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Autárquicas 2013: Marromeu, “Literalmente” na lama

Autárquicas 2013: Marromeu

Marromeu procura consolidar-se como uma autarquia, não obstante ter sido elevada à categoria de município há mais de 15 anos. Porém, apesar de inúmeros problemas relacionados com o desemprego, vias públicas lamacentas e bairros desordenados, ela tem uma ambição: quer tornar-se uma cidade. As chuvas que, esporadicamente, caem naquela circunscrição colocam a olho nu a ineficiência das autoridades municipais de uma vila cuja economia depende praticamente da cultura de cana-de-açúcar.

Localizada na margem sul do rio Zambeze, concretamente na província central de Sofala, a vila municipal de Marromeu é pacata, apresentando problemas de diversa natureza que lhe conferem, por assim dizer, características de um velarejo abandonado à sua própria sorte. Mas, por alguma razão, é um município. O desemprego e a falta de unidades sanitárias são algumas das maiores questões enfrentadas pelos munícipes.

O desemprego continua a ser a principal dor de cabeça, colocando, sobretudo, os jovens numa situação dramática. Na verdade, em Marromeu, não há oportunidades de emprego. A solução tem sido o auto-emprego ou esperar-se por uma vaga na Companhia de Sena que já emprega pouco mais de sete mil pessoas.

A economia do município é impulsionada pela cultura de cana-de-açúcar, e também pelo comércio informal, onde diversas actividades comerciais sobressaem aos olhos dos transeuntes de forma tímida. Apesar disso, segundo a edilidade, a contribuição fiscal dos munícipes é insuficiente para custear as despesas da autarquia.

Marromeu tem uma população estimada em cerca de 40 mil habitantes maioritariamente camponeses. Diga-se, em abono da verdade, sem menosprezar o acesso a água e a cuidados básicos de saúde, a precariedade das vias de acesso é a principal inquietação dos habitantes daquela circunscrição. Recentemente, as autoridades municipais avançaram com a pavimentação de um troço de dois quilómetros e 100 metros a nível da autarquia. No entanto, quando chove, as estradas tornam-se praticamente intransitáveis, ou seja, o pavé dá lugar à lama. Na verdade, Marromeu vive num dilema: na época chuvosa, as vias ficam lamacentas e quando faz muito sol são invadidas por poeiras.

Mas a falta de asfaltagem da estrada que liga Marromeu a outros pontos do país, num percurso de pouco mais de 300 quilómetros, pode-se dizer que é a principal razão do retardamento do progresso da autarquia em particular, e do distrito em geral.

 

Urbanização e saneamento

A questão da urbanização ainda é um desafio para o município, uma vez que este ainda não dispõe de um plano de estrutura. O grande calcanhar de Aquiles é o desordenamento territorial que grassa por todas as zonas residenciais. A edilidade reconhece o problema, e o argumento que apresenta é ter herdado essa situação. Porém, neste momento, existe um programa com vista à requalificação dos bairros mais críticos como, por exemplo, 1° de Maio e Kenneth Kaunda.

O município de Marromeu ocupa uma área de 144km² e é constituído por sete bairros. De referir que os bairros periféricos são os exemplos mais bem acabados de lugares quase irrespiráveis, onde não foi respeitado nenhum plano de urbanização. Todos os dias, surgem habitações precárias de forma desorganizada. Quase todos se debatem com problemas de diversa ordem, desde o acesso limitado a água, passando pela precariedade das vias públicas até às construções desordenadas.

À entrada da vila, um problema comum salta à vista. Um pouco por todos os cantos da autarquia pode-se deparar um dos principais fenómenos que assola quase todos os municípios do país: o lixo nas ruas, facto que coloca a nu a ineficiência das autoridades municipais. No entanto, o Conselho Municipal da vila de Marromeu garante que criou um comité de limpeza, além de possuir meios para a remoção de resíduos sólidos a nível da autarquia na via pública.

A edilidade tem dois tractores e, neste momento, está a trabalhar com uma organização não- governamental para acabar com o problema do lixo a nível da autarquia. Além disso, está a negociar com a Companhia de Sena para a construção de uma lixeira comum de modo a beneficiar tanto aquela unidade industrial, assim como o município.

 

Acesso a água potável

O acesso ao precioso líquido ainda é uma das principais preocupações da população, apesar de as autoridades municipais garantirem que o problema está praticamente ultrapassado, visto que o município conta com 96 bombas de água, além de um pequeno sistema de abastecimento. Mas todos os dias, pelas manhãs e não só, os munícipes circulam com recipientes pela via à procura de água para consumo.

