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Ministro da Cultura homenageia Mia Couto

Na sua homenagem pela conquista do Prémio Camões 2013, além da insígnia, o ministro da Cultura, Armando Artur, expôs Mia Couto a um novo desafio: “O desenvolvimento do programa nacional, multissectorial, de leitura”. A boa nova é que o escriba continua subversivo em relação à ignorância: “Se não há livros não vale a pena haver prémios”.

Na quarta-feira, 10 de Julho, a elite intelectual e artístico-cultural do país, incluídos os amigos e familiares de Mia Couto, ‘inundaram’ o  pátio do edifício do Ministério da Cultura.

Armando Artur, que os convidou, queria que se testemunhasse a sua expressão de tributo ao segundo laureado moçambicano, depois de José Craveirinha, em 1991, pelo Prémio Camões.

Trata-se de um feito sobre o qual o Secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, Ungulane Ba Ka Khosa – que o felicita – pensa que “este prémio será devidamente valorizado pelo país, nas escolas e nos centros culturais em parceria com as entidades competentes”.

As possibilidades de as palavras de Ungulane estarem longe da realidade, ou seja, que não se valorize esta conquista no país, são diminutas, basta que se tenha em mente que Armando Artur define o prémio como “um feito e um testemunho troante de que a nossa literatura não está parada no tempo”.

No evento, para ilustrar o dito – ao mesmo tempo que se revela a interdisciplinaridade que a literatura possui em relação às outras disciplinas artísticas, nomeadamente o teatro e a música – o Grupo de Teatro Mutumbela Gogo, de que Mia é um dos fundadores, apresentou os Excertos do Firipe Barbudu, uma peça inspirada no seu texto.

A par de outros, no evento, estes foram os argumentos fundamentais que movem o ministro da Cultura a reiterar que a “a literatura moçambicana está em constante crescimento e constitui-se das mais robustas, não só a nível dos países falantes da língua portuguesa como também em África e no mundo”.

Depois de Octávio Raul declamar Para Ti, Roberto Chitsondzo, da Banda Ghorwane, também cantou sobre a diversidade étnica que constituí o povo moçambicano. Ambas as composições poéticas são de autoria do laureado.

Entretanto, se por um lado, a composição cuja interpretação emocionou os presentes, foi depreciada pelo autor que diz que “é uma música cuja letra – como se pode perceber – tem uma qualidade poética muito frágil, não me deixando orgulhoso, por isso”. Por outro, a obra é igualmente apreciada na medida que representa um feito colectivo. Ou seja, “juntos, fizemos alguma coisa”.

No entanto, como é que Mia Couto reage em relação ao Prémio Camões, assim como a esta singela homenagem que lhe foi prestada pelo Governo do seu país?

“É como se, de facto – sem desprimor nesta cerimónia generosa ou desconsideração pela que me foi oferecida fora do país – eu estivesse a receber o prémio pela primeira vez. É que aqui estão os meus amigos, a minha família, os escritores e os fazedores de cultura desta terra que são os meus colegas. Portando, o que eu sinto é que o maior galardão que eu tive não veio agora e muito menos em todos os que me foram entregues até agora. O meu verdadeiro prémio é aquilo que eu faço que foi representado aqui, de uma maneira sumária, por quem declamou e representou”.

Segundo Mia Couto para um escriba, o mais importante não  prémio, mas é o livro. “Apesar de toda a carga que vem das televisões que fazem um trabalho que respeito – ainda que não possa dizer o mesmo em relação ao seu apelo para que o artista corra atrás da fama e do sucesso – penso que o criador não faz o seu trabalho a fim de ser famoso”. Por isso, “eu não escrevo para ter prémios”.

 

Um desafio contemporâneo

Sabe-se, porém, que parte do dinheiro correspondente ao Prémio Camões será destinado a programas de assessoria dos jovens moçambicanos que se iniciam na literatura. Armando Artur, o ministro da Cultura, congratula-se com esta decisão de Couto.

Ora, se recordamos de que, como o próprio Mia Couto explica, “cheguei ao estágio actual porque havia livros na minha casa, existia amor para com os mesmos, sobretudo, porque para os meus pais os livros constituíam uma janela aberta para o mundo”; e constatarmos que o acesso ao livro – enquanto espaço de produção, publicação e consumo – ainda é deficitário em Moçambique, então, compreenderemos a decisão do premiado.

“O nosso grande prémio, agora, é fazer com que o livro seja mais acessível não só no preço, mas para que mais gente possa fazer  literatura e amar obras literárias”, diz e argumenta: “Se não há livro em Moçambique ou o mesmo está em risco de desaparecer, se não há esse amor criado em seu entorno, eu acho que não vale a pena haver prémios – sejam eles nacionais ou internacionais – em volta do escritor”.

É, portanto, “com  a aceitação desse repto – em torno da promoção da produção, acesso e  consumo do livro – que termino a minha intervenção”, disse Mia Couto.

 

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