Milhares de egípcios marcharam no Cairo e em outras cidades nesta sexta-feira para exigir a saída dos militares do poder e expressar a revolta pela morte de 17 pessoas em protestos nos quais tropas violentaram homens e mulheres, mesmo caídos no chão. Uma imagem em particular dos cinco dias de confrontos encerrados nesta semana causou a ira dos manifestantes: a de soldados arrastando uma mulher caída no chão, expondo o seu sutiã e torso, enquanto batiam nela. “Qualquer pessoa que a viu e viu a dor dela deveria vir a Tahrir”, disse Omar Adel, de 27 anos, sobre a praça no Cairo que tornou-se símbolo da revolução no país.
“Aqueles que fizeram isso devem ser julgados. Não podemos tolerar essa humilhação e abuso”. Alguns egípcios querem a realização de eleições presidenciais até 25 de janeiro, primeiro aniversário do início da revolução que depôs o autoritário presidente Hosni Mubarak. Os militares prometem realizar a eleição presidencial em junho. Mas outros egípcios dizem que nos 10 meses desde a queda de Mubarak, o Egito segue em desordem. Eles querem o fim dos protestos para permitir que a ordem seja restaurada e a economia volte a crescer.
A Irmandade Muçulmana, cujo partido lidera o processo de eleição parlamentar que começou em novembro e vai até janeiro, decidiu não participar do protesto de sexta-feira. O grupo apoia o cronograma militar da transição. Pela manhã, centenas de manifestantes já estavam na praça Tahrir, epicentro da revolta contra Mubarak, aos gritos de “Abaixo o regime militar” e “Abaixo o marechal”, numa alusão a Mohammed Tantawi, o chefe da junta militar. Uma enorme bandeira egípcia foi amarrada nos postes de luz do centro da praça.
No início da tarde, o protesto em Tahrir ainda era relativamente modesto na comparação com alguns dos grandes atos desde a queda de Mubarak. Na cidade de Alexandria, ao norte, milhares de pessoas marcharam a uma base do Exército, gritando: “Mulheres do Egito, levantem suas cabeças, vocês são mais nobres que aqueles que pisam em vocês”.
Outros pequenos protestos contra o tratamento às mulheres estavam sendo realizados em outras cidades no Egito, disseram testemunhas. O Exército disse lamentar a violência, e pediu desculpas pelo incidente com a mulher que foi violentada. Os militares disseram que o caso foi isolado e está sendo investigado.