A multinacional brasileira “Vale” anunciou, domingo, que tenciona implantar no distrito de Moatize, na província central de Tete, uma fábrica para a conversão de carvão mineral em combustíveis líquidos.
A referida fábrica terá como principal matéria-prima o carvão mineral, com alto teor de cinzas, produzido na mina de Moatize. Paralelamente, a Vale também tenciona instalar uma central térmica com uma capacidade para a produção de 300MW de energia eléctrica.“Nós vamos gaseificar o carvão com alto teor de cinza através de um processo que vamos desenvolver com um parceiro português e com uma empresa em Houston, nos Estados Unidos”, disse o presidente da Vale, Roger Agnelli, falando durante a cerimónia que marcou o início formal das actividades da mina, um evento que contou com a presença do estadista moçambicano, Armando Guebuza.
Participaram na cerimónia altos dignitários, entre os quais o antigo presidente da República, Joaquim Chissano. Agnelli acredita que a tecnologia que será usada no processo de conversão, também conhecida por “coal-to-liquid” é perfeitamente exequível na região de Moatize.
Para o caso concreto de Moçambique, este projecto terá um grande impacto porque vai reduzir a factura de importação de combustível, bem como mitigar o impacto ambiental da exploração de carvão na mina de Moatize.
“A mina vai produzir grandes quantidades de refugo, carvão com elevado teor de cinza, e se não fizermos nada teremos que colocar novamente esse carvão dentro da mina, algo que pode gerar inúmeros problemas”, explicou o director do projecto Vale Moçambique, Galibo Chaim.
Segundo Agnelli, a Vale é uma grande consumidora de combustível em Moçambique e no mundo inteiro. “Por isso, dá para sonhar, senhor presidente (Guebuza), com 300 milhões de litros de diesel por ano. O consumo das operações da Vale aqui em Moçambique será de aproximadamente 120 a 150 milhões de litros de diesel por ano”.
Feitas as contas, prevê-se um excedente de cerca de 150 milhões de litros de diesel que poderão abastecer o mercado nacional. O projecto será implementado através da subsidiária “Vale Soluções”.
O mesmo já se encontra numa fase muito avançada, e Agnelli acredita que dentro dos próximos meses deverá arrancar o estudo de viabilidade económica. A exploração do gás natural na Bacia do Rovuma, no norte de Moçambique, é outra área que está no foco das atenções da Vale.
“Eu também estou no Conselho de Administração da Anadarko e vibrei na hora em que eles confirmaram o tamanho do campo de gás descoberto. Mais de 10 TCFs (triliões de pés cúbicos) de gás natural”.
Refira-se que para além do seu consumo como combustível ou produção de energia eléctrica, o gás natural é o principal ingrediente para a produção de fertilizantes, necessários para o aumento da produção e produtividade agrícola, uma área que a Vale também tenciona apostar.
Recentemente, a Anadarko, uma companhia americana, que se encontra a fazer prospecção de hidrocarbonetos da Bacia do Rovuma, anunciou a descoberta de uma das maiores reservas do mundo de gás natural.
Os depósitos de fosfatos também estão na mira da Vale, através do Projecto Fosfato Evate, localizado no distrito de Monapo, na província de Nampula, norte do país, cujo início está agendado para 2015. Tudo isto levou Agnelli a declarar, repetidas vezes, a sua paixão por Moçambique.
“Moçambique é uma terra de oportunidades. É uma terra de gente boa. É uma terra com um governo democrático. É uma terra que tem um governo competente, que trabalha junto connosco apoiando e indicando qual é o caminho correcto que deve ser tomado. O que mais é que alguém pode pedir? questionou Agnelli.
“A aprendizagem da Vale em Moçambique foi muito grande, muito grande, que eu tenho convidado outros empresários brasileiros a investir em Moçambique”, disse ele, citando como exemplo o caso da companhia Camargo Correia que, recentemente, adquiriu uma fábrica de cimentos em Nampula.
Segundo o presidente da Vale, Moçambique também possui enorme potencial para a produção agrícola, razão pela qual afirma que o país está em excelentes condições para a apostar na área dos biocombustíveis. Em suma, disse Agnelli, “Moçambique é um mundo de oportunidades, mas é preciso sonhar, sonhar e sonhar sempre”.