Milhares de furiosos manifestantes seguiram, esta sexta-feira (27), para o palácio presidencial do Afeganistão, motivados por alegações do candidato Abdullah Abdullah sobre a ocorrência de grandes fraudes durante as eleições presidenciais por parte de organizadores e autoridades públicas.
A disputa nas urnas, que colocou o ex-líder da Aliança do Norte contra o ex-ministro das Finanças Ashraf Ghani a 14 de Junho, caiu em descrédito depois da decisão de Abdullah de desistir da corrida.
O impasse reavivou as duradouras tensões étnicas no Afeganistão, porque a base de Abdullah é concentrada na população tajique, o segundo maior grupo étnico, ao passo que Ghani é pashtun, o maior grupo.
O embate também acontece numa época perigosa, com a insurgência do Taliban ainda presente e a maioria das forças lideradas pela NATO a prepararem-se para deixar o país no fim do ano.
Um membro da equipe de Ghani, o ex-candidato Daud Sultanzoy, disse, esta sexta-feira, que, baseado na informação de observadores eleitorais, havia uma previsão de ele vencer com 1,2 milhão a 1,3 milhão de votos a mais do que Abdullah.
“Não estamos a reivindicar nada, pois respeitamos a comissão eleitoral e esperaremos o anúncio oficial do vencedor”, disse ele. “No entanto, sabemos estar confortavelmente à frente”.
Os apoiantes de Abdullah marcharam pela capital Cabul e reuniram-se em frente ao palácio presidencial. Abdullah acompanhou a bordo de uma camionete, a agitar uma bandeira.
“O nosso adorado presidente é Abdullah Abdullah”, gritaram os apoiantes, com gritos adicionais a culparem o actual presidente, Hamid Karzai, pelo impasse político. Karzai está constitucionalmente proibido de concorrer pela terceira vez.
Abdullah acusou Karzai, governadores de províncias e a polícia de cumplicidade em esforços para manipular as eleições. Cerca de 15 mil pessoas participaram do protesto, de acordo com a polícia e testemunhas da Reuters.
Algumas demonstraram indignação ao destruírem cartazes de Karzai e gritarem palavras de ordem contra o presidente e a comissão eleitoral independente. “Queremos os mujahideen (guerreiros islâmicos) de volta. Não queremos tecnocratas e escravos de judeus e cristãos”, disse Badam Gul, um ex-combatente.
“Queremos justiça a qualquer custo. Houve fraude e isso é inaceitável para nós. Lutaremos pelo nosso direito até a última gota de sangue do nosso corpo.” A marcha foi amplamente pacífica e bem coordenada pelos organizadores. A maior parte dos manifestantes dispersou-se no final do dia.
Um alto representante da Organização das Nações Unidas no Afeganistão alertou para o risco de “prolongado confronto, com perigo de violência” num relatório ao Conselho de Segurança na quarta-feira, e pediu que Abdullah retornasse ao processo eleitoral. Abdullah apelou para que a ONU interviesse para salvar as eleições, solução também apoiada por Karzai.