Com 31 anos, Lu Ming gostaria muito de ter o segundo filho. Ela tem direito a isso e, inclusive, vem sendo incentivada a engravidar, mas hesita, pois não tem certeza de que as condições financeiras são adequdas para mais um bebê. Enfermeira em Xangai, ela faz parte dos casais isentados da regra do filho único em vigor na China desde o fim dos anos 70: ela e seu marido são filhos únicos e carregam nas costas o peso dos pais e dos avós, em um país onde o sistema de aposentadoria e segurança social ainda deixa muito a desejar.
Semana passada, na capa do China Daily, a diretora de planejamento familial Xie Lingli recomendava aos casais qualificados “que tenham duas crianças porque este método pode ajudar a reduzir a proporção de pessoas idosas (na população) e prevenir uma futura escassez de mão de obra”. Dias após este apelo no jornal oficial em inglês, ela dizia, por outro lado, segundo a agência Nova China, que Xangai não tem intenção de se desfazer da política oficial de controle de natalidade, em vigor há três décadas.
Nesta sucessão de declarações, Wang Feng, professor de sociologia da Universidade da Califórnia de Irvine, vê o reflexo da luta entre os especialistas em demografia, preocupados com o envelhecimento da população, e os partidários da manutenção do controle. “O alarde da mídia mostra que o vento está soprando em outra direção há muito tempo”, disse Wang. “A China está diante de uma decisão monumental: o que fazer de uma política adotada como uma medida de urgência e que deveria ter sido mantida apenas sobre uma geração?”, acrescentou.
Qualquer que seja a saída, o declínio da população é hoje inevitável após mais de 15 anos de natalidade inferior ao piso de renovação das gerações de 2,1, segundo ele. Principalmente porque os jovens educados na China, atualmente, tendem a ter cada vez menos crianças. “Nem todo mundo pode se permitir financeiramente ter uma segunda criança. É preciso calcular todo o custo disso, caso contrário é algo irresponsável”, disse Lu Ming. Wang Feng aciona o alarme: “A China deve rapidamente se conscientizar da crise demográfica atual para impedir que ela se agrave”.
Como em Xangai, onde o incentivo público para a segunda criança visa, para ele, combater a forte propaganda pelo filho único. Um responsável de um escritório local de planejamento familiar em Xangai afirma que os casais qualificados vêm sendo incentivados a ter o segundo filho desde que as isenções foram decretadas há cinco anos.
Segundo este responsável, que pediu anonimato, os futuros casais se vêem assim sistematicamente questionados sobre seu ambiente familiar para determinar se farão parte das exceções à regra do filho único. É o caso de um casal que tem pelo menos um dos membros com deficiência, se ele é pescador de alto-mar há no mínimo cinco anos, ou filho único de uma família rural. Mas enquanto brinca com seu filho em um parque em Xangai, Huang Yuanxiang, de 51 anos, se vê no centro do problema: o financiamento de boas escolas, das atividades extra-escolares e de tudo o que uma criança precisa hoje. “Na minha geração, ninguém era rico e nada custava tão caro. Não nos custava muito ter mais uma criança”, disse.