De acordo com a edilidade, não há problema de falta de água na área municipal, até porque o actual nível de cobertura é de 90 porcento. Neste mandato prestes a terminar, foram construídas 72 bombas manuais em todas as zonas residenciais, não havendo casos em que os munícipes têm de percorrer longas distâncias para obter água. Presentemente, cada bairro conta com pelo menos duas fontes do precioso líquido, com excepção do 7 de Abril – por sinal o mais populoso da autarquia – que dispõe de 22.

Porém, a dona de casa Maria Graça, todos os dias, tem de fazer um percurso de três quilómetros até à bomba de água mais próxima da sua habitação. Residente no bairro Samora Machel, ela afirma que, muitas vezes, é obrigada a deslocar-se aos bairros circunvizinhos para conseguir apenas um bidão de 20 litros de água. Na verdade, este não é apenas o drama de Maria, mas também de dezenas de munícipes daquela autarquia. “O nosso problema é só a falta de água”, sublinha. Refira-se que a água canalizada é um luxo a que somente poucos munícipes se podem dar.

 

Saúde e Educação

A nível da vila municipal existe apenas uma unidade sanitária, o que se mostra insuficiente para atender uma população estimada em 40 mil habitantes, assim como se assiste a casos de pessoas que têm de percorrer longas distâncias para obter cuidados médicos.

O drama por que passam os munícipes não é de hoje, e já perdura há vários anos não se vislumbrando uma solução imediata. A título de exemplo, há alguns anos, um operador de transporte privado de passageiro, que não quis ser identificado, passou por uma situação que, ao lembrar-se, o deixa bastante indignado. Ele conta que perdeu o seu filho que havia nascido prematuramente no Hospital Rural de Marromeu por falta de uma incubadora naquela unidade sanitária. “Há 15 anos de municipalização continuamos na mesma situação, sem hospitais, nem serviços básicos e tão- -pouco estradas em boas condições. É uma lástima”, lamenta.

As doenças diarreicas e a malária têm sido as principais causas de internamento na única unidade sanitária da vila. O acesso a cuidados sanitários continua a ser uma preocupação e, actualmente, o desafio é aumentar o número de unidades para o efeito com vista a incrementar a capacidade de a população poder beneficiar dos serviços básicos de saúde, que neste momento se configuram insuficientes.

No que diz respeito à Educação, a edilidade construiu apenas cinco salas de aulas, reabilitou duas, expandindo a rede escolar, e ofereceu 25 carteiras em algumas escolas onde centenas de crianças são forçadas a sentar-se no chão.

 

Transporte e rede eléctrica

À semelhança de outros municípios emergentes do país, a vila de Marromeu não dispõe de transporte municipal. Os “chapas”, maioritariamente carrinhas de caixa aberta, quando o comboio – que circula uma vez por semana – não circula, garantem a ligação à cidade da Beira e ao distrito de Caia.

Relativamente à electricidade, a vila com características rurais tem as ruas pouco iluminadas. Aliás, a iluminação pública é precária, mas a edilidade garante que a situação tem vindo a melhor à medida que a vila cresce. Dos sete bairros que constituem o município, dois deles não dispõem de energia eléctrica, nomeadamente Samora Machel e Joaquim Chissano. A maioria dos munícipes não tem electricidade nas suas respectivas casas e os que dispõem dela queixam-se de que não chega nas condições desejáveis. De acordo com o edil, existe um plano de expansão e melhoria da rede de corrente eléctrica para aquelas zonas residenciais.

 

Contextualização

Com uma densidade populacional de aproximadamente 12,5 habitantes por km², o distrito de Marromeu ocupa uma área de 5.810 km². Conta com uma população estimada em cerca de 72.447 habitantes e na capital do distrito estima-se em 40 mil, segundo o Censo de 2007. O nome Marromeu deriva de “marro”, palavra que significa “terras baixas, lodo ou matope”na língua Sena. A povoação foi estabelecida por ordem da Companhia de Moçambique, em 1904.

A actividade dominante é a agricultura de subsistência e as principais culturas alimentares do sector familiar são, nomeadamente arroz, milho, mandioca, mapira, mexoeira e batata-doce. Devido aos danos provocados pela guerra, praticamente toda a actividade comercial e industrial do distrito cessou. Porém, presentemente, a unidade mais notória é a refinaria de açúcar.

 

Município de Marromeu em números

População: 40 mil Bairros: 7

Bombas de água: 96

Unidade sanitária: 1

Trabalhadores: 8 mil

Vereações: 4

Funcionários do município: 90

Agentes económicos: 24

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