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Matança de elefantes aumenta na Reserva do Niassa, mais de 100 mortos desde Janeiro

Matança de elefantes aumenta na Reserva do Niassa

Foto da NCAA caça furtiva do elefante recrudesceu na Reserva Nacional do Niassa, entre Janeiro e Novembro pelo menos 93 animais foram mortos naquela que é a maior área protegida de Moçambique. Na semana passada mais 14 animais foram assassinados, esta semana outros três paquidermes foram abatidos por caçadores furtivos especializados e equipados com metralhadoras e ainda armas de grande potência e de precisão que não encontram oposição nos poucos fiscais que só podem usar espingardas “espera pouco” e têm limitação de munições. Dos 2 mil a 5 mil elefantes que existiam em 2016, o @Verdade apurou junto de operadores das Coutadas Oficiais e Fazendas do Bravio na Reserva que existem actualmente entre 1.200 a 1.600 animais.

Na manhã da terça-feira da semana passada operadores de uma das Coutadas Oficiais, localizada na região leste da Reserva, escutaram três tiros disparados por uma arma de grande calibre a poucos quilómetros. Enquanto uma equipa dos seus fiscais correu para uma das viaturas e começou a dirigir-se para a região de onde se ouviram os disparos o gestor da concessão colocou-se no ar, num pequeno avião que possui, e cerca de 40 minutos após os tiros terem sido disparados identificou o local do ataque onde jazia um elefante morto já sem os seus marfins. Nem sinal dos caçadores ilegais.

Esta semana, na terça-feira(12), os fiscais de mesma Coutada Oficial ouviram tiros vindo de uma região identificada por “Misosa”, próximo a vila de Mbamba. Prontamente acorreram ao local, cruzando o rio Lugenda, e chegaram ao local do ataque onde jaziam dois elefantes adultos, sem os marfins, e um terceiro mais jovem.

Nos últimos 15 dias ataques similares repetiram em outras regiões próximas ao rio Lugenda, ao todo foram localizados 14 elefantes abatidos. Somente um dos caçadores furtivos foi apanhado e encaminhado às autoridades.

Contudo quem trabalha nas Coutadas e nas Fazendas do Bravio não tem ilusões, o furtivo muito brevemente estará solto e voltará a atacar, como se tem repetido nos últimos 8 anos.

Ministério do Interior impede ANAC de armar melhor os seus fiscais

Além da fraqueza da Justiça, que a mais próxima só existe há dezenas de quilómetros na sede distrital de Mecula, o reduzido número de fiscais da Administração Nacional das Áreas de Conservação(ANAC) ainda por cima mal equipados, apenas usam espingardas, são opositores frágeis para os caçadores furtivos que têm muito mais experiência, alguns deles antigos militares, e aparecem munidos de metralhadoras e armas de grande calibre e precisão.

O @Verdade sabe que embora a ANAC tenha conseguido financiamento externo para adquirir melhores armas para os seus fiscais há mais de um ano que “luta” com o Ministério do Interior para poder dispor desse equipamento.

Além disso enfrenta também dificuldades para adquirir munições quando se sabe que muitos dos furtivos obtém o parte do seu armamento, nomeadamente as metralhadores AK-47, de oficiais da Polícia da República de Moçambique.

O @Verdade contactou o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, assim como a ANAC, para apurar o que realmente se passa neste “braço-de-ferro” com as autoridades policiais que parecem beneficiar os infractores mas até ao fecho desta edição nenhuma das entidades mostrou-se disponível para comentar.

O @Verdade apurou que as restrições de uso de armamento por parte do Ministério do Interior são extensivas aos fiscais que trabalham nas Coutadas Oficiais e nas Fazendas do Bravio que só são autorizados a portarem uma espingarda, vulgarmente apelidada “espera pouco”, e rifles.

Para os 151 fiscais, que trabalham para os operador faunístico privados que têm concessões só em 30% da Reserva, apenas foram permitidas 37 espingardas e 7 rifles pelo Ministério do Interior em 2017, um convite evidente aos bem armados caçadores furtivos.

93 elefantes abatidos em 11 meses só num terço da Reserva do Niassa

Foto da NCADados compilados por Organizações Não Governamentais que operam as Coutadas Oficiais e nas Fazendas do Bravio, e que o @Verdade teve acesso, mostram a carnificina que está acontecer.

No dia 3 de Janeiro de 2017 dois elefantes machos adultos foram abatidos no bloco L7 nas coordenadas -12,37085 de Latitude e 37,71254 de Longitude. Dois dias depois um outro macho foi encontrado morto no mesmo Bloco nas coordenadas -12,34251 de Latitude e 37,78332 de Longitude.

No dia 16 de Janeiro dois outros machos foram assassinados no bloco L7 nas coordenadas -12,27959 de Latitude e 37,86651 de Longitude e outro foi encontrado nas coordenadas -12,28189 de Latitude e 37,86596 de Longitude. Dois dias depois uma fêmea foi abatida na mesma área, nas coordenadas -12,29421 de Latitude e 37,78640 de Longitude.

Ainda em Janeiro, no dia 20, dois machos foram mortos no bloco L7, nas coordenadas -12,22292 de Latitude e 38,03635 de Longitude. No dia seguinte um outro paquiderme foi assassinado no bloco L5N, nas coordenadas -12,12715 de Latitude e 38,29745 de Longitude.

Foto da NCAA lista é longa, e reporta a matança que aconteceu ao longo de onze meses de 2017: 93 elefantes abatidos apenas numa secção de 11.852 quilómetros quadrados da Reserva Nacional do Niassa que tem 42 mil quilómetros quadrados.

O apetite dos caçadores furtivos pelos elefantes das Áreas de Conservação existentes nas províncias do Niassa e Cabo Delgado é estimulado pelo crime organizado que tem na China os seus principais clientes e que também fazem uso da permeabilidade existente no Porto de Pemba para a exportação do marfim em quantidades industriais.

Uma investigação da Agência de Investigação Ambiental(EIA, acrónimo em inglês) expôs um dos grupo de cidadãos chineses que dominam o tráfico ilegal de marfim a partir do nosso continente para a Ásia e têm preferência pelo porto da capital de Cabo Delgado.

“Francamente, é mais fácil fazer este negócio em Moçambique … é mais fácil de operar. Na Tanzânia, nem pense nisso. Podemos mover qualquer coisa através da Pemba. Todos estão comprados”, confessou um dos traficantes aos investigadores da EIA.

As “encomendas” destes criminosos, que não foram detidos, são geralmente de 2 a 3 toneladas de marfim que é traficado em contentores. Para atingir essa quantidade de dentes é preciso assassinar entre 50 a 100 elefantes, e a carnificina está acontecer na Reserva Nacional do Niassa com a conivência de moçambicanos, cidadãos e autoridades.

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