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Mãos limpas chega a Conacri

 

“Todos os que comeram à conta do Estado vão vomitar. Nós não tomámos o poder para a diversão continuar”, previne Moussa Dadis Camara, um dos mais altos responsáveis da Junta Militar que recentemente tomou o poder na Guiné Conacri. “A grande limpeza começou.”

Efectivamente, a Junta acaba de lançar, sem delicadeza, uma operação de recuperação de créditos estatais. Homens de negócios, directores de empresas públicas ou antigos ministros, ninguém irá escapar, já preveniram os novos responsáveis do país. Treze sociedades de serviços públicos foram convocadas no dia 22 de Janeiro para o campo AlphaYaya-Diallo a fim de serem auditadas. Em todo, estão em causa 125 milhões de dólares a serem recuperados pelo Estado.

Alguns já provaram os métodos de recuperação de quantias por parte dos militares, como foi o caso da companhia de telefonia móvel Intercel, que a 19 de Janeiro liquidou uma dívida de 588.000 dólares. Para conseguir os seus intentos, a Junta não hesitou em montar guarda à casa do director-geral da sociedade, Djibril Tobe.

Ninguém escapará

A ‘bagatela’ de 17 milhões de Francos guineenses (FG) foi reclamada por parte dos militares aos homens de negócios Super Bobo, Alseny Barry, Elhadj Mamadou Sylla, Sylla Mariador Guelguedji Barry e Alpha Amadou Diallo “a título de liquidação do ‘Banque International pour l’Afrique en Guinée’ (BIAG).” A Companhia dos bauxites de Kindia (CBK) e a Alumina Company Guinée (ACG) foram igualmente convidadas a pagar respectivamente 16 milhões 67 milhões de FG de correcção fiscal. O ex-director do protocolo da presidência, Idrissa Thiam, por seu lado, teve de reembolsar o Estado em 40 milhões de Dólares provenientes de um fundo kuwaitiano. Várias personalidades do regime de Lansana Conté, o ex-presidente recentemente falecido, foram também visadas, como foi o caso de Baïdy Aribot, ministro da Juventude e dos Desportos à época da participação no CAN 2008 em Acra, e de Ousmane Doré, ex-ministro das Finanças e presidente do comité de organização dos festejos dos 50 anos de independência do país. Este último deverá explicar onde foram parar os fundos que fizeram deste acontecimento um verdadeiro fiasco, apesar do orçamento de 25 milhões de FG. Doré não é o único visado no caso do cinquentenário. Muitas outras personalidades de primeiro plano à época dos festejos vão “explicar-se” diante do Comité. Isto irá contribuir para que se faça luz sobre as contribuições exteriores que desapareceram. Trata-se de doações dos presidentes senegalês Abdoulaye Wade (762 mil euros), do presidente da Guiné Equatorial, Obiang Nguema (500 mil euros) e do gambiano Yahya Jammeh (390 mil euros). As investigações recaem igualmente sobre importantes somas extorquidas às cinco sociedades de telefonia móvel instaladas no país.

Redes de telefonia móvel visadas

As operadoras de telefonia móvel irão, também, ter de prestar contas. A segunda diligência do comité é, com efeito, dedicada à recuperação do crédito do Estado sobre as companhias do sector. A Junta conta igualmente harmonizar o preço da licença (Areeba e Cellcom pagaram 30 milhões de euros enquanto que a Orange só desembolsou 21 milhões de euros). Após isto, o comité atacará outros seis grandes sectores: as alfândegas, os impostos, o Tesouro Público, os mercados públicos, o fundo de estradas e a Sociedade de Telecomunicações da Guiné (Sotelgui) verdadeiros viveiros de corrupção. “Ninguém estará a salvo. Todos os que devem dinheiro ao Estado vão pagar. Os que roubaram serão punidos. A brincadeira terminou”, assegura Sélouba Konaté, o novo general da brigada.

 

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