ano, na sua 16ª edição, candidaturas de 42 países das quais foram seleccionados 27 em 16 categorias. O grande prémio da noite foi para a jornalista queniana Fatuma Noor com uma reportagem em que narra a sua aventura com um grupo de jovens que depois de viverem nos Estados Unidos da América decidem regressar a África para combater na Somália – um dos mais perigosos locais do mundo – ao lado do grupo islâmico Al-Shabab.

Uma reportagem que fascina quem a leia e impressionou o painel de jurados independentes, presidido por Joel Kibazo (jornalista e consultor de media) e que incluiu também Ikechukwu Amaechi (Editor, Daily Independent da Nigéria), Jean-Paul Gérouard (Chefe de Redacção Adjunto, France 3 TV) Ferial Haffajee (Chefe de Redacção, City Press da África do Sul), Arlindo Lopes (Ex-Secretário- Geral, Southern African Broadcasting Association), Zipporah Musau (Editor Geral, Revistas do The Standard Group Ltd no Quénia), Kim Norgaard (Chefe de Redacção da CNN na África do Sul) e o apresentador desportivo da CNN, Pedro Pinto.

Os outros premiados

Na categoria de Arte e Cultura, o prémio foi para o jornalista freelancer Kofi Akpabli, do Gana, que já havia vencido o mesmo troféu em 2010, e este ano impressionou o júri com uma história, publicada pelo jornal Daily Graphic, sobre uma bebida alcoólica quase tradicional no seu país, a Akpeteshie.

A cobertura de um assunto muito técnico de forma simples e atractiva valeu à jornalista egípcia Lamia Hassan, do jornal Business Today, o prémio na categoria de Meio Ambiente.

O prémio na categoria de Jornalismo Digital foi atribuído, pelo segundo ano consecutivo, à equipa do DispatchOnline da África do Sul, que criou e mantém em funcionamento um website sobre os problemas, sonhos e esperanças dos alunos e professores de uma pequena localidade na zona do Eastern Cape, Mbizana.

Na categoria de Desporto o troféu coube ao jornalista queniano Kamau Mutunga, da revista DN2, com um artigo sobre superstições no futebol do seu país mas com uma visão que transporta o leitor até França e Brasil.

Na categoria de Reportagens para TV o prémio foi para Lindile Mpanza, da ETV da África do Sul, que expôs de forma abrangente e clara um problema que aflige muitas pessoas pobres num dos países mais desenvolvidos do continente. Lindine passou muito tempo na aldeia para ganhar a confiança das suas personagens, jovens sequestradas e vítimas de abusos, e até conseguiu falar com um dos abusadores.

Na categoria de Saúde e Medicina o prémio foi para Oluwatoyosi Ogunseye, jornalista do Punch da Nigéria, com um bom artigo de investigação. Segundo o júri, “É jornalismo e activismo no seu melhor porque após a publicação da história algo foi feito para melhorar a situação retratada.

O prémio Notícias Gerais Impressas de Expressão Francesa o troféu foi para Rabin Bhujun com uma reportagem investigativa sobre a influência das castas familiares no sistema político das Maurícias.

Na categoria de Notícias Gerais TV/ Rádio de Expressão Francesa a vencedora foi a jornalista Claudine Efoa Atohoun, da Rádio ORTB do Benin, com uma reportagem cativante onde as técnicas de reportagens radiofónicas estão brilhantemente aplicadas.

O prémio da categoria de Turismo foi para Benon Herbet Oluka, do jornal Daily Monitor do Uganda, que num artigo bem documentado explica as razões que levam os ugandeses a não visitar os seus museus.

Muitas peças jornalísticas têm sido feitas sobre HIV/SIDA. Apesar de em muitas delas começar a parecer que já tudo foi escrito sobre o assunto, a jornalista Beryl Ooro, do canal televisivo K24 do Quénia, conseguiu fazer uma reportagem fascinante, apresentando uma perspectiva inteiramente nova que mostra que um grupo de idosos (octogenários), até então considerado fora de risco, também pode ser vulnerável.

O Prémio Fotográfico “Mohamed Amin” foi atribuído a um freelancer do Uganda. Norman Katende fez as imagens, que correram o mundo, das explosões que aconteceram no Uganda durante o Mundial de futebol.

Farouk Kayondo, do canal televisivo UBC do Uganda, conseguiu mostrar um outro lado da cidade de classe mundial, Johanesburgo, durante o Mundial de futebol e conquistou o prémio na categoria de Boletins Noticiosos de TV. Numa pequena vila pobre, os habitantes, mesmo sem energia, eléctrica viveram as emoções do torneio usando uma bateria de automóvel.

Um reportagem que consegue levar os ouvintes a sentir-se a andar e a presenciar crimes ignorados em Johanesburgo valeu o Prémio na categoria de Boletins Noticiosos de Rádio à jornalista sul-africana Melini Moses.

Na categoria de Economia e Negócios o troféu foi atribuído a Sylvia Chebet e Kimani Githae do canal televisivo Citizen do Quénia com uma reportagem que mostra que Economia não é apenas uma abordagem sobre números.

Os jornalistas contaram a história dos habitantes de uma localidade remota onde falar ao telemóvel os obrigava a caminhar muitos quilómetros e até subirem a um monte. Depois de exibida, uma empresa de telefonia móvel acabou por colocar uma antena melhorando a vida nessa localidade.

Liberdade de Imprensa

Todos os anos o júri do prémio CNN e Multichoice reconhece também os jornalistas que pelo seu trabalho em condições de enorme pressão, e contra forte oposição muitas vezes de grupos poderosos e mesmo governos, levam ao público informação importante sem se preocuparem com as consequências para a sua vida, através do Prémio de Liberdade de Imprensa. Em 2011 o galardoado foi Mahamud Abdi Jama, editor de um jornal independente e privado publicado da Somália, o Waaheen.

Mahamud foi condenado a três anos de prisão e multado devido a uma história sobre corrupção na Função Pública. Depois de o governo ser alvo de pressão, Mahamud recebeu um perdão presidencial e foi libertado depois de passar mais de um mês na prisão.

Como afirmam todos os jornalistas reconhecidos por estes prémios da CNN e da Multichoice, o troféu é um estímulo muito grande para as suas carreiras e um incentivo para continuarem o seu árduo trabalho. Mahamud acrescenta que depois deste reconhecimento já não tem medo de voltar a ser preso se tiver de escrever algum outro artigo.

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