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Autárquicas 2013: Manica, nas garras da erosão

Autárquicas 2013: Manica

O crescimento vertiginoso da mancha urbana e a incapacidade financeira da edilidade transformaram a erosão num problema quotidiano. Manica poderia ser um lugar mais atractivo se a expansão da urbanização fosse acompanhada de um sistema uno de drenagem de águas pluviais. A gestão dos resíduos sólidos – ainda que exclua partes consideráveis da circunscrição – é eficaz. A colecta de impostos poderia ser melhor, mas os munícipes ainda não compreendem o sentido de autarquia.

Um dos desafios de um município em expansão é conciliar o desenvolvimento económico com a preservação do ambiente. Os problemas decorrentes desse desequilíbrio são o desemprego e o surgimento de famílias carenciadas. O investimento em infra-estruturas é fundamental para que o crescimento não seja sinónimo de problema. O acesso aos serviços de água canalizada, luz e cuidados sanitários é imprescindível. Manica tem de olhar para este aspecto para se tornar uma cidade melhor para os seus habitantes.

Os dados compilados pelo Ministério da Administração Estatal indicam que em Manica o desemprego nunca foi um problema. O levantamento feito em 2002 dá conta de uma taxa de empregabilidade na ordem dos 85 porcento. Efectivamente, existem em funcionamento 1.056 barracas, 805 bancas, 31 estabelecimentos comercias, 15 operadores hoteleiros, três unidades agro-indústrias, duas agências funerárias privadas, uma clínica, sete restaurantes, 20 carpintarias de pequeno porte e uma olaria. Estas actividades asseguram 2.789 postos de trabalho. O Estado emprega apenas 719 munícipes. O total de pessoas assalariadas é de 3.200 cidadãos. O sector privado absorve praticamente o dobro da actual capacidade do Estado em Manica: 1.344 funcionários.

No início do actual mandato, a cidade de Manica tinha como desafios o aumento da cobrança de taxas, a ampliação da rede de abastecimento de energia na zona de expansão da urbe, o crescimento da capacidade do sistema de abastecimento de água, o melhoramento das vias de acesso e o controlo da erosão e das queimadas. Volvidos quatro anos e oito meses, esses problemas continuam actuais em alguns bairros.

Contudo, o reordenamento territorial que se traduziu num sistema de cadastro urbano expedito e a construção de valas de drenagem das águas pluviais nas diversas artérias da pequena cidade fronteiriça representam, na verdade, a administração de um fármaco para aliviar os sintomas dos problemas de que enferma a urbe.

Os bairros Josina Machel, 4o Congresso e 7 de Abril dão corpo ao esforço da edilidade no que concerne aos desafios da urbanização. As vias de acesso, devido à natureza do relevo da urbe caracterizado por montanhas, declives e rios, impediam a circulação de viaturas. A realidade nos dias que correm é outra. Engana-se, porém, quem julga que a erosão foi relegada para o passado. É um problema presente no dia-a-dia da vida dos munícipes.

@Verdade visitou os bairros Josina Machel, 25 de Setembro, Vumba e 7 de Abril. Pela janela do táxi, que avançava aos solavancos pela periferia de Manica, a visão da erosão impressiona. À medida que seguíamos pela estrada de terra batida, os buracos surgem, ameaçando propriedades, a rede de iluminação e até cemitérios, em localidades como Manhate, a 10 quilómetros da sede do município, que sofre com a erosão causada pela acção do homem e das chuvas.

A edilidade reconhece-se incapaz de combater o problema. No entanto, tem em carteira um projecto avaliado em cerca de dois milhões de meticais. Efectivamente, o projecto já foi apresentado ao Banco Mundial, através do Ministério da Administração Estatal. Com esse montante, Manica pretende, ao menos, minimizar o problema cuja gravidade exige muito mais investimentos. Paradoxalmente, o combate à erosão constitui uma das principais tarefas constantes do manifesto eleitoral e do plano estratégico da edilidade.

Um outro grande desafio do elenco que governa o segundo pólo económico da província com o nome da autarquia está relacionado com o abastecimento de água, cuja cobertura subiu de forma exponencial com a entrada em funcionamento do FIPAG, através do seu projecto de abastecimento do precioso líquido a partir da albufeira de Chicamba.

Actualmente a cobertura através de fontanários passou de 800 para 35 mil pessoas, como resultado da abertura de 30 furos nos bairros periféricos e outros quatro pequenos sistemas de abastecimento.

O mercado municipal: um lugar de (des)encontros

 

Fisicamente, é difícil saber onde começa e termina o mercado municipal. O formal mescla-se com o informal e as fronteiras esbatem-se. Lojas vivem paredes meias com vendedoras de hortícolas e bugigangas. À primeira vista, o que chama a atenção é, sem dúvida, o caos que caracteriza o espaço. Verifica-se por ali um intenso movimento de peões, um ruído plural e ensurdecedor de vendedeiras de pão e de quinquilharias, gritos de angariadores de passageiros e do cobrador que nunca se conforma com a lotação do “chapa”. Em Manica os transportadores públicos usam camionetas para levar pessoas e bens. A hora de partida é determinada pelo número de passageiros. As pessoas ficam horas sem fim a aguardar pela partida. A viagem é extremamente desconfortável, mas ninguém reclama.

