O Partido Liberal Democrata teve um enorme retorno popular no dia seguinte ao primeiro debate televisado entre os candidatos à eleição britânica de 6 de maio com a participação memorável do seu líder, Nick Clegg. “Isto é só o começo”, previu o jovem dirigente liberal democrata, de 43 anos, cuja foto foi destaque em todos os jornais desta sexta-feira, depois do histórico debate de quinta à noite.
Ele não fez nada feio perante os líderes dos outros dois importantes partidos na disputa, o conservador David Cameron, favorito das pesquisas de intenção de voto, e o primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown. Clegg sabe que, para se tornar o primeiro-ministro e desempenhar um papel importante, é preciso que o parlamento não tenha maioria absoluta, como prevêem as inúmeras pesquisas.
Segundo um estudo do instituto ComRes para o canal ITV, dentre os quase 4 mil telespectadores no debate, os chamados “Libdems” têm 24% (subindo 3% desde a última pesquisa no início da semana) das intenções de voto, enquanto o partido trabalhista possui agora 28% (-1%). Os conservadores continuam encabeçando as pesquisas, com 35%.
Os liberais democratas, terceira coalizão política e com menor visibilidade, se estabilizaram próximo aos vinte pontos. Nesta sexta de manhã, Clegg agradeceu à repercussão desse “momento importante”, que permitiu a ele mostrar aos britânicos uma “escolha entre os dois partidos (conservador e trabalhista) e a nova maneira de fazer a política inovadora e igualitária, oferecida pelos liberais democratas”. Mais de 10 milhões de telespectadores assistiram ao confronto dos três dirigentes que transcorreu de maneira às vezes alterada, mas sempre cortês, sobre assuntos como imigração, criminalidade, saúde e armamentos nucleares.
Próximo ao fim do debate, Brown, Cameron e Clegg progressivamente deixaram suas marcas, sem hesitar em transgredir as regras estritas estipuladas por eles mesmos, questionando e interrompendo bruscamente o discurso dos outros e tentando sempre se destacar. Nesse jogo, o carismático Nick Clegg conseguiu vantagem facilmente.
Habitualmente na sombra dos oponentes, ele aproveitou a audiência para passar uma mensagem: “nós, os ‘Libdems’, representamos a verdadeira mudança diante dos outros dois”. “Não deixem que eles te digam que a única escolha é entre esses dois antigos partidos, que revezam no governo há 65 anos”, enfatizou. Alguns minutos depois do término do debate, duas pequenas sondagens deram um veredicto: Clegg se saiu muito bem.
A enquête Yougov deu a ele 51% de intenções de voto, contra 29% de Cameron e 19% para Brown. A pesquisa da ITV deu 43% para ele, 26% para Cameron e 20% para Brown. A imprensa na manhã desta sexta prestigiou o “terceiro homem”: “O forasteiro faz sua entrada”, afirmou o Times; “A estrela de Clegg ascende” descreveu o Daily Telegraph; “Clegg agarra a oportunidade”, enfatizou o Guardian. Resta saber se esse ganho de popularidade para os “Libdems” não é apenas momentâneo, se não passa de uma performance midiática efêmera ou de um verdadeiro fenômeno político. Clegg é esperado agora para outros dois debates antes das eleições, um sobre política estrangeira, no dia 22 de abril, e outro sobre economia, uma semana mais tarde.