Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Jovens promessas: Valerdina de aço

Jovens promessas: Valerdina de aço

“Não me quero dedicar ao basquetebol quando acabar a carreira”, diz Valerdina Manhonga que nasceu para a prática da bola ao cesto no Estrela Vermelha, aprendeu a andar na Conseng, e jogou futebol com o irmão (ex-internacional moçambicano), a quem seguia por todo o lado. Com o Desportivo sagrou-se campeã africana de clubes.

Valerdina Manhonga, de 30 anos de idade, niassense, nunca foi uma menina como as outras.

Na infância, em vez de brincar com bonecas seguia o irmão mais velho nos pelados poeirentos da província nortenha de Niassa e, ao lado dos rapazes, chutava bolas com a mesma ou mais paixão do que eles.

As brincadeiras, confessa, femininas não reuniam adrenalina suficiente para uma criança que tinha energia para dar e vender. Essa energia e, ao mesmo tempo, a proximidade com o mundo dos rapazes, transformou uma miúda que preferia uma bola a uma boneca numa caçadora de pássaros.

Era comum vê-la a andar com uma fisga no pescoço pelos baldios de Niassa. “Às vezes brincava como mulher, mas o que mais me cativava era estar com os meninos. Eu queria jogar berlindes e aprender a fazer fisgas”, diz. Acrescenta: “cresci maria-rapaz porque gostava de futebol.”

No entanto, se tivesse de escolher uma modalidade para praticar teria muitas dificuldades. Até porque “tinha jeito para o futebol e também para o atletismo.” Uma inclinação para o desporto, digase, herdada dos progenitores ou não tivesse sido Margarida Bicula, mãe e “alicerce” de Valerdina, praticante de Andebol e Voleibol.

Mbinho, irmão do qual era, na infância, literalmente a sombra jogava basquetebol no Estrela Vermelha de Lichinga e acabou a jogar futebol no clube do mesmo nome, mas em Maputo. O senhor Manhonga estava ligado ao Matchedje de Lichinga e, para não fugir à regra, Valerdina ia ver futebol todos os fins-de-semana.

Embora levasse uma vida atravessada pelo desporto, Valerdina não podia imaginar sequer que conheceria o mundo através dele e que, actualmente, à beira de completar 31 anos, seria o esteio de uma aguerrida formação do Desportivo de Maputo. A alma de uma águia campeã africana de clubes e imbatível dentro de portas. Em suma: uma equipa que vive da agressividade de Valerdina Manhonga, uma jogador aparentemente franzina, mas inquebrável como aço.

O basquetebol

Em ‘91, o senhor Manhonga foi transferido para Maputo. Valerdina, ainda a familiarizar-se com a cidade grande, ia ver os treinos do irmão no Estrela Vermelha. Mbinho, no entanto, trocou o basquetebol pelo futebol. Mas, como a irmã não fazia nada a não ser segui-lo, sugeriu que ela treinasse basquetebol. Treinou uma semana e depois pediram-lhe documentos. “O senhor Manhonga não mos deu.” Virou-se, quando ingressou na Escola Secundária da Polana, para o atletismo.

Era veloz, mas ficou pouco tempo. “Acabei por não ficar porque uma vizinha puxou-me para o basquetebol”, explica. “Nos jogos entre turmas o mister Marcos Miguel (Jhonson) gostou de me ver jogar e perguntou por mim. Na altura, os atletas da Conseng treinavam até às 18h30 e eu tinha de estar em casa antes das 17 horas.”

Pelo horário do treino Valerdina não tinha muitas esperanças de que o pai a deixasse treinar. Mas daquela vez foi diferente e o “conservador” senhor Manhonga acabou por aceitar. Mas com uma condição: Valerdina tinha de estar em casa até um quarto para as 19 horas. Algo que foi cumprido religiosamente. Assim começou a carreira de Valerdina Manhonga no basquetebol nacional.

Os títulos

Os títulos na vida de Valerdina chegarem pela mão de Nazir Salé, técnico do qual fugiu em 2002 pelo rigor nos treinos. “Para quem estava habituada a treinar quando lhe apetecia, ser orientada por Nazir Salé foi um choque. Por isso optei por ir para a Académica.”

Voltou ao Desportivo em 2004 e reencontrou o técnico que temia. No primeiro e no segundo ano não ganhou nada. Em 2006 conquistou o campeonato nacional. No ano seguinte, o Desportivo conquistou o título de Campeão Africano de Clubes.

“É verdade que as estrangeiras constituíram uma mais-valia, mas o que me deu mais gozo foi a ambição e vontade de trabalhar e ganhar o campeonato.”

Contudo, o momento mais alto da carreira, no entender de Valerdina, ocorreu na Nigéria, em 2005, quando “ficámos em terceiro lugar no ´Africano´. Alto, explica, porque representámos muito bem o país e também porque ninguém tinha fé num grupo jovem e órfão de experiência. Os grandes nomes da selecção não estiveram presentes, mas isso acabou por fortalecer o espírito do grupo.”

Uma cozinheira curiosa

Gosta do cozinhar. “Não cozinha mal”, diz. No entanto, os mais chegados sabem que se trata duma cozinheira curiosa. Certo dia, contam, tentou preparar caril de amendoim como se faz no Sul. Valerdina seguiu uma regra de introdução de ingredientes na panela muita própria.

Para além de se ter esquecido do leite de coco colocou o amendoim antes de qualquer coisa. No final, obrigou todos a comerem, mas ninguém conseguiu ingerir o resultado daquela iguaria original. Reconhece que o caril de amendoim não é a sua praia, mas quando se trata de assados e de caril de coco “as pessoas podem comer sem sobressaltos.”

Formação académica

Está para entregar três trabalhos de licenciatura do curso de Planificação, Administração e Gestão. Não se vê a trabalhar no desporto, embora o seu curso possa ser aplicado nesse âmbito. Não esconde que o basquetebol já foi melhor. Por isso prevê “um futuro sombrio” para a modalidade.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!