Moçambique, o nosso belo Moçambique, é dos países que conheço com mais potencial turístico. Quem é que por estas paragens – a África do Sul é de outro campeonato – pode afirmar a plenos pulmões possuir uma ilha como a de Moçambique, decretada Património da Humanidade desde 1992; um parque como a Gorongosa – é o que possui a maior biodiversidade em toda a África; um “mar” interior esmagador como o lago Niassa; aproximadamente 2800 quilómetros de costa com praias fabulosas muitas delas ainda completamente virgens; uma fauna abundante para os amantes de caça grossa; e um conjunto urbano como Maputo, uma cidade que mescla uma modernidade com um aprazível charme colonial? Poucos, muito poucos, e nós somos um deles.
Temos diante de nós, muitos ainda não deram conta, um diamante de muitos quilates mas em estado completamente bruto, a necessitar de ser lapidado em todas as arestas. A lapidação passa pela detecção dos problemas, pela estruturação, pela organização, pela profunda mudança de mentalidades, por trabalho árduo, sério e abnegado, sobretudo a nível da formação, o grande calcanhar de Aquiles do sector.
Já alguém pensou porque é que há mais turistas a visitarem o Malawi aqui ao lado que não possui um décimo dos nossos recursos turísticos? Já nem falo das Seychelles, das Maurícias da Tanzânia ou do Quénia. Uns só oferecem praia, outros só oferecem safaris. Ninguém reúne o nosso potencial. Mas, valha a verdade, como é que podemos convencer o turista, estrangeiro sobretudo, a decidir-se pelo nosso país quando tem um serviço com muito mais qualidade e bem mais barato noutros países da região? Começando pelo preço da viagem, passando pelas entradas nos parques, até aos hotéis e restaurantes, tudo é mais caro do nosso lado e o serviço prestado é de inferior qualidade.
Quando liberalizarmos o espaço aéreo – da Europa só temos a TAP que voa a ‘módicos’ preços que na época alta chegam aos 44 mil meticais por menos do que isto vai-se às Maldivas e ao Brasil com tudo incluído -, quando formos ao Tofo e não houver sucessivos cortes de corrente que nos deixam a assar de calor – da última vez que lá estive só numa noite contei 12 falhas -; quando pagarmos o mesmo por uma diária num hotel desta zona como pagamos na África do Sul numa categoria similar e sem falhas; quando formos à Gorongosa e pagarmos pela entrada e pelos restantes serviços o mesmo que pagamos no Kruger; quando formos à Ilha de Moçambique e para tomar banho na praia não tivermos que afugentar fezes humanas; quando passearmos pelas ruas do Ibo sem medo que uma varanda desabe sobre nós; quando em Maputo a polícia não parar o turista para extorquir dinheiro – facto que já vem referenciado com um “be careful” em muitos guias – então, aí sim, estaremos a lapidar correctamente o diamante. Até lá estou como São Tomé: tenho de ver para crer.
Numa fase posterior, haverá, então, que realizar um árduo trabalho de divulgação do país porque sem ela, infelizmente, nada se faz nos dias de hoje. Nessa altura, teremos muito a ganhar se nos inspirarmos nos espanhóis e nos italianos, mestres na propaganda daquilo que é seu.