Depois há o lado sociológico. O espaço distingue-se pelas convivências sociais e aprendizagens diversas, como nos deram a conhecer alguns jovens. Estes preferem o mercado à escola. Ali aprendem a sobreviver no informal, a desenrascar a vida, bem como a solucionar problemas mais pontuais. “Temos pais e casa, mas preferimos o mercado porque conseguimos sobreviver daqui”, afirmam.

Aliadas a essa tendência, estão as diversas histórias de vida levadas a cabo por gente que assume o local como um meio para realizar sonhos e construir futuros. Santiago Gimo, de 26 anos, oriunda do distrito de Báruè (sobre) vive ali desde 2004 quando veio para Manica arrastado pela promessa de enriquecimento fácil no garimpo artesanal. A vida não tem sido fácil e encontrar ouro está cada vez mais difícil. “Vim para fazer mineração, mas não deu certo. É um trabalho muito pesado. Estava com um amigo, mas assim que chegámos ele abandonou-me e, porque não conhecia a cidade, decidi ficar aqui. Arranjei primeiro um emprego a lavar loiça numa barraca onde se vendia comida. Hoje com o pouco dinheiro que obtive tenho o meu próprio negócio: vendo água gelada em frascos que antes continham água mineral.” João Canivete, de 34 anos de idade, era camponês até que o produto do seu trabalho foi levado pela chuva. “Só me restou alugar esta banca para ganhar a vida”, diz. Com a escassez de emprego, o comércio informal e o garimpo tornaram-se um meio de renda para centenas de jovens em Manica.

João vive numa casa sem água. Sem rede de saneamento e nem esgoto, o jovem compra água limpa num fontenário que dista cinco quilómetros da sua residência. A habitação só tem um quarto e sala para Canivete, um filho, uma filha e dois sobrinhos. A única renda certa vem da esposa, ajudante de cozinha num restaurante. “O indispensável aqui seria a drenagem, a luz, a água potável e a escola para os meus filhos… Falta tudo”. Como ele, 40 porcento da população de Manica vivem em bairros com pouca ou nenhuma infra-estrutura e cada vez mais distantes.

No início do processo de municipalização, há 14 anos, “a esperança era enorme, pensávamos que era o início de uma nova era. Este optimismo diminuiu muito”, diz um residente insatisfeito. Do ponto de vista social, a mudança é radical. Os munícipes têm de contribuir para o desenvolvimento da urbe. Isso não é bem visto por grande parte das pessoas. A adopção da taxa de recolha de lixo, impopular no seio dos residentes, constitui a maior dor de cabeça para a edilidade.

Contexto histórico

 

Sede do distrito do mesmo nome, situa-se na zona oeste da província de Manica próximo de Machipanda e é o segundo maior centro económico da província. Tem como limites geográficos o rio Révuè a norte; a sul a localidade de Chinhambudzi; a este o Posto administrativo de Messica; e a oeste a linha férrea Beira-Machipanda.

O subsolo é rico em ocorrência de águas minerais e minérios de ouro, ferro, bauxite, mica, feldspato, asbestos, ciamite e cassiterite. Possui ainda potencialidades agrícolas de elevado valor económico e diversidade, particularmente no espaço aberto situado nas serras de Vumba e Vengo.

A vila de Manica apresenta uma atraente configuração paisagística com instalações turísticas e zonas de expansão agrícolas; e um ar cosmopolita marcado pela corrida ao ouro que no passado fez convergir no local prospectores de diferentes origens.Com uma população actualmente estimada em 42.430 habitantes, distribuídos por uma superfície de 113 Km2, a cidade está organizada em 10 bairros. O substrato populacional pertence à família Shona através dos grupos Manyica e Tewes (Dias, 1981).

A povoação, criada a 10 de Março de 1894 como Capitania Mor com sede na povoação de Macequece, situada nos arredores da actual cidade de Manica, deve a sua importância às rotas comerciais de ouro e ferro. A vila teve o seu foral aprovado no dia 4 de Agosto de 1956 (Portaria número 11583) e foi elevada à categoria de cidade a 5 de Dezembro de 1972 (Portaria número 1043/72). Em 1978 a Câmara Municipal foi transformada em Conselho Executivo ao abrigo da Lei nº 7/78 de 22 de Abril. Pela resolução no 8/86 de 25 de Junho a vila foi elevada à categoria de cidade.

A resolução nº 7/87 classificou-a com nível D. A Lei nº 3/94 determinou a criação do distrito municipal, extinto em 1997 com a criação do Conselho Municipal, de conformidade com a Lei nº 10/97. Em língua local, o nome provém da aglutinação dos termos Ma-Nyica que significa gente da casa/terra, natural.

Município de Manica em números

 

População 42430 habitantes

População urbana 25 porcento

População rural 40 porcento

Estradas asfaltadas 7000 metros

Estradas com iluminação pública 8400 metros

Fontenários 72

Aterros sanitários 1

Mercados 4

Sanitários públicos 5

População economicamente activa30 porcento

Taxa de emprego 85 porcento

Casas com água canalizada 17 porcento C

asas com saneamento e dreno 80 porcento

Casas com corrente eléctrica 21 porcento

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