Duas irmãs gémeas contraíram casamento tradicional no mesmo dia. Trata-se de Henriqueta e Amélia, de 24 anos. A cerimónia uniu aos Mendes duas famílias: Nhampossa e Cossa. As duas engravidaram no mesmo mês, mas Amélia perdeu a criança. O casamento civil, esse, está previsto para Novembro.
16 de Novembro de 1983. A data não seria igual a qualquer outra se não fosse o dia em que Fernando Mendes – natural de Inhambane – e Elisa Faustino – de Tete – cruzaram os primeiros olhares e confirmaram o jargão popular de que há amores à primeira vista! Deste casal nasceram duas gémeas: Keta e Amélia, no dia 16 de Novembro de 1985. Como a maioria das gémeas do mundo, as duas irmãs sempre viveram literalmente “coladas” uma à outra, dentro e fora da casa. Juntas fizeram a 9ª classe, na mesma turma.
A tetense Elisa Faustino recorda-se e reconta, de cor e salteado, a sua incrível biografia: não obstante a natural amizade entre elas, as duas almas que Deus quis que viessem ao mundo da mesma barriga (e no mesmo dia e local) discutiam muito. Mas na outra face da história há outro facto curioso: talvez porque os pais sejam da Igreja “Pentecostal Deus é Amor”, Keta e Amélia cedo revelaram-se também devotas incondicionais das forças divinas. Se toda a criança tem um sonho, Amélia – que parou na 10ª classe – por muito tempo ambicionou ser uma cantora.
Mas a sua alma gémea Keta, a frequentar a 11ª classe do curso nocturno, cogita(va) ser uma economista. Ma, tal como os pais em 1983, há dois anos que lhes apareceram dois príncipes. E encantadas com os colegas da Escola Secundária Heróis Moçambicanos, no Bagamoyo, arredores de Maputo, elas se tornaram nas ‘Evas do século XXI’ e comeram a fruta proibida. Como não se protegeram, engravidaram. Contudo, Amélia perdeu a criança e Keta está no oitavo mês de gestação. Mas, na verdade, a notícia é esta: engravidaram no mesmo mês. Diferentes de outros jovens pelo Grande Maputo fora, eis que os dois casais decidiram trocar alianças no mesmo 1º de Agosto.
Os felizardos não poderiam ser como outros malandros da cidade: Miguel Armando Nhamposse, monitor de informática, disse ‘Sim’ à Amélia. E o ainda estudante Jetman Benedito Cossa, fê-lo, por seu turno, à bela Keta. O regabofe! O manhambane Fernando Mendes confirma a veracidade da notícia popular que andava de boca em boca: “ Foram os noivos que propuseram que o casamento se realizasse na mesma data e no mesmo lugar”. No fundo para homenagear as gémeas Keta e Amélia, a família Mendes escorregou na manteiga e corroborou com a ideia dos jovens enamorados.
Sábado foi 1º de Agosto, a feliz data. Enquanto as mulheres se responsabilizavam pela cozinha, lá fora decorriam as três cerimónias de muita beleza e ‘glamour’ tradicionais. A primeira cerimónia ocorreu como manda a lei do sul: carregados de presentes e de carta de pedido de anelamento, às 14 horas os Nhamposse chegavam à casa dos Muendane que os recebeu com honras de “compadres”. Os presentes são estes: 2 garrafas de vinho branco, 1 garrafão (de 5 litros) de vinho tinto, 1 caixa de cerveja e 1 caixa de refrigerantes. E, afinal, não era tudo: para o pai da noiva, 1 fato, pares de sapatos e de peúgas. A mãe da noiva foi brindada com duas capulanas ‘Mocumi’ e ‘Vemba. Uma dúzia de capulanas para as tias. Àquilo adicionem- se presentes para a noiva: 1 vestido, brincos, colar, relógio e anel de ouro. Como se não bastasse, ainda foram desembolsados 3.500 meticais.
A cerimónia, que selou as duas famílias, foi realizada em Bitonga – uma das variantes de Tsonga, língua do sul de Moçambique. O mesmo ocorreu com a família Cossa que, por se ter apresentado tarde em relação ao horário programado, teve de enfrentar alguns obstáculos e pagar uma multa simbólica. E chegou a hora do regabofe. E todo o mundo comeu. Bebeu. Dançou à moda dos casamentos do sul de Moçambique. Às duas da madrugada os novos casais cortaram os bolos e trocaram os talheres. Era o retrato de duas gémeas que, à semelhança da sua vinda ao mundo, contraíram matrimónio no mesmo dia: 1º de Agosto de 2009. Novembro próximo está reservado à cerimónia de casamento civil. Oxalá!