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João Chissano: “A finalização continua a ser o calcanhar de Aquiles do futebol moçambicano”

João Chissano: “A finalização continua a ser o calcanhar de Aquiles do futebol moçambicano”

Duas semanas depois do término da fase de grupos de qualificação para o Campeonato Africano das Nações do próximo ano, em que Moçambique, mais uma vez, falhou o apuramento, por sinal pela terceira vez consecutiva, o seleccionador nacional de futebol, João Chissano, numa entrevista concedida ao @Verdade, falou dos aspectos que originaram o afastamento dos “Mambas” do certame que vai ser disputado na Guiné Equatorial, em substituição do Marrocos, que renunciou à organização da prova por temer a propagação do vírus do ébola.

Para os “Mambas”, diga-se, a terceira não foi de vez, uma vez que o combinado nacional não conseguiu apurar-se para a última fase do Campeonato Africano das Nações em futebol, que terá como anfitriã a Guiné Equatorial. Moçambique ocupou a terceira posição do grupo F, com um total de seis pontos, fruto de uma vitória, três empates e duas derrotas, tendo sido superado por Cabo Verde e Zâmbia que somaram 12 e 11 pontos, respetivamente. Antes da fase de grupos, os “Mambas”, devido à posição que ocupavam no ranking da CAF, foram submetidos a duas eliminatórias.

Na primeira, Moçambique eliminou a “simpática” equipa do Sudão do Sul com o agregado de 5 a 0. Na segunda eliminatória, o conjunto liderado por João Chissano afastou a Tanzânia do antigo seleccionador nacional, Mart Nooj, pela marca de 4 a 3. Apesar do desaire, o timoneiro dos “Mambas” não escondeu a cara e aceitou o nosso convite para fazer o balanço da qualificação que, segundo ele, apesar do fracasso, foi frutífero, visto que antes desta campanha Moçambique não constava no top-100 do ranking da FIFA.

“Não é somente ter jogadores no estrangeiro que se consegue um apuramento para um Campeonato Africano das Nações (CAN), porque temos muitas selecções que mesmo com o grosso de jogadores a militar nas melhores ligas do velho continente, Europa, não conseguiram apurar-se para a fase final. Isso leva-nos a concluir que não falhámos a qualificação por falta de qualidade, porque no presente temos vários jogadores talentosos”, disse o seleccionador nacional, para depois acrescentar que “o que mais falhou foi o capítulo da finalização, uma vez que não conseguimos traduzir em golos as diversas oportunidades criadas nos seis jogos que disputámos nesta campanha: faltou discernimento por parte dos jogadores no último terço do terreno.

A finalização continua a ser um calcanhar de Aquiles do futebol moçambicano e para superar isso deve ser adoptado um trabalho apuradíssimo nas camadas de formação, visto que não se descobre goleadores nos seniores, mas sim nos escalões de iniciação.” De acordo com o nosso interlucor, na alta competição os treinadores são pressionados com vista a obterem resultados imediatos e não têm tido tempo para fazer um trabalho individual com os jogadores, e o exemplo disso é o Campeonato Nacional de Futebol findo, o Moçambola, em que antes do término da primeira volta muitos treinadores foram afastados por falta de resultados.

Os “Mambas” fizeram uma excelente primeira volta, apesar do empate comprometedor com o Níger em Maputo. Empataram em Ndola com os “Chipololopolos” e venceram Cabo Verde, uma das melhores selecções de África no presente; porém, ao contrário do que aconteceu na primeira, na segunda volta Moçambique conquistou apenas um ponto.

João Chissano considera que os dois empates com o Níger e a derrota caseira diante da Zâmbia acabaram com as aspirações do combinado nacional de marcar presença num “CAN” cinco anos depois. “Não podemos apontar apenas um jogo. Temos que olhar para todos os confrontos em que perdemos pontos. Se tivéssemos conquistado os três pontos nas duas partidas diante do Níger ter-nos-íamos qualificado como melhor terceiro classificado de todos os grupos tranquilamente, sem esquecer o confronto com a Zâmbia que, em caso de vitória, tínhamos a qualificação garantida”.

“Não fomos inferiores a nenhuma selecção que fez parte do grupo ‘F’

Não participar no Campeonato Africano das Nações pode trazer consequências negativas ao futebol nacional, visto que aquele seria uma grande montra para os jogadores moçambicanos. “Pela terceira vez consecutiva teremos de assistir ao ‘CAN’” pela televisão. Esta selecção não foi inferior a nenhuma das que integraram o grupo ‘F’ de qualificação ao Campeonato Africano das Nações em futebol, mas infelizmente não conseguimos apurar-nos e estamos desconsolados porque esta competição (CAN) seria uma grande vitrina para os jogadores nacionais, principalmente para os que evoluem no Campeonato Nacional de Futebol e isso pode trazer consequências negativas ao futebol moçambicano” disse Chissano.

