Na verdade é um entreposto do diabo. Os Estados Unidos da América também tiveram que se aliar a Lúcifer para prosperar, incluindo alguns dos seus presidentes, que chegaram a entregar-se, sem olhar para trás, aos jogos de azar. E a América chegou onde está hoje por causa dessa audácia. Maxixe não será propriamente os Estados Unidos, mas o diabo está lá, de mãos dadas com o dinheiro. E não teremos a menor hesitação em dizer isso quando olhamos para um espaço onde o crime floresce a cada dia, mesmo com a Polícia à ilharga. Mas não é esta adversidade que vai parar uma cidade que se está a impor, e que cresceu muito nos últimos quinze anos, sob a batuta do presidente do município, Narciso Pedro, que teve de se arrojar, conciliando os tabus dos bitongas, matswas, chopis, ndaus e de outros, para hoje dizer, “saio de cabeça erguida, levei a Maxixe para um patamar nunca antes visto”.
Um dos grandes desafios do edil foi transformar os subúrbios – outrora – “guetizados”, em zonas urbanizadas, ou com condições para se urbanizarem. E conseguiu, em grande medida. Teve que enfrentar os donos dos terrenos e das benfeitorias que era preciso destruir para dar lugar a arruamentos. “Levamos quase um mandato inteiro em conversações com os munícipes afectados pelo reordenamento territorial. No princípio não compreendiam que o trabalho a ser feito beneficiaria a eles próprios. Foi muito difícil, mas como nós tínhamos a certeza daquilo que pretendíamos, batemos como água mole em pedra dura. E furámos. Tivemos muitas reuniões e, no fim das contas, todos estamos satisfeitos com o trabalho desenvolvido”.
Hoje os bairros da cidade da Maxixe ostentam uma melhor organização, não obstante quase todas eles carecerem de pavimentação. “Temos consciência disso. Uma cidade moderna não se compadece com ruas de terra batida, mas esse empreendimento exige avultados fundos financeiros, que neste momento não possuímos. Porém, sentimo-nos satisfeitos com o trabalho realizado. A abertura das ruas permitiu aos munícipes organizarem melhor as suas residências e outras infra-estruturas como lojas e barracas.
Se deflagrar um incêndio, o carro de salvação pública pode socorrer a situação com muito mais facilidade. Se houver necessidade de uma ambulância penetrar para socorrer um doente, já não encontra dificuldades. A movimentação dos cortejos fúnebres ganhou mais dignidade, o que não se verificava há quinze anos atrás. Por isso, podemos dizer com orgulho que durante o mandato que ora termina fizemos maravilhas”.
O trabalho, em termos de urbanização, não se cingiu apenas ao reordenamento dos subúrbios que já existiram, pois nasceram novos bairros. “É verdade, muitas pessoas que iam sendo afectadas pela abertura das ruas e outras intervenções foram movimentadas para novas zonas residenciais. Criámos um bairro de expansão, que é o nosso orgulho, onde os munícipes erguem as suas habitações de forma condigna. Pensamos que eles foram compreendendo com o tempo que era necessário obedecer aos ventos do desenvolvimento. E foi isso que nós fizemos”.
A própria cidade do cimento, que nos lembrava as ruas poeirentas dos filmes de Cowboy, está diferente. Irreconhecível, por ser mais atraente em termos urbanísticos. “Asfaltámos a avenida que é o espelho da cidade, paralela à Estrada Nacional Número Um (EN1). Todos nós estamos recordados de que aquele troço era todo ele de terra batida e hoje pode-se ver, sem muito esforço, que o trabalho desenvolvido não precisa de comentários. Os carros circulam numa boa estrada e, como se isso não bastasse, pavimentámos os passeios para dar dignidade aos peões”.
E edilidade asfaltou quase todas as ruas nevrálgicas da cidade, e outras foram revestidas com pavet. “Importa referir que o pavet colocado na rua do dumba-negue, numa extensão de um quilómetro e cem metros, foi fabricado aqui na nossa cidade, por uma máquina adquirida com fundos próprios. Apostámos em trabalhar para termos uma cidade moderna e está aí. Quem quiser confirmar os nosso feitos pode dar uma volta pela urbe para ver o que foi feito. Podemos ter cometido erros, isso é natural num processo tão complexo que é dirigir um município, mas as obras falam por si. Eu e a minha equipa quisemos que as pessoas se lembrassem de nós pelo nosso bom desempenho e penso, modéstia à parte, que vamos conseguir isso”.
