No último domingo, Dia Internacional da Mulher, cerca de 250 pessoas, na esmagadora maioria mulheres, iniciaram uma marcha para chamar a atenção contra a violência doméstica exercida sobre o sexo mais fraco. A história de Teresa, uma jovem recentemente assassinada pelo namorado, saiu à rua estampada nas t-shirts dos participantes como símbolo da violência contra as mulheres.
A concentração iniciou-se no Circuito de Manutenção António Repinga na baixa de Maputo e teve como destino a Praça da Independência, onde ao centro, sob o olhar austero e magnânimo do edifício do Conselho Municipal, uma ferrugenta pomba de ferro simboliza aquilo que muitas daquelas mulheres anseiam: Paz.
No tronco daquela multidão que avançava pela Avenida Samora Machel acima podia distinguir-se nas T-shirts brancas o rosto estampado de Teresa de Jesus Lucas Nhanajabo, uma mulher que aos 34 anos foi barbaramente assassinada pelo seu namorado. “Tomámos a Teresa como exemplo, pretendemos que ela hoje simbolize a nossa luta”, refere Graça Samo, Directora Executiva do Fórum Mulher que, com o apoio da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), do Conselho Cristão de Moçambique e de outras associações, organizou a iniciativa. “Nós, como forma de clamar o não à violência e à impunidade, trouxemos para a rua a história da Teresa, unindo-nos às vozes do todo o mundo para dizer basta à violência. Pela igualdade de direitos”, sintetizou Graça Samo.
Zimbabwe em destaque
Os inúmeros cartazes e faixas empunhados apelavam ao fim à violência contra as mulheres, um problema, segundo os organizadores, muito grave nas sociedades dos países da região “onde os direitos das mulheres são ainda muito espezinhados”, de acordo com uma das participantes. Uma delas apelava à solidariedade com as mulheres do Zimbabwe, país que está a atravessar uma enorme crise político-social que tem nas mulheres, nas crianças e nos idosos as principais vítimas. “As mulheres do Zimbabwe, estão a sofrer muito com a crise. Nestas alturas muito difíceis quem escapa melhor à crise é o mais forte, neste caso o homem. Hoje, no Zimbabwe, as mulheres grávidas encontram os hospitais encerrados quando querem dar à luz e os que estão abertos não possuem quaisquer meios para as socorrer. O leite para alimentar os bebés é uma miragem”, explica Graça.
Gays solidários
Solidários com a luta das mulheres estavam igualmente activistas da LAMBDA (Associação Moçambicana de Defesa das Minorias Sexuais) que orgulhosamente exibiam a bandeira do arco-íris, símbolo da resistência gay. “Associamo-nos a esta marcha e ao Dia da Internacional da Mulher porque também sofremos [homossexuais e lésbicas] violência nas nossas casas e a maior parte dela nem é retratada. Sofremos violência física mas sobretudo psicológica. O associativismo neste país ainda é muito fraco”, esclarece Danilo da Silva o coordenador da LAMBDA. “Nascemos em 2006 e estamos, aos poucos, a crescer. Esperamos daqui a algum tempo alcançar níveis de intervenção maiores. Temos 150 membros a trabalhar connosco incluindo gays, lésbicas e simpatizantes. Possuímos delegações em Maputo, Beira e Nampula. A sociedade Moçambicana ainda é muito fechada mas nós queremos trazer este assunto à discussão pública. Temos trabalhado muito com as mulheres femininistas” refere Danilo.
Em busca de
reconhecimento jurídico
Já com as participantes concentradas junto ao Conselho Municipal Graça Samo tomou a palavra. “Estamos aqui por três razões fundamentais: solidariedade contra a violência em geral mas particularmente com as mulheres e crianças do Zimbabwe que são os grupos que mais sofrem com conflito político-social que grassa naquele país, unindo-nos a uma campanha da região; a segunda razão é apelarmos para o fim da nossa violência doméstica e para mostrar isso tomámos a Teresa como símbolo da nossa revolta; e a terceira razão é recordar aos nossos parlamentares que temos uma proposta de lei entregue no parlamento à espera de aprovação, de modo a que o crime de violência doméstica seja considerado um crime público. Que qualquer cidadão moçambicano que acompanhe um caso de violência doméstica seja possível servir-se das instâncias da Justiça para reclamar. Queremos que a lei contra a violência seja aprovada considerando os princípios nacionais, regionais e internacionais dos direitos humanos e particularmente dos direitos humanos das mulheres”, concluiu.
Já no final, com a derradeira claridade do dia a ceder lugar à noite, Dalmira do Rosário, irmã de Teresa, leu emocionada uma mensagem de amor à irmã, acabando por deixar todos com uma lágrima no canto do olho.