Parte da população residente na cidade de Maputo, a capital moçambicana, pediu Sábado ultimo ao Governo para que o Estado volte a prestar os serviços funerários. Segundo a população, a medida resgataria o valor da vida humana alegadamente desprezada pelos operadores privados deste ramo.
A preocupação foi colocada ao Ministro da Saúde, Ivo Garrido, durante um encontro que manteve com parte dos residentes da cidade de Maputo, cujo objectivo era analisar o funcionamento do Sistema Nacional de Saúde (SNS). “Estamos a pedir que o Estado assuma os serviços funerários porque as agências privadas não respeitam a vida humana”, disse Gaspar Chuma, uma das pessoas que falou sobre esta questão.
Ele sublinhou que “até quando não há muitas mortes, chegam a dizer que hoje estamos mal porque não há movimento”. “Não é que não vamos morrer, mas temos que ter algum respeito pela vida humana”, disse Chuma, cidadão residente no bairro suburbano de Xipamanine, um dos mais populosos da capital moçambicana. Gaspar Chuma não é a única pessoa que manifestou preocupação em relação as agências funerárias, actividade que, a semelhança de outras, passou para a responsabilidade do sector privado depois da liberalização da economia.
Alguns participantes acreditam que algumas agências funerárias “trabalham” em conexão com os trabalhadores dos hospitais, a quem procuram saber sobre a existência ou não de mortos para alimentar o seu negócio. Outras pessoas acreditam que, eventualmente, os agentes da saúde são pagos para acelerar a morte de doentes.
“A vida das pessoas tornou-se num negócio … se esses serviços passarem para o Estado ninguém estará interessado em haver mortos para fazer o seu negócio”, disse Naramo Charrife. Ainda neste encontro, a população apresentou diversas preocupações relacionadas com o mau atendimento de doentes nas unidades sanitárias, mau estado dos cemitérios, bem como sobre a existência de muitos corpos enterrados em valas comuns. Entretanto, a população também reconhece que houve melhorias significativas na prestação de serviços de saúde ao público, facto mais evidente nos últimos cinco anos. Um dos principais exemplos dessa excelência é o Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária do país, onde agora não se fica muito tempo esperando pelo atendimento.
Na sua intervenção, Ivo Garrido disse ter consciência que os serviços de saúde melhoraram nos últimos anos, mas adiantou que isso não significa estar “tudo bem”. Por isso, ele sublinhou que os trabalhadores de saúde não devem ficar descansados porque o seu desempenho melhorou. Eles devem procurar melhorar alguns aspectos ainda críticos. Garrido prometeu que as preocupações apresentadas na ocasião seriam analisadas de modo a se encontrar soluções. Contudo, ele adiantou que o problema das valas comum também resulta do desleixo das famílias, ao abandonar doentes ou corpos dos seus parentes nos hospitais.
“Nós estamos a abandonar os nossos familiares nos hospitais e não procuramos saber se eles ainda estão vivos”, disse o Ministro, reconhecendo que nos últimos tempos tem estado a aumentar o número de corpos enterrados em valas comuns. Na verdade, a situação actual dos cemitérios da cidade de Maputo deixa muito a desejar. Em Agosto do ano passado, o Vereador municipal para a Salubridade e Cemitério, Florentino Ferreira, classificou esta situação de “terrível e mais preocupante ainda quanto aos cadáveres abandonados que depois são levados a vala comuns”.
Segundo ele, em média, entre 120 e 140 corpos são enterrados em valas comuns por semana. Só no primeiro trimestre do ano passado, as autoridades municipais enterraram cerca de 900 corpos abandonados na morgue e na via pública.