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Mirossi: O rio que isola a escola de Nossaga

Mirossi: O rio que isola a escola de Nossaga

No povoado de Nossaga, distrito de Namacurra, província da Zambézia, localiza-se a Escola Primária de Nossaga, separada por um rio denominado Mirossi. Porém, os alunos, os professores e demais estruturas daquele estabelecimento de ensino são obrigados a atravessar o rio numa altura em que o caudal daquela corrente de água doce se encontra em maré alta. Durante o ano em curso, houve registo de duas vítimas mortais.

Quando chega o período chuvoso, os estudantes do povoado de Nossaga ficam isolados do estabelecimento de ensino, devido à subida do caudal do rio Mirossi, que separa aquele povoado da Escola Primária de Nossaga. Porém, como forma de desafiar as correntes das águas, eles são obrigados a atravessar o rio a nado. Essa situação afecta também aos docentes e a direcção da escola cuja maioria vive na localidade de Malei.

Além dos petizes, os professores igualmente atravessam o rio para cumprirem com os seus deveres. O @Verdade deslocou-se até aquele povoado para ouvir o drama por que passam diariamente as pessoas abrangidas pela situação. A professora Chude Francisco, de 24 anos de idade, residente na cidade de Quelimane, capital da Zambézia, conta as dificuldades que enfrenta para dar aulas ao longo da semana.

Chude Francisco avança ainda que a força de vontade e o amor à profissão são as ferramentas que aquela comunidade isolada da escola por um rio exige, uma vez que, para além de percorrer longas distâncias, ela é obrigada a atravessar aquele curso de água usando traje de praia.
A situação vivida naquele povoado obrigou os funcionários daquele estabelecimento de ensino primário a andar com uma muda de roupa. “O que vivemos aqui diariamente é constrangedor. Os petizes atravessam o rio com dificuldade devido à falta de uma ponte. Os funcionários que não vivem neste povoado são obrigados a trazer roupa alternativa. Aqui materializa-se o juramento que fizemos no dia da graduação”, refere a professora.
Porém, para os estudantes, aquela rotina tornou-se algo normal. Alguns nativos da região já estão habituados a essa situação, mas há quem não se conforme, como é o caso de Júnior Lázaro, de 12 anos de idade, estudante da quinta classe.
O rapaz acorda cedo para chegar a tempo à escola. Ele vive a cinco quilómetros do estabelecimento de ensino, levando consigo o seu uniforme e, sempre, muda de roupa do outro lado o rio.

Júnior Lázaro é um petiz que considera a situação um verdadeiro absurdo, pois os dirigentes gastam dinheiro em viagens, entre outras regalias. O rapaz é da opinião de que as estruturas governamentais deviam construir uma ponte, ou então transferir as instalações daquele estabelecimento de ensino para uma zona considerada segura e que não ficasse distante dos estudantes.

“O Governo não se importa com a população que vive nas zonas rurais. Eles têm condições para construir uma escola noutro local”, desabafou o menor cujo sonho é ser professor e académico de um estabelecimento de ensino superior.

Os prejudicados

O @Verdade soube da comunidade que, anualmente, são registados casos de estudantes que abandonam as aulas por não suportarem a situação, embora seja periódica. Dezenas de petizes contraem várias doenças por atravessarem, diariamente, aquele curso de água. A filaria é a mais abundante.

Os docentes são, muitas vezes, alvo de perda dos seus pertences. Diversos pedagogos perdem os seus telemóveis, carteiras e outros bens durante a travessia. Segundo algumas testemunhas, no passado mês de Março, houve relato de dois petizes que perderam a vida por afogamento quando tentavam chegar à outra margem do rio.

Situação cíclica

Jamal Sardinha é nativo de Nossaga e conta que tem acompanhado todos os casos relacionados com a travessia dos estudantes para a escola. Portanto, ele garantiu que a situação é frequente apenas na época chuvosa.

Segundo Sardinha, no Verão, o caudal tende a reduzir e as pessoas circulam livremente. “Esta é uma situação que se verifica todas as vezes que chove nesta região e o mais preocupante é a indiferença das autoridades governamentais perante este caso”, disse.

População pede a construção de uma ponte

A população de Nossaga, ouvida pelo @Verdade, pede ao Executivo moçambicano para que construa uma ponte ou que se transfira a escola para outro ponto, de preferência perto do povoado.

A Escola Primária de Nossaga, onde se lecciona até ao nível da quinta classe, foi erguida com base em material precário. A vedação é de pau e o tecto de capim. O estabelecimento comporta apenas três salas de aulas, e cada uma alberga mais de 50 estudantes, facto que dificulta o trabalho dos pedagogos.

Nos dias em que há registos da queda de chuva as aulas são interrompidas, pois nem os docentes nem os estudantes se fazem presentes na escola. Ou seja, as próprias condições físicas das infra-estruturas são impróprias para a ministração de aulas no período chuvoso.

 

 

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