Sobre a grande penalidade, falhada, frente à Zâmbia

Na decisiva partida frente aos “Chipolopolos”, Moçambique beneficiou de um castigo máximo e Dário Khan, capitão do combinado nacional, pediu para cobrar a falta, mas, em vez deste, o marcador de serviço, Dominguez foi quem se encarregou de tentar marcar o golo.

Instando a comentar sobre a nomeação do “puto maravilha” para converter o castigo máximo Chissano disse: “O Dominguez é quem cobra as grandes penalidades na selecção. Todos os penáltis que tivemos ele é que marcou, não faria sentido substitui-lo porque o público e todos os jogadores sabem que é o marcador de serviço. Talvez se ele tivesse mostrado a indisponibilidade de cobrar seria o Dário Khan a converter”.

Na partida seguinte, diante do Níger, fora de portas, o experiente defesa central e capitão dos “Mambas”, não viajou com a equipa, uma vez que abandonou o estágio sem dar satisfações à equipa técnica, muito menos à Federação Moçambicana de Futebol, o que deixou atónitos os adeptos dos “Mambas”.

Para Chissano “Dário Khan, simplesmente, cometeu o erro de não informar à “FMF” sobre a sua ausência no Níger. O caso já está nas mãos do Conselho de Disciplina da Federação Moçambicana de Futebol que vai tomar as respetivas medidas. Mas tenho que lembrar que ele já tinha abdicado de vestir a camisola da selecção e nós, equipa técnica, convencemo-lo a continuar porque ele constituía uma unidade imprescindível na nossa manobra defensiva”.

“Tenho dificuldades em concordar com Chiquinho Conde”

Depois de consumado mais, uma vez, um descalabro dos “Mambas”, no que diz respeito à qualificação para o Campeonato Africano das Nações em futebol, surgiram vozes a criticar a falta de liderança na equipa nacional e Chiquinho Conde, actual treinador do Maxaquene e uma figura incontornável do futebol moçambicano, foi o rosto desta crítica, o que, de certa forma, não preocupa o seleccionador nacional.

“É uma opinião e as opiniões devem ser respeitadas, visto que cada um é livre de emitir o seu parecer sobre um determinado assunto, mas tenho que dizer que há uma esquivança quando estas concepções surgem quando não conseguimos alcançar os objectivos preconizados. Eu como líder não vejo isso e não sei quais foram os motivos que o levaram a afirmar isso. Deprecio a opinião por ele ejaculada. Sou humano; por isso, também sou livre de não dar importância a algumas ideias e esta não foge à regra”.

“A equipa técnica é quem manda nas convocatórias”

Segundo relatos dos amantes do futebol na “Pérola do Índico” há uma interferência por parte dos presidente da Federação Moçambicana de Futebol, Faizal Sidat, na chamada dos jogadores com vista a fazerem parte da equipa nacional, o que para o seleccionador nacional não passa de um “diz-que-diz-que” disparatado.

“Isso não corresponde à verdade. As convocatórias cabem à equipa técnica: cada um dos integrantes da mesma traz a sua convocatória e discutimos quais são os jogadores a serem convocados, mas a decisão final é minha. Desde que estou no comando técnico do combinado nacional nunca sofri interferência de alguém que não seja da equipa técnica sobre os atletas a serem chamados para integrarem os trabalhos da selecção ”.

“Campanha de qualificação para os Jogos Africanos vai ajudar na renovação da selecção nacional”

Frustrado o apuramento para o Campeonato Africano das Nações, João Chissano já está com as atenções viradas para a qualificação para os Jogos Africanos, que serão realizados no Congo-Brazzaville no próximo ano. Para o timoneiro dos “Mambas”, esta campanha pode ajudar na descoberta de jogadores para a, tão almejada, renovação do combinado nacional.

“No presente iniciámos o trabalho, não apenas de pesquisa, mas de acompanhamento da selecção nacional na categoria de sub-20 e nesse leque de jogadores vamos escolher alguns atletas para fazerem parte da formação dos sub-23. Além desses desportistas, vamos convocar jogadores que militam no Moçambola. Com esse trabalho queremos criar as bases para a renovação do combinado nacional”. Refira-se que na primeira eliminatória de acesso aos Jogos Africanos, Congo Brazzaville – 2015, Moçambique vai medir forças com a sua congénere do Uganda.

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