Alguns dos erros podem ser encontrados nas construções feitas em zonas de protecção, ao longo da costa. “Sim, temos conhecimento desses problemas, que estão num processo de correcção. Devo ainda dizer que temos populações a viver nesses espaços e que precisam urgentemente de ser movimentadas para outros lugares, mas isso requer muito dinheiro, de que o município neste momento não dispõe. Temos consciência de que a nossa cidade precisa de ter aqueles espaços completamente livres”.
Abastecimento de água e energia
O abastecimento de água já foi um problema na Maxixe, hoje está quase ultrapassado. “Em relação ao nosso manifesto eleitoral, estamos a 90 porcento nesta área. Construímos 25 fontanários e 52 pequenos sistemas de abastecimento de água, que estão a beneficiar um universo de 51 mil munícipes. Expandimos a rede de distribuição de água canalizada em cerca de 50 km e este projecto está a beneficiar duas mil famílias que têm água nas suas casas. Estamos a falar dos bairros de Malalane, Macupula, Chambone A e B, Nhamaxaxa, Rumbana, Bato, Maquetela, Manhala, Barrane, Nhambihu e Bembe. Temos mais dois projectos para os bairros de Mangapane, Macuamene, Guigunine e Mabil, e até finais de Novembro esses conglomerados terão água em abundância”.
Em relação a energia o município tem quase todos os bairros electrificados. Neste momento está-se a trabalhar no bairro Bembe. As ruas já têm iluminação pública e esta encontra-se em processo de expansão para as residências. “Instalámos uma linha de alta tensão de Nhamaxaxa a Móngwè e neste momento estão a ser feitos trabalhos de colocação de postes para a ramificação de baixa tensão e até ao fim do mandato teremos os trabalhos concluídos. Cumprimos com o plano de electrificação dos bairros Agostinho Neto, Matadouro, Chambone 5, Bato, Malalane, Nhambihu, Macupula e Nhamaxaxa.
Nestes bairros os trabalhos foram concluídos e beneficiam 14.550 mil habitantes, contra 7.750 em 2008”. Neste mandato foram ainda construídas duas escolas primárias, uma no bairro Nhambihu-Baquetine, que lecciona a oitava classe, anexa à Escola Secundária 1º de Maio, ainda em Nhambihu.
“Construímos outra em Matadouro e importa referir que estes dois estabelecimentos foram completamente apetrechados com carteiras e secretárias para professores; edificámos seis salas de aula, um bloco administrativo e balneários. Adquirimos, à parte os apetrechos das escolas que construímos, 1.125 carteiras para 45 salas, que beneficiam 6.700 crianças. Construímos 27 salas e reabilitámos quatro em Muchiri e Malalane”.
“Na área da Saúde concluímos a construção do Centro de Saúde de Manhala, que tinha sido iniciado no mandato anterior e apetrechámo-lo, construímos um banco de socorro no Centro de Saúde da cidade da Maxixe, que assiste uma média de 350 pessoas por dia. Instalámos 16 núcleos de sensibilização dos munícipes para aderirem à testagem do VIH. Reabilitámos três centros e de saúde em Mabile, Bembe e Tinga-Tinga”.
Quanto ao saneamento do meio, a edilidade edificou no actual mandato 43 sanitários públicos, contra cinco planificados. “Desses sanitários, 36 foram construídos em escolas primárias, beneficiando 17.281 crianças. Fizemos 12 jardins e, desse número, dois foram adjudicados a privados, que cuidam da sua gestão. Neste momento estamos a proceder à construção de 270 latrinas melhoradas em Macupula, 270 em Malalane e 100 em Bembe. Em Macupula estão a ser feitas 190 em parceria com a FRISO, uma instituição italiana que nos apoia neste projecto. Para fortalecer o trabalho de saneamento foram adquiridos três tractores contra um planificado e quinze atrelados, dos oito que estavam previstos”.
Na área de infra-estruturas e urbanização foi construída uma estrada de 18 km que sai de Mabil a Bato, e 6 km de Bembe a Bato e asfaltada a avenida Eduardo Mondlane, paralela à EN1. “Neste momento estamos a 70 porcento de colocação de pavet na avenida Amílcar Cabral, num troço de 1.100 km. Construímos passeios numa área total de 24.000 km2. Estamos ainda a trabalhar em outros 6 mil quilómetros quadrados de passeios, tudo isso para dar conforto aos nossos munícipes que se movimentarem na cidade”.
O edil fala igualmente da demarcação de talhões. “Tínhamos planificado 1.300 parcelas e neste momento concluímos 1.200, o que nos leva a acreditar que até ao fim do mandato teremos atingido a meta. Fizemos o nivelamento de 10 km de estrada de terra batida. Reordenámos cinco bairros, designadamente Rumbana, Malalane, Nhambihu, Macupula e Matadouro e ainda o bairro Expansão em Mangapane”.
