A União Africana (UA) anunciou quinta-feira que a milícia antibalaka da República Centro Africana (RCA), que se tornou mais violenta após a ascensão ao poder do Presidente Michel Djotodja, declarou a sua dissolução imediata.
Segundo a UA, os responsáveis antibalaka iniciaram igualmente o desarmamento voluntário da milícia com a desmobilização inicial de 200 insurretos, que deixaram o bairro PK11 da capital, Bangui, a bordo de camiões para ir reencontrar-se com as suas famílias.
Esta decisão dos antibalaka coincidiu com o lançamento pelo Governo interino da Presidente Catherine Samba-Panza de uma campanha nacional de mobilização para a paz num país abalado por lutas intestinas desde o ano passado.
Os líderes dos antibalaka, Brice Emotion Namsio, Sébastien Wenezoui e o capitão Gilbert Kamezou-lai, que operavam sobretudo clandestinamente até ao presente, anunciaram a dissolução do grupo quinta-feira e encontraram-se com os combatentes de rua do grupo. Os rebeldes pediram aos seus apoiantes para respeitar a minoria muçulmana e permitir os seus membros deslocar-se livremente no país.
Segundo a UA, os responsáveis da milícia pediram igualmente perdão à população centroafricana pelas atrocidades cometidas pelo grupo no país. Estes últimos acontecimentos seguem-se à assinatura, em Brazzaville, de um acordo de paz a 23 de julho último, que fixou um novo roteiro de paz no país.
A Presidente Samba-Panza pediu aos rebeldes que abandonassem as suas exigências de uma divisão do país, insistindo no facto de que o país é indivisível e deve continuar unido. Ela defendeu que o Acordo de Paz de Brazzaville constitui uma fase decisiva para a paz no país. Os rebeldes deverão juntar-se às negociações em Bangui para instalar uma estratégia de reconciliação nacional e permitir que o Governo interino convoque « consultas alargadas ».
No entanto, os analistas insistem no facto de que a crise na RCA está longe de ser resolvida, apesar das declarações das milícias na negociação do Acordo de Brazzaville. As diversas fações estão a controlar partes do país e houve intensos confrontos após a assinatura do Acordo de Brazzaville.
O comissário da UA para a Paz e Segurança, Smail Chergui, declarou que os que perpetravam ataques unilaterais eram indivíduos membros de grupos de milicianos e insistiu no facto de que o acordo é um « bom início », ainda que os rebeldes continuem divididos.
Antes, o primeiro-ministro centroafricano, André Nzapayeke, pediu o levantamento do embargo militar sobre o país para permitir ao Governo armar as suas forças de segurança e garantir a segurança para as eleições de 2015.
A UA parece não estar muito entusiasmada por esta proposta, afirmando que o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que impôs o embargo em causa, só o levantará se achar que algumas condições estão reunidas.
A RCA está em crise desde março de 2013, quando os rebeldes cercaram a capital, Bangui, e destituíram o Presidente François Bozizé. Após a tomada do poder pelos rebeldes da coligação Séléka, estes contribuíram para o desabamento dum Estado frágil por uma série de ações, a pior sendo os ataques contra os cristãos na província do noroeste de Bozizé e contra os seus apoiantes.
A milícia cristã dos antibalaka mobilizou-se então e começou a atacar os muçulmanos, levando igualmente os civis atacarem-se uns contra outros, o que culminou na anarquia, enquanto o Governo de Transição nomeado em 2014 não tem estado à altura de controlar esta crise interna.