A Líbia está debaixo de fogo de uma força internacional que pretende pôr fim ao conflito que já se prolonga há mais de um mês. Estados Unidos, França e Reino Unido foram os primeiros países a avançar com a operação militar na Líbia, dois dias após a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de “todas as medidas necessárias” para travar a violência no país.
O Pentágono confirmou o lançamento de 110 mísseis contra alvos militares e os ataques deverão intensificar-se nas próximas horas. Mas Khadafi promete resistir.
O coronel que governa a Líbia há mais de 40 anos ameaça atacar objectivos “civis e militares” no Mediterrâneo e disse que os depósitos de armas estão prontos para defender a Líbia. Pediu ainda a africanos, árabes, latino-americanos e asiáticos que apoiem o povo líbio contra a agressão dos “cruzados colonizadores”, e ameaçou transformar o Mediterrâneo “num campo de batalha”.
Não se sabe quanto tempo a operação, baptizada Odisseia Amanhecer, irá durar. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Alain Juppé disse que a acção militar irá prolongar-se até que Khadafi cumpra “à letra” a resolução da ONU e adiantou que o objectivo da intervenção é “apoiar a libertação do povo líbio”.
Barack Obama, que já tinha apelado à retirada imediata de Khadafi, disse que os EUA estão “a responder aos apelos de um povo ameaçado”, e anunciou que deu luz verde a uma acção militar “limitada”, que não envolverá, por exemplo, a mobilização de tropas norte-americanas para o solo líbio.
Pouco depois seria a vez de o primeiro-ministro britânico, David Cameron, justificar a intervenção do Reino Unido com as declarações de Khadafi, que tinha ameaçado intensificar os ataques contra os rebeldes que têm combatido pelo fim do seu regime. “Todos vimos a brutalidade do coronel Khadafi para com o seu povo. Em vez de aplicar um cessar-fogo falou de intensificar os ataques e a brutalidade”, disse Cameron.
Apesar de o regime líbio ter anunciado um cessar-fogo, nos últimos dois dias chegaram da Líbia relatos de avanços das tropas de Khadafi sobre Bengasi, o bastião dos rebeldes. A França iniciou as hostilidades com o envio de aviões militares Rafale e Mirage e aviões de patrulha Awacs. Os britânicos enviaram para bases próximas aviões Tornado e Typhoon, para além de duas fragatas. E os EUA mobilizaram os meios navais que possuem na região, entre os quais duas fragatas de onde foram lançados os mísseis e três submarinos.
Vários outros países, como a Noruega, Espanha, Itália, Grécia, Canadá e o Qatar, já anunciaram que irão disponibilizar meios militares. Os ataques aéreos e os mísseis de cruzeiro lançados pelos EUA, Reino Unido e França foram “coordenados” a partir de uma base americana na Alemanha, afirmou à AFP um responsável francês que quis manter o anonimato. “Trata-se de uma operação multilateral sob coordenação do comando americano pelas forças americanas na Europa, com base em Estugarda, na Alemanha”, adiantou.
O Pentágono adiantou que os mísseis Tomahawk foram lançados contra 20 posições das tropas de Khadafi, pelos Estados Unidos e Reino Unido, e que 25 navios de guerra da coligação estão posicionados nas águas do Mediterrâneo. Operação terá sido concertada com os rebeldes A operação estará a ser concertada com o conselho militar dos rebeldes líbios, adiantou a estação de televisão Al-Jazira.
Uma escola militar na cidade de Misurata onde estavam instaladas as forças de Khadafi foi bombardeada e também houve ataques em Sirte, a cidade onde nasceu Khadafi. Houve relatos de fortes estrondos nos arredores de Trípoli, mas não foram divulgados detalhes sobre o que aconteceu junto à capital.
A Rússia, que se absteve na votação do Conselho de Segurança da ONU – aprovada com 10 votos a favor e cinco abstenções – condenou a intervenção, tal como a União Africana, que se opôs a “qualquer intervenção militar”.
As autoridades líbias anunciaram que foram atingidos alvos civis e que a operação causou “inúmeras vítimas civis”, tendo sido atingido um hospital, mas essa informação não foi confirmada por qualquer fonte independente. O chefe do Parlamento líbio, Mohamed Zwei, refereriu também “inúmeros danos materiais” e um porta-voz militar líbio adiantou que foram atingidos alvos civis nas cidades de Zuara, Sirte e Bengasi.
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Residentes na cidade de Misurata relataram à Reuters que foram mortas nove pessoas por atiradores furtivos e que no hospital local não se puderam realizar intervenções cirúrgicas por falta de anestésicos. A cidade fica a cerca de 130 quilómetros de Trípoli e é um dos locais tomados pelos rebeldes na parte ocidental do país.
Centenas de apoiantes de Khadafi juntaram-se em torno da residência do coronel em Bab al-Aziziyah para proteger o palácio dos ataques aéreos perpetrados pelos aviões franceses, relatou a correspondente da Al-Jazira, Anita McNaught. A filha de Khadafi, Aisha Khadafi, esteve presente na concentração a favor do regime do pai.
A cidade de Sirte, onde Khadafi nasceu, também foi alvo de ataques, segundo os órgãos de informação oficiais. Milhares de pessoas fugiram da região de Bengasi, com receio de ataques, e deslocaram-se em carros e camiões para Nordeste do país. A Cruz Vermelha pediu a ambas as partes para respeitarem a legislação internacional, e para que seja permitido o acesso aos feridos e ao pessoal médico.