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Mandante do assassinato de Carlos Cardoso em liberdade condicional em Moçambique

Mandante do assassinato de Carlos Cardoso em liberdade condicional em Moçambique

Momad Assife Abdul Satar, também conhecido por “Nini”, um dos empresários que, em 2001, ordenou o assassinato do jornalista moçambicano Carlos Cardoso, foi restituído a liberdade condicional nesta quinta-feira (04). Nini foi também considerado culpado pela fraude do BCM, em 1996, e que resultou no desvio de 144 milhões de Meticais e condenado a 14 anos de prisão pela sua participação na fraude.

A ordem para a libertação de Satar foi assinada, segunda-feira, pelo juiz Adérito Malhope, do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, mas quando um oficial de diligências tentou executar a ordem, segunda-feira, as autoridades prisionais recusaram-se a acatar. O Ministério Público tinha objecções fortes para libertar Satar pelo facto de ser suspeito de organizar outros crimes, incluindo sequestros a partir da sua cela da BO, prisão de máxima segurança em Maputo, onde se encontrava encarcerado.

Contudo, Malhope insistiu na libertação de Nini, através de um segundo despacho, rejeitando um último recurso do Ministério Público. Desta vez Malhope exigiu que a sua ordem fosse executada num prazo de seis horas. Caso contrário, o Director do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo, Castigo Machaieie, seria acusado de crime de desobediência. Por isso, Satar foi libertado quando eram cerca de 15 horas locais, tendo sido levado para sua casa, cercado por um grande número de agentes de segurança privada.

Mais tarde, Satar concedeu uma entrevista à estação de televisão independente STV, durante a qual se gabava da sua imensa riqueza, afirmando que tencionava retomar a sua vida como homem de negócios. Nini disse ainda que possui várias empresas fora do país.

Antes de sua prisão pelo assassinato de Carlos Cardoso, Nini Satar era mais conhecido como um agiota, operando a partir da extinta casa de câmbios Unicâmbios que pertencia ao seu irmão Ayob Abdul Satar morto a tiro no Paquistão.

Nini diz ter muito dinheiro, razão pela qual jamais poderia estar envolvido na onda de sequestros que abalou algumas cidades moçambicanas, particularmente a capital do país, desde 2011.

“Raptar para quê?”, questionou Nini, para de seguida explicar ?não preciso de raptar pessoas para ganhar 100, 200, 300 mil dólares.

Os advogados da família Carlos Cardoso e do seu motorista devem estar muito interessados na riqueza do Nini. Quando ele e outros cinco co-réus foram considerados culpados pelo assassinato Cardoso, em Janeiro de 2003, também foram condenados a pagar uma indemnização no valor de 14 mil milhões de meticais da antiga família (uma soma equivalente a 588 mil dólares ao câmbio daquela altura) a favor dos dois filhos de Cardoso, Ibo e Milena, e outros 500 milhões ao seu motorista, Carlos Manjate, que foi gravemente ferido durante a operação. Até agora, Nini ainda não se dignou a pagar um centavo.

Além disso, Malhope parece ter ignorado completamente o segundo caso em que Nini também foi considerado culpado pela fraude do BCM, o então maior banco do país, ocorrida em 1996, e que resultou no desvio de 144 milhões de meticais, ou seja 14 milhões dólares.

Nini foi condenado a 14 anos pela sua participação na fraude. Ele e outros seus cúmplices foram condenados a devolver o dinheiro roubado do BCM. Mais uma vez, Nini não pagou um único centavo. Existem fortes suspeitas de que a fonte da enorme riqueza de Nini é o dinheiro roubado ao BCM.

Se as empresas de Nini forem legítimas como ele alega, as mesmas deveriam estar registadas. Ele também deveria pagar o imposto de rendimento de pessoas colectivas e imposto de rendimento de pessoas singulares. Por isso, seria um exercício interessante verificar as suas declarações de imposto referentes aos últimos 13 anos, quando ele se encontrava encarcerado.

Aliás, durante julgamento do assassinato de Carlos Cardoso, que teve lugar entre 2002 e 2003, o juiz do caso, Augusto Paulino, questionou se pagava impostos, tendo Nini respondido negativamente. Nini também gaba-se de ter contratado 40 guarda-costas, incluindo moçambicanos e sul-africanos. Ele tem razões mais do que suficientes para temer pela sua vida, pois dois seus cúmplices no assassinato de Cardoso, o seu irmão Ayob e Vicente Ramaya, este último antigo gerente do da dependência do BCM onde ocorreu a fraude, foram assassinados em liberdade condicional.

Ramaya foi posto em liberdade condicional em Janeiro de 2013, mas em Fevereiro deste ano, ele foi morto a tiro no interior do seu carro numa das artérias da cidade de Maputo.

Ayob Satar, por seu turno, foi posto em liberdade condicional em Março de 2013, tendo sido assassinado a 2 de Julho do corrente ano, na cidade paquistanesa de Karachi. Ele foi baleado quando saía de um banco depois de levantar uma soma equivalente a cinco mil dólares em rúpias paquistanesas.

Num breve contacto estabelecido com a Agência de Informação de Moçambique, Lucinda Cruz, advogada da família Cardoso, disse ter ficado muito satisfeita em saber que Nini é muito rico. Se ele considera 200 mil ou 300 mil dólares como uma soma irrisória, então não terá problemas em pagar a indemnização ordenada pelo tribunal às suas vítimas.

Um dos motivos pelos quais a direcção da cadeia recomendou a concessão de liberdade condicional a Nini é o facto de ter mostrado arrependimento pelos seus crimes. Por isso, disse Cruz, se ele está verdadeiramente arrependido, então ele deve estar disposto a pagar a indeminização devida aos filhos de Cardoso e ao motorista Carlos Manjate.

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