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Manuel Vicente, o homem mais influente de África

Manuel Vicente

O líder da empresa angolana de petróleo, Sonangol, é um dos candidatos a sucessor do Presidente José Eduardo dos Santos. Conquistou o pódio dos negócios em África, mas a partir de 2012 pode dedicar-se à política.

Manuel Domingos Vicente “já não é só um importante luandense, nem apenas um dos três homens mais poderosos de Angola. É, provavelmente, um dos gestores mais influentes de África. E isso acontece por causa do reconhecimento que tem nos EUA”. Esta apreciação sobre o presidente da Sonangol é obviamente subjectiva. Foi feita por um jurista que conhece o percurso do líder da petrolífera estatal angolana, agora tido como um dos possíveis sucessores do Presidente angolano José Eduardo dos Santos – a partir de 2012.

No entanto, não se trata de uma opinião isolada. É partilhada por banqueiros, políticos e quadros superiores que mantêm ligações a Angola. Ainda assim, fazem um reparo complementar ao perfil de Manuel Vicente: em Angola, a experiência demonstra que a teoria política funciona ao contrário. Ou seja: o que parece não é.

Mesmo com essa ressalva, ninguém nega uma evidência: Manuel Vicente mantém-se há vários anos dentro do grupo dos homens mais poderosos de Angola. Nesse patamar encontra- se Carlos Feijó, ministro de Estado e chefe da Casa Civil da Presidência angolana (responsável pela nova Constituição), e o próprio Presidente Eduardo dos Santos (que lidera este trio).

Passagem pelo Benfica

Manuel Vicente nasceu em Luanda a 15 de Maio de 1956. É enquadrado numa realidade social que corresponde ao perfil da classe média da capital angolana da década de 50. Mostrou muito cedo “grandes aptidões desportivas e chegou a jogar futebol no Benfica de Luanda”, observa um consultor sénior que acompanhou o percurso do presidente da Sonangol. Formou-se em Engenharia pela Universidade Agostinho Neto e seguiu o percurso dos quadros superiores do partido do poder.

De 1981 a 1987 chefiou a divisão de engenharia da Sonefe – Sociedade Nacional de Estudos e Financiamento. De 1987 a 1991 dirigiu um departamento técnico do Ministério da Energia e Petróleos. Entra depois na Sonangol onde está há 22 anos, 12 dos quais como presidente. É igualmente consultor do GAMEK – Gabinete de Aproveitamento do Médio Kwanza (do sector eléctrico), é vice-presidente da Fundação Eduardo dos Santos e presidente da Unitel.

Foi o “seu natural bom senso, a argúcia estratégica para detectar oportunidades e a capacidade de liderar equipas e projectos que, segundo um ex-banqueiro português, permitiram que Manuel Vicente transformasse a Sonangol num conglomerado económico.

“A Sonangol sempre teve quadros de grande qualidade e responsáveis máximos de prestígio, mas Manuel Vicente conseguiu marcar a diferença”, comenta um gestor do sector petrolífero.

Entre os anteriores responsáveis da Sonangol, nem Hermínio Escórcio (hoje diplomata), nem Desidério Costa (com responsabilidades governamentais na área dos petróleos), nem Albina Africano (assessora especial do Presidente angolano), e nem Joaquim David (ministro da Indústria), “nenhum deles ficará na história económica angolana com a mesma projecção que terá Manuel Vicente, independentemente do que possa vir a ser a sua futura carreira política”, refere o gestor.

Internacionalizou Angola

Um banqueiro português considera mesmo que o Presidente angolano, Eduardo dos Santos, “deve boa parte da internacionalização angolana a Manuel Vicente, desde a escolha das zonas geográficas onde se encontra a Sonangol, na actividade de pesquisa e exploração de petróleos, até às actividades em que está envolvida e todas as empresas em que participa, dentro e fora de Angola”.

Ao contrário dos seus antecessores – que geriram uma empresa petrolífera Manuel Vicente “transformou a Sonangol na cabeça do maior conglomerado económico angolano”, considera o gestor petrolífero.

“Esta ascensão foi muito rápida, porque quando Joaquim David foi director-geral da Sonangol (ainda não havia o cargo de presidente), Manuel Vicente era apenas um director de área da empresa e hoje é provavelmente o homem mais influente de África”, considera o gestor.

No sector petrolífero reconhece- se a Manuel Vicente o êxito da consolidação do modelo de contratos de exploração petrolífera (que geram avultadas receitas para o país). “Há vários países produtores de petróleo que não tiveram o mesmo êxito no desenvolvimento de projectos semelhantes”, nota uma fonte do sector. Ao nível da contabilidade da empresa, Manuel Vicente também realizou um esforço de credibilização internacional da Sonangol.

“Angola está a fazer um esforço no sentido de obter reconhecimento internacional sobre o rigor da sua contabilidade, e Manuel Vicente sabe que isso é fundamental para a empresa, até pela exigência que lhe é feita a esse nível pelo FMI”, diz um responsável do sector petrolífero.

Vicente reforça influência

Há pouco tempo, a influência de Manuel Vicente voltou a ser reforçada. Depois de o Governo angolano ter avaliado a possibilidade de introduzir um novo regime tributário, surgiram contestações no seio do MPLA quando o ministro da Coordenação Económica, Manuel Júnior, quis avançar com mecanismos de auditoria às contas das empresas públicas. Estas contestações acabaram por reduzir a influência política de Manuel Júnior, reforçando, indirectamente, o poder de Manuel Vicente.

Mas nem tudo são vitórias para o presidente da Sonangol. No sector petrolífero questiona-se a capacidade de Angola manter a longo prazo a produção petrolífera entre 1900 e 2000 milhões de barris anuais. “Seja corno for, a actual produção angolana traduz uma evolução favorável (geradora de maiores receitas para Angola), porque em 2003 o país produzia 875 mil barris diários”, comenta outra fonte do sector.

Laços pessoais

Manuel Vicente goza de uma imagem sólida e é dado como um exemplo de estabilidade familiar. Os laços pessoais com Eduardo dos Santos são reforçados pelo apoio que sempre deu aos projectos da sua filha Isabel dos Santos. De igual forma, os laços com Carlos Feijó são fortes. Depois de absorver na estrutura da Sonangol a área que o Estado angolano dedicava à promoção de parques industriais (o pólo de Viana), Manuel Vicente colocou a filha de Carlos Feijó à frente destes projectos.

O presidente da Sonangol nunca foi acusado pela oposição de beneficiar a sua própria família e é sóbrio no estilo de vida. Tem casa no Algarve, mas nos jornais afectos à oposição não são feitos comentários aos seus gastos (o mesmo não acontece com as informações sobre o imobiliário de Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, que controla a estrutura militar angolana). O presidente da Sonangol também tem um apartamento em Lisboa, mas fica quase sempre com a sua comitiva no Hotel Ritz.

Na Sonangol, Manuel Vicente tem como braço-direito o director de negociações, Carlos Saturnino, que concluiu recentemente o processo de licitação de blocos petrolíferos na zona marítima do pré-sal angolano.

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