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Jovem sente-se traído pelos próprios pais

Jovem sente-se traído pelos próprios pais

Armindo Victorino Vicente, residente em Mocuba, é um jovem que se sente traído pelos pais. Com apenas 20 anos de idade, ele viu-se obrigado a abandonar os estudos para se dedicar à produção de chapas de inscrição para viaturas e motociclos e blocos de cimento, como forma de ganhar a vida, devido à separação dos seus pais que optaram por vender todos os bens da família e cada um seguiu o seu caminho, deixando o rapaz entregue à sua própria sorte.

Quando nos finais do ano transacto (2013), os seus pais se divorciaram, Armindo Vicente não sabia o que o futuro lhe reservava. No princípio, ter os progenitores separados não fazia nenhuma diferença na sua vida, uma vez que ele passou parte da sua infância em casa de alguns familiares.

Passados alguns dias após os pais terem tomado a decisão de desfazer a união que perdurou mais de 20 anos, os mesmos acordaram em vender todos os pertences do casal, incluindo a moradia na qual residia. O propósito era cada um regressar à sua terra de origem.

Numa primeira fase, Armindo era de opinião de que os bens fossem vendidos. A sua ideia residia no facto de, após a comercialização, como único filho homem do casal, fosse ele a pessoa que pudesse ter a maior parte da herança. “Antes de ter descoberto as reais intenções dos meus pais, eu era de opinião de que tudo fosse vendido. A minha ideia era receber o dinheiro e desenvolver as minhas actividades, sem ter de depender dos meus progenitores e de outras pessoas, mas não foi o que aconteceu”, lamenta jovem.

Os pais de Armindo venderam tudo e não deixaram quase nada para o jovem que na altura frequentava a 9ª classe na Escola Secundária Samora Machel, arredores da cidade de Mocuba, tendo cada um seguido o seu rumo, deixando o jovem entregue à sua própria sorte.

Mergulhado num mar de incertezas, Vicente viu-se obrigado a abandonar os estudos para procurar uma actividade que lhe pudesse servir de sustento. A primeira ideia que surgiu foi a produção de blocos para a construção de casas. “Deixaram-me sozinho e sem nada. Eles não se preocuparam comigo nem com o local onde eu passaria a viver. Os meus pais decepcionaram-me e cada um foi para a sua terra de origem. A minha vida ficou virada de cima para baixo”, conta.

Armindo Vicente passou a viver momentos difíceis da sua vida, pois já não tinha onde morar e nem sequer o que comer. Felizmente, a sua irmã decidiu acolher o jovem, passando este a residir com ela. O convite mudou o rumo dos acontecimentos, mas não alterou o facto de ter abandonado os estudos, porque ela não dispunha de condições financeiras suficientes para custear a formação do seu irmão.

Nos princípios do ano em curso, Armindo Vicente pensou em abraçar outra actividade que pudesse garantir o seu sustento e, igualmente, ajudar sua irmã nalgumas despesas diárias. Portanto, além do fabrico de blocos de cimento e de argila, vulgo tijolo queimado, ele decidiu engrenar na produção de chapas de matrículas para veículos.

Com a ideia na mente, ele procurou um profissional na área de matrículas para veículos de modo a aprender aquele ofício. Os caminhos levaram o jovem até um cidadão, carinhosamente tratado por mestre Boy, que tornou o sonho de Armindo uma realidade em menos de um mês.

Apesar da sua habilidade em desenho artístico, a formação foi muito dolorosa, uma vez que lhe era difícil entender os segredos da pintura. Nos finais de Janeiro do corrente ano, o jovem entrou no mercado automóvel, passando o tempo ao lado do seu professor, aperfeiçoando e conjugando as suas habilidades com a prática.

“Foi fácil aprender a fazer matrículas. Com a minha habilidade em desenho técnico, o desafio foi aprender a misturar diversas cores para pintar as chapas de inscrição e passei a acompanhar o trabalho do meu mestre para ter mais conhecimentos sobre a área”, disse Armindo.

Volvidas algumas semanas, o jovem passou a formar uma dupla com o seu mestre, tendo começado a ganhar dinheiro no mercado da cidade de Mocuba e em alguns postos administrativos do distrito com mesmo nome.

Os valores cobrados para a produção das chapas de inscrição variam de acordo com a qualidade do trabalho, partindo dos 200 meticais (as de cor preta e branca) e 300 meticais ou mais (as multi-cores). O valor sobe quando os proprietários dos veículos pretendem adicionar algo nas matrículas dos automóveis.

Diariamente, a equipa factura no mínimo dois mil meticais. O valor é repartido ao meio. Com o crescente parque automóvel na cidade de Mocuba, aquela actividade mostra-se lucrativa e, segundo os produtores, é um dos poucos ofícios que não corre o risco de se extinguir facilmente.

Com o valor que amealha, Armindo Vicente consegue ajudar a sua irmã nas despesas diárias. Embora as vicissitudes da vida tenham obrigado o jovem a abandonar os estudos, ele pensa voltar à escola.

Mototaxistas: os principais fregueses

O @Verdade soube de Armindo que os principais fregueses são os mototaxistas. No mercado de trabalho daqueles citadinos ter uma matrícula bem estruturada e visível é uma vantagem com vista a atraírem a atenção dos clientes. Diariamente, ele atende, pelo menos, 10 cidadãos que desenvolvem aquela actividade.

“Estamos a lutar para criar um posto de trabalho fixo”

Um dos cenários que tende a prejudicar o trabalho daqueles profissionais é o facto de exercer a actividade na via pública, pois eles são obrigados a mover os seus instrumentos de trabalho todos os dias de um lado para o outro. Porém, para colmatar a situação, Armindo e o seu formador pensam arrendar um espaço que servirá de oficina destinada à produção de chapas de inscrição para veículos.

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