No último domingo, um repórter nosso, em Nampula, foi deliberadamente submetido a sevícias por certos indivíduos ligados ao município, a mando do vereador de Administração e Recursos Humanos, António Gonçalves, em conluio com o delegado político provincial do MDM, Rachade Carvalho.
Acontece que, na manhã do mesmo dia, os subalternos do edil de Nampula, Mahamudo Amurane, mantiveram em cárcere privado, no Salão Nobre da edilidade, mais de 50 mulheres que exigiam a observância dos seus direitos, que alegam terem sido infringidos após serem recrutadas, na primeira quinzena de Fevereiro passado, para limparem a cidade no âmbito de uma campanha denominada “Warya wa Wamphula”, que em língua portuguesa significa “Brilho de Nampula”.
Desde o dia em que a referida iniciativa foi tornada pública, o @Verdade tem acompanhado o que se desenrola em torno da mesma. E foi nesse contexto que a vítima, no gozo dos direitos que lhe são conferidos pela Lei, se dirigiu às instalações do Conselho Municipal de Nampula para apurar o que se passava a ponto de, em pleno século XXI, existirem dirigentes que defendem o cárcere privado.
Chocou-nos de tal sorte saber que meia centena de senhoras foi encarcerada por ordens de alguém que pensávamos que entendia alguma coisa sobre administração e recursos humanos.
A escravidão, um dos momentos históricos cruéis, caracterizada por punições, foi abolida há séculos porque era uma prática contra os princípios da dignidade humana e liberdade individual. As vítimas da humilhação em causa fazem parte de um grupo de milhares de munícipes, maioritariamente mulheres, mobilizado para materializar a iniciativa a que nos referimos, através da qual Amurane pretendia mostrar a “todos” que podia deixar a urbe asseada.
Na verdade, a cidade permanece infestada de lixo e o grosso dos homens e das mulheres que asseguravam a limpeza não está a ser remunerado e a outro é-lhe atribuído um subsídio de mil meticais depois de meses de trabalho braçal, o que gera insatisfação por parte dele. Dirigentes que, por arrogância e prepotência, maltratam quem lhes colocou no poder deviam cair. O escritor português Eça de Queiroz (1845-1900) tinha razão quando defendia que “os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”.
Não se sabe por que carga de água, mas certo dirigente da autarquia de Nampula não se conteve e tentou fazer politiquices neste nosso Jornal, tendo telefonado para um dos gestores para manifestar o seu pretenso desagrado em relação ao facto de os nossos jornalistas estarem a reportar, constantemente, os atropelos cometido pela edilidade e as suas medidas claramente politiqueiras. Esta atitude, de todo em todo condenável, é uma pretensão clara de nos quer promiscuir.
De maneira nenhuma estamos contra qualquer relação entre políticos e algum dirigente deste meio de comunicação, porém, que tal não se manifeste nem interfira, tão-pouco, no nosso trabalho. E esta sentença assenta como uma luva em Amurane, Gonçalves e Rachade. Não pretendemos manter uma relação tensa com quem quer que seja por causa de coisas como estas, mas, também, não vamos tolerar que destratem o povo nem admitir que interfiram ou se intrometam devido à necessidade inconfessável de nos criar dificuldades supérfluas.