O mestre do escândalo dinamarquês Lars Von Trier conseguiu mais uma vez: deixou em estado de choque a plateia de críticos de Cannes com seu novo filme, “Antichrist” (“Anticristo”), um suspense sobre amor e loucura que abusa de cenas de sexo explícito e mutilação.
Willem Dafoe e a francesa Charlotte Gainsbourg adicionam performances poderosas ao filme, que conta a história de um casal que se isola em um chalé distante para tentar superar a morte do filho bebê. A primeira cena é um close-up em câmera lenta de penetração sexual, que evolui para uma dramática sequência de violência e termina com uma chocante visão de Gainsbourg extirpando seu clitóris com uma tesoura. “Isso é um pesadelo sobre culpa, sexo e outras coisas”, resumiu o diretor, de 53 anos, falando para uma platéia visivelmente chocada e hostil sobre seu novo filme, que concorre com outras 19 produções pela Palma de Ouro.
Von Trier, que no ano 2000 saiu de Cannes com a Palma de Ouro por “Dançando no Escuro”, explicou que o filme foi como uma terapia para ele, depois do colapso nervoso que sofreu dois anos atrás, e que considera o mais importante de sua carreira. Qustionado sobre o porquê de ter produzido um trabalho visualmente tão violento, o diretor não pensou duas vezes: “Eu não acho que deva uma explicação a ninguém. Fiz (o filme) para mim mesmo”. “É a mão de Deus”, acrescentou, com um sorriso sarcástico. “E eu sou o melhor diretor do mundo!”.
Imagens do imaginário gótico, referências a perseguições de bruxas na Idade Média e alucinações apavorantes de animais falantes se combinam para criar uma atmosfera de assombro e escuridão ao longo do filme. Os críticos de Cannes se dividiram entre reações de amor e ódio a “Antichrist”. “Era insuportável. Eu odiei. É misógino, e vai ser um escândalo”, comentou Victor Saint-Macary, do estúdio Gaumont, que assistiu à premiére nesta segunda-feira.
Outros, como o suíço Marc Bahud, estavam extasiados. “É fascinante, algo de total beleza”, elogiou. “É muito, muito louco. Há algumas coisas muito difíceis. Mas é assim mesmo. É a exploração de uma alma torturada”. Perguntado sobre por quê decidiu incluir no filme a cena mais perturbadora de todas – a mutilação genital de Gainsbourg -, Von Trier respondeu que “não mostrar isso para mim seria como mentir. Veio naturalmente”. Von Trier insiste que não é um misógino, e que apenas acha a sexualidade feminina “assustadora”.