A maioria do Partido Trabalhista israelita votou a favor da participação no governo de Benjamin Netanyahu, em uma sessão extraordinária organizada na terça-feira para decidir acerca do acordo de coalizão fechado entre Ehud Barak e o futuro primeiro-ministro.
A votação refletiu o momento de extrema divisão interna do partido, já que 680 delegados trabalhistas votaram pela coalizão, enquanto 507 foram contra.
“Estamos diante de uma decisão muito dramática, acho que a mais dramática decisão que precisamos tomar nos últimos 60 anos”, estimou o secretário-geral da formação, Eitan Cabel, antes da votação. “Se temos o mínimo de vontade de sobreviver, precisamos todos votar contra aqueles que desejam derrubar tudo”, acrescentou.
O deputado Ophir Pines-Paz, por sua vez, disse que a escolha era uma questão de vida ou morte para o partido, que teve papel fundamental na formação do Estado de Israel. “Senhor presidente do partido”, declarou, dirigindo-se a Barak, “você recebeu um mandato para ser nosso líder (…), você não recebeu um mandato para jogar nosso partido na lata de lixo da História”.
Alguns trabalhistas acusam Barak de querer manter seu cargo como ministro da Defesa a qualquer preço, mesmo que seja às custas dos princípios do partido.
O acordo, negociado durante um longo período entre Netanyahu e Barak e concluído esta manhã, dá ao futuro governo maioria no parlamento israelense, que tem 120 cadeiras, com 27 deputados do Likud, 13 do Partido Trabalhista, 15 do Israel Beitenu e 11 do Shaas.
Recebido no congresso trabalhista antes da votação com aplausos de um lado e vaias do outro, Barak disse a seus colegas que Israel “precisa de unidade” depois da disputada eleição geral de fevereiro, na qual o partido amargou o pior resultado de sua história.
“A maioria absoluta dos cidadãos quer nos ver junto com a direita, no mesmo governo”, declarou. “Não tenho medo de Benjamin Netanyahu. (…) Nós seremos um contrapeso, e garantiremos que não haverá um governo de direita”, acrescentou, reforçando o argumento usado na semana passada para justificar sua decisão.
A princípio, Barak se recusou a aceitar o convite para integrar a coalizão ao lado do Likud e de outros partidos de direita, mas foi convencido pelo próprio Netanyahu em uma conversa a portas fechadas, da qual saiu afirmando que a participação do Partido Trabalhista no governo “é do interesse de Israel”.
Após o resultado das eleições, quando foi designado pelo presidente Shimon Perez para formar o próximo governo, o líder do Likud buscou o apoio do Partido Kadima, da ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, que disputava com ele o posto de premier, mas recebeu uma firme negativa.
Livni recusou-se terminantemente a integrar uma coaligação com Netanyahu e declarou que ficaria na oposição, frustrando a primeira tentativa de ‘Bibi’ de formar um governo amplo e diversificado.
Sua preocupação era compor um gabinete apenas com a extrema direita, o que reduziria bastante as chances de dar continuidade ao frágil processo de paz iniciado com os palestinos e enfraqueceria sua administração.
Segundo a imprensa israelita, o acordo estabelece que, em troca de seu apoio na coalizão, os trabalhistas receberão cinco ministérios (Defesa, Assuntos Sociais, Agricultura, Comércio e Indústria, além de um ministro sem pasta), o posto de vice-ministro e a presidência da importante Comissão Parlamentar de Assuntos Exteriores e Defesa.
O acordo também prevê que o governo de Netanyahu se comprometa em “alcançar um amplo acordo de paz regional”, além de respeitar os pactos internacionais já assinados por Israel e trabalhar pela redução dos assentamentos judeus na Cisjordânia, considerados ilegais pela atual administração.
Netanyahu tem até o dia 3 de abril para concluir a formação do governo.