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Mahurunga: uma aldeia onde falta quase tudo

Mahurunga: uma aldeia onde falta quase tudo

Privados de serviços básicos, pouco mais de mil moradores da aldeia Mahurunga, em Cabo Delgado, percorrem, todos os dias, aproximadamente cinco quilómetros para ter acesso à água no rio Lúrio, e mais sete para chegar até a unidade sanitária mais próxima. Porém, este não é o principal problema da população. Nos últimos dias, a comunidade tem sido castigada pela falta de alimentos.

No ano passado, Amélia Daudo, cuja idade desconhece, considerava-se uma pessoa de sorte, pois, da parcela de terra que detém, colheu quantidades consideráveis de feijão, amendoim e milho. Ela é viúva e cuida sozinha de quatro filhos há seis anos.

Amélia reside na aldeia de Mahurunga, a aproximadamente 35 quilómetros da vila municipal de Chiúre, em Cabo Delgado, numa casa de adobe e capim à semelhança de centenas de pessoas que lá vivem. A única fonte de sustento do seu agregado familiar tem sido a agricultura. Porém, no presente ano, a sorte foi outra. Devido à escassez de chuvas, boa parte da colheita ficou comprometida. Ela produziu apenas mandioca e milho.

“Consegui apenas cultivar mandioca e um bocado de milho”, disse, tendo acrescentado que, no ano passado, produziu quantidade suficiente para encher o silo metálico de 300 quilogramas que obteve de um projecto que tem vindo a apoiar pequenos agricultores naquela parcela do país.

Presentemente, a família de Amélia vive na incerteza do que vai comer no dia seguinte. “Só temos mandioca para comer e um bocado de amendoim. O milho que restou é para semear na próxima época”, explicou, enquanto apanhava do chão os grãos deste cereal.

Esse facto repete-se na vida da família de Amélia há três anos, mas neste as coisas tendem a agravar-se. Assim como ela, muitas famílias vivem na insegurança alimentar. Refira-se que esta situação tem sido uma constante nos últimos tempos na aldeia de Mahurunga, fustigando a população.

A agricultura, quase que de forma exclusiva para a subsistência, é a actividade predominante, envolvendo quase todos os agregados familiares. A aldeia tem sido um potencial produtor de milho, feijão e amendoim, mas este ano começa-se a assistir a uma nova realidade em Mahurunga. Devido à fraca produção causada pelas falta de chuvas, há cada vez mais camponeses a abandonarem a produção daquelas culturas, para se dedicarem exclusivamente à de mandioca. Além disso, há famílias que perderam quase tudo e, agora, esperam por uma ajuda divina.

Falta água, não há unidade sanitária

Não é apenas a iminente bolsa de fome que preocupa os moradores de Mahurunga, a falta de água é também uma das principais dores de cabeça. Todos os dias, pelas manhãs, quando sai de casa à procura de água, Eugénia Ribeiro, de 38 anos de idade, tem de percorrer pelo menos quatro quilómetros a pé até ao rio Lúrio para obter água para consumo.

O acesso ao precioso líquido ainda é um problema sério que afecta directamente pouco mais de 300 agregados familiares que compõem a aldeia. O único fontanário que existe naquele povoado dista seis quilómetros da habitação de Eugénia. “Por causa da distância, eu opto por ir até ao rio”, afirmou.

A maioria das famílias daquela aldeia não dispõe de poços artesianos e é obrigada a caminhar até ao rio Lúrio, e a água é usada para beber, lavar roupa e loiça, e confeccionar alimentos.

Relativamente à saúde, a unidade sanitária mais próxima dos moradores da aldeia é o Centro de Saúde de Ocua, que fica a quase sete quilómetros de Nahurunga. A málaria, as doenças diarreicas e o VIH/SIDA têm sido as principais causas de internamento. Em média, por mês 10 pessoas são internadas. Os casos mais graves são transferidos para a sede do distrito. Ao contrário do ano passado, este centro de saúde dispõe de uma quantidade considerável de medicamentos.

A nível do sector, neste momento, o desafio continua a ser o melhoramento do atendimento e a disseminação dos serviços de saúde nas comunidades.

Moradores pedem escola

A aldeia de Nahurunga é atravessada pela Estrada Nacional número 1, que liga a cidade de Nampula à de Pemba. A falta de escolas para as crianças é também um dos problemas que preocupa os residentes. Eugénia Ribeiro conta que os seus dois filhos, que frequentam a terceira e quinta classes, percorrem longas distâncias para poderem estudar. “Se tivéssemos escola aqui perto, isso iria ajudar muito as nossas crianças”, disse.

Jossias Ambassa é também morador daquela aldeia. Construíu a sua casa à beira da estrada e dedica-se à produção agrícola, com destaque para a cultura de amendoim. Na sua opinião, as autoridades govenamentais deveriam construir escolas na sua região, para facilitar a vida dos residentes. “Os nossos filhos têm de ir até Ocua para estudar porque nesta comunidade não temos escola e, muitas vezes, eles não vão por causa da distância”, afirmou.

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