A resposta à questão acima é para já negativa, mas acreditamos que ela abre uma nova forma de olhar para o papel do Estado moçambicano, o mesmo que tem como objectivo garantir a Justiça, a Segurança e o Bem-estar do povo, o que, na realidade, infelizmente, ainda é uma miragem neste país.
A constatação, por sinal negativa, pode parecer simplista e reducionista, quando tomamos em consideração as razões que estão por detrás da pergunta que dá título ao texto: a exportação (i) legal de madeira através do porto de Nacala, em Nampula.
Mas, diga-se, é esta impressão com que se fica quando um Estado se confunde com um partido, e vice-versa, ou quando se assiste a episódios que se parecem mais com as cenas de uma telenovela mexicana.
Pode parecer que estamos a caricaturar mas não estamos, pois esta é a pura realidade. Aliás, o comportamento do Governo e, por tabela, do Estado, é que é assim. Por nós, Jornal @Verdade, como um órgão de informação independente, apenas limitamo-nos a dar visibilidade às rotineiras práticas (enviesadas) do Executivo de Guebuza.
O recente caso do processo de verificação do conteúdo dos cerca de seiscentos contentores de madeira que foram retidos no porto de Nacala é paradigmático da promiscuidade do Estado, Governo e dos insaciáveis interesses empresariais pessoais dos dirigentes deste país. Ou seja, o que se viu no passado dia 8 de Julho é a prova cabal do nível que a “Corrupção Organizada” atingiu em Moçambique.
O que se passou em Nacala não é mais do que falcatrua – habilmente orquestrada e, certamente, com gente poderosa envolvida no embuste, tendo em conta o facto de ninguém ter-se dado conta da madeira – que lesa o Estado moçambicano em milhões de meticais.
Por que razão a Imprensa foi escorraçada do recinto portuário? Porque a inspecção passou a ser feita à porta fechada? Sem pretendermos insultar a inteligência do leitor, as respostas as essas perguntas podem revelar que a preocupação em salvaguardar os interesses (financeiros) pessoais está acima dos legítimos interesses do povo moçambicano. Pois é sabido que a madeira pertence a seis empresas, quatro chinesas e as remanescentes de capitais mistos (moçambicanos-chinesas).
Este é o terceiro caso de centenas de contentores que são retidos no porto de Nacala quando já se encontravam no interior dos navios prontos para içar a âncora com destino à Ásia.
Nós, os moçambicanos, assistimos, quietos e serenos, à reiteração de gangues, travestidos de empresas, espoliando os nossos recursos naturais. Não devemos deixar que o nosso país continue a ser uma das nações mais pobre do mundo, como resultado de roubo/exploração a que somos sujeitos.
Não devemos permitir que uma minoria continue a ampliar o seu património pessoal para lá de inaceitável à custa do suor – e também sangue – da população.
É chegada a hora de o povo assumir a sua responsabilidade e iniciativa política em relação à “Pátria Amada” e deixar de cantar “vivas e hossanas”, além de abdicar de subscrever as perversas decisões que visam levar para o abismo a nação de todos nós. É contra este duplo crime que se levanta a questão: Isto ainda é um país?
Errata: Na semana passada – edição nº 144 d@ VERDADE – os créditos em relação ao Editorial saíram trocados. O texto é da autoria do Chefe de Redacção, Rui Lamarques, e não do Director de Informação, João Vaz de Almada, como erradamente veio publicado. Pelo incómodo, pedimos as nossas desculpas.