A batalha contra o ébola na República Democrática do Congo está fracassando porque os cidadãos não confiam em profissionais de saúde, e uma resposta excessivamente militarizada está afastando pacientes e famílias, disseram os Médicos Sem Fronteiras nesta quinta-feira.
Na semana passada, os Médicos sem Fronteiras suspenderam as actividades médicas no ponto focal da epidemia, depois que duas de suas instalações foram incendiadas por agressores não identificados.
A presidente internacional da organização, Joanne Liu, disse que o surto, que matou 569 pessoas, não será contido a menos que a comunidade confie nas autoridades e seja tratada com humanidade.
“A atmosfera existente só pode ser descrita como tóxica”, disse Liu a repórteres em Genebra.
Os socorristas do ébola são cada vez mais vistos como inimigos, com mais de 30 ataques e incidentes contra a reação ao ebola somente no mês passado, disse.
A epidemia está em uma região do Congo que é vinculada a grupos armados e violência, onde os funcionários estão propensos a ver ameaças através de uma lente de segurança e a usar a força.
“Há muita militarização em resposta ao ebola”, afirmou ela. “Usar a polícia para forçar as pessoas a cumprir as medidas de saúde não é apenas antiético, é totalmente contraproducente. As comunidades não são o inimigo”.
O envolvimento de forças policiais e de segurança apenas aprofundou as suspeitas de que o ébola estava sendo usado como ferramenta política, disse.
Ainda havia sinais de que o surto —o segundo pior de todos— não estava sendo controlado. Quarenta por cento das mortes ocorreram fora dos centros médicos, o que significa que os pacientes não haviam procurado atendimento, e 35 por cento dos novos pacientes não estavam ligados a casos existentes, o que indica que a disseminação da doença não estava sendo monitorada.
“O ébola ainda tem a vantagem”, disse Liu. Os camponeses avistaram frotas de carros correndo para pegar uma única pessoa doente e uma grande quantidade de dinheiro entrando. Alguns foram instruídos a lavar as mãos, mas não tinham sabão para fazê-lo. “Eles vêem seus parentes sendo pulverizados com cloro e envoltos em sacos de plástico, enterrados sem cerimónia. Então eles vêem seus pertences queimados”, afirmou.