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Marcelo Panguana lança “livro maldito”

O escritor moçambicano, Marcelo Panguana, acaba de lançar um novo livro: “Como um Louco ao Fim da Tarde”. No seu prefácio, Suleimane Cassamo define a obra como “o livro maldito” porque, na sua essência, transmite “a dimensão do holocausto individual que somos capazes de viver perante a iminência do fim”.

A nova obra literária não é um tratado sobre a vida dos moçambicanos, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Marcelo Panguana põe à prova a sua capacidade narrativa ao contar, no seu peculiar estilo, uma história de que todos conhecemos a música e alguns fragmentos da letra. Aliás, no seu prefácio, Suleimane Cassamo refere que o romance “Como um Louco ao Fim da Tarde” não é um livro de palavras, mas sim de sentimentos, momentos e circunstâncias.

“É como um espelho que nos confronta com o lado obscuro e recalcado das nossas existências”, diz, referindo que, ao sair da leitura deste livro “não sabemos se não estaremos também loucos. Ou demasiadamente atordoados pela crueza das realidades que a pena panguaniana nos descreve…”,

O livro

Depois que se sabe infectado pelo cancro Sebastião, o personagem principal, leva a sua vida até ao abismo. Aliás, uma “doença de brancos” que no imaginário popular e no entender do funcionário público zeloso, do marido respeitoso e do neófito boémio que transforma, depois disso, os bares da cidade numa extensão do seu próprio corpo. Mas isso foi depois, antes, no gabinete do médico, “Sebastião permaneceu frio no seu lugar. Como se o médico tivesse acabado de informar que (…) trazia no seu corpo a doença mais inofensiva que existia no mundo. O problema para Sebastião, digase, não estava na doença, mas sim nos seus antepas- sados, os espíritos rongas, que permitiram que essa maldição tomasse conta de um dos seus filhos. Por isso questionou: “O cancro não era, afinal, uma doença dos brancos?”

Tudo parte justamente do cancro e das interpretações que cada um faz das atitudes de Sebastião, a mulher não sabe do que se trata, para Salomé o problema era uma mulher. Efectivamente, numa das passagens Luana, qual costela de Sebastião, quis saber da razão do silêncio do marido, mas este, homem capaz de guardar um segredo por toda a vida exilou-se, como se tinha tornado hábito, no silêncio. A partir deste episódio, Sebastião, Luana, o poeta João Madruga, a vendedeira de peixe Salomé, o grande mestre Mussassa, e o profeta charlatão Mudimba “dão vida a esta história de desencontro, de peregrinação por lugares bem conhecidos, bairros e bares de fama, altares da noite de Maputo. Esses lugares de luzes e estridência, mas também outros onde a vida oculta de muitos acontece no silêncio.”

Tal como nos anteriores livros, o autor não recua diante de nada nem procura subterfúgios no momento de abordar o que, durante anos, em todas as famílias e lugares de convívio foi considerado intocável e não nomeável. Esse objecto de análise no livro é a vida obscura e o conjunto de normas e preceitos que os homens estabelecem em torno da vida em sociedade para exigir a si mesmos – ou talvez seria melhor dizer para exigir aos outros – uma moral inquebrantável e absoluta, em que tudo se justifica, desde negar-se a si mesmo até à extenuação.

Este livro agarra-nos, digoo porque o li, sacode-nos, faz-nos pensar: aposto que quando o terminardes, quando fizerdes o gesto de o fechar sobre os joelhos, olhareis o infinito, ou cada qual o seu próprio interior, soltareis um uff que vos sairá da alma, e então uma boa reflexão pessoal começará. “Como um Louco ao Fim da Tarde” foi lançado no dia 30 de Junho pela Alcance Editores no Instituto Camões e a partir de Agosto estará à venda nas livrarias em Moçambique.

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