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Maus espíritos interferem no diagnóstico da malária em Moçambique

No distrito de Chókwè, na província de Gaza, apesar de a malária ser considerada uma “doença do hospital”, parte da população acredita que recorrer aos curandeiros e pastores de igrejas ajuda a “livrar-se” dos maus espíritos para facilitar o diagnóstico da doença, defendeu esta terça-feira (15), em Maputo, a doutoranda do Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal, Ana Rita Sequeira.

“Por vezes as pessoas vão e fazem análises que dão negativo e dizem para ir ao curandeiro dar banho com sangue de galinha misturado com remédio que se esfrega em todo o corpo”, testemunho de um curandeiro de Chókwè, entrevistado pela pesquisadora.

Segundo a lusitana, a com a introdução dos Testes de Diagnósticos Rápido (TDR) da malária, entre 2008 e 2009, surgiram novos conhecimentos e práticas por parte da comunidade estudada na medida em que viram negadas as suas expectativas de terem malária, quando os sintomas que sentiam lhes indicavam que “isto só pode ser malária”.

Ao obterem um resultado negativo no TDR e não lhes serem prescritos anti-maláricos, vários entrevistados referiram que a presença de maus espíritos no seu corpo estava a ocultar o resultado correcto. Neste sentido torna-se importante agir sobre a esfera espiritual, juntos dos curandeiros e pastores de igrejas, para purificar o corpo dos maus espíritos, e só depois dirigir-se ao Centro de Saúde, de acordo com o estudo realizado durante cerca de dois anos em Chókwè.

“O que tem acontecidos sempre quando a pessoa vai ao hopital é fazer análises e não acusar nada, pode ser por causa de maus espíritos. É por isso que antes de ir ao hospital faço orações e mando a pessoa para o hospital”, disse um dos pastores de igrejas entrevistados em Chókwè.

No distrito de Chókwè, na província de Gaza, por exemplo, as comunidades identificam o mosquito como o principal causador da malária, apesar de existirem igualmente indivíduos que acreditam que a malária resulta dos alimentos que consomem, do cansaço em consequência de trabalhos pesados, do feitiço, dentre outros males, de acordo com a estudiosa.

No seu estudo, Ana Sequeira constatou, também, que existem vários provedores de cuidados de saúde no distrito em causa, e há uma falta de interacção entre todos estes actores. A pesquisadora, que dissertava num seminário sobre “A introdução dos Testes de Diagnóstico Rápido da malária em Moçambique: entre os maus espíritos e uma autoridade biomédica incerta” na Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

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