Foram também construídos pelo município cinco mercados em Macupula, Nhaguiviga, Mabili, Nhamaxaxa. No bairro Expansão está em conclusão. “Importa referir que edificámos novas instalações para o município da Maxixe, com dois pisos e quarenta e dois compartimentos. É aqui onde vão funcionar a Assembleia Municipal, o Conselho Municipal, e a direcção técnica. É uma obra feita com fundos próprios num orçamento avaliado em 16 milhões de meticais”.
Na área do desporto, Maxixe destacou-se ao sagrar-se campeão provincial por três vezes, durante o mandato de Narciso Pedro. “Formámos 65 árbitros em três cursos levados a cabo, realizámos cinco campeonatos recreativos e quatro festivais culturais. Participámos em quatro campeonatos provinciais de futebol de onze e ganhámos em 2011, 2012 e 2013. Construímos em 80 porcento o campo desportivo municipal.
Estão concluídos dois balneários, uma parte das bancadas e neste momento estão a decorrer obras de nivelamento do campo e a edificação da tribuna”. No tocante a segurança pública, a cidade da Maxixe tem, pela primeira vez na sua história pós-independência, uma viatura de bombeiros. “Adquirimos também um carro para a Polícia Camarária, construímos um posto policial e outro está ainda em obras no bairro de Nhaguiviga.
Comprámos cinco viaturas para os serviços do Conselho Municipal, adquirimos um camião basculante de oito toneladas, uma máquina para o fabrico de pavet, uma retro-escavadora e uma motoniveladora. E está em curso neste momento a construção de três morgues em Nhaguiviga, Mabil e Bembe, e um posto policial em Nhaguiviga. Estamos ainda a reabilitar o edifício actual do município e a residência oficial. Para além destes trabalhos encontramo-nos a erguer três edifícios onde vão funcionar as sedes distritais e uma infra-estrutura para a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional”.
O que ficou por fazer…
Narciso Pedro, embora saia de cabeça erguida, não encontra plena satisfação quando se lembra de que não conseguiu retirar as pessoas que habitam em zonas de máxima protecção, porque a operação acarretaria elevados custos financeiros. O problema da distribuição da água potável também ficou para aquém do desejável. Ainda é uma inquietação para os munícipes, para além de que alguns bairros continuam a precisar de uma intervenção com vista ao seu reordenamento. Mesmo assim, o que ficou por fazer não pode manchar um trabalho reconhecido pelos munícipes.
“Não é possível fazer tudo. Cometemos erros, é verdade. Mas trabalhamos e seremos julgados, com certeza, por aquilo que fizemos de bom, que não é pouco. Foram quinze anos coroados de êxito na Educação, saneamento do meio, arruamentos, abastecimento de água e energia eléctrica.
Entreposto do diabo
É voz comum que Narciso Pedro desenvolveu um trabalho assinalável na Maxixe. Trouxe uma imagem de frescura à uma cidade que não dorme, no sentido de que “exala” uma grande vitalidade. Maxixe é um centro económico que já não se abastece apenas a si mesma. Estende os seus tentáculos comerciais para os distritos da província, incluindo a cidade de Inhambane, que busca ali os produtos para revendê-los na capital.
É pela Maxixe que também o país passa, deixando tudo de bom e de mau que possui. A cidade não dorme e, se não dorme, a Polícia também não pode repousar. São reportados amiúde casos de crimes violentos, que envolvem armas de fogo e brancas. E há quem diga que todo esse turbilhão é provocado pela circulação do dinheiro e da aglutinação de pessoas de diversas origens. Que chegam à Maxixe por causa dessa mola de impulsão.
Basta olhar-se para o dumba-nengue para estar tudo claro. As lojas formais, de um modo geral, são relegadas para segundo plano. E as poucas que funcionam fazem-no sem muitos clientes. Mesmo assim a urbe está abarrotada de gente. Que circula sem parar desde o amanhecer até a noite. Aos sábados a adrenalina parece aumentar. O parque automóvel está a atingir níveis nunca antes registados e o trânsito está a precisar de outro controlo.
O troço da Estrada Nacional que passa pela cidade da Maxixe, por vezes torna-se num corredor de morte. Uma e outra vez regista-se um acidente fatal, provavelmente por falta de semáforo para refrear a velocidade dos automobilistas e proteger vidas humanas. A ponte-cais que serve os utentes que precisam de atravessar todos os dias para a cidade de Inhambane está em perigo e, se não houver uma intervenção urgente, amanhã podemos ter casos lamentáveis.