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Inhambane: onde o recolher obrigatório para prevenção da covid-19 não faz diferença

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Antes da covid-19, esta cidade já era assim: taciturna. Veio o recolher obrigatório por força do Decreto Presidencial e o abalo “sísmico” não atingiu grande magnitude na escala dos munícipes daqui. Eles já vêm vivendo na pacatez, numa rotina herdada dos antepassados, tirando alguns focos na vida normal, em que um grupo reduzido de jovens “viola” esses princípios com alguma intensidade. Mas a pandemia respiratória trouxe perturbações no Turismo, na Pesca e na Educação, “não há pior coisa que ter um filho em casa sem fazer nada, estando em idade escola”.

O choque mais visível, por exemplo na área do Turismo, é o que podemos encontrar na Praia do Tofo, onde não vai ninguém, deixando toda aquela exuberância da natureza sem mirones para desfruta-la, estivemos lá para testemunhar essa desolação. As portas do Hotel Tofo-Mar estavam fechadas e a esplanada, de onde se pode contemplar o oceano Índico, estava ali, vazia, entregue ao abandono, tornando-se, por isso mesmo, sombria.

A praia e o hotel são apenas exemplos de uma dor mais profunda. Em todos os empreendimentos turísticos da cidade não há actividade, ou se há, será apenas uma pequena gota que vai passar despercebida, está tudo fechado, de acordo com José da Cunha, presidente da Associação Provincial de Hotelaria e Turismo. “O Turismo de praia, sol e mergulho, praticamente já não se pratica, e isso tem consequências, não só a nível da economia da cidade, assim como tornou-se um golpe na renda das famílias”.

Muitos dos trabalhadores têm os seus contratos suspensos, outros foram simplesmente dispensados, e ninguém sabe quando é que esta vida ora intensa e promissora, vai retornar. “Os subsídios que deviam ser pagos aos trabalhadores dispensados ou com contratos rescindidos, alguns deles estão a ser feitos fora da Lei. Há processos movidos junto ao Ministério do Trabalho, mas esta instituição ao abordar os patrões, defronta-se com o facto de haver indisponibilidade de tesouraria, uma vez que está tudo fechado, as empresas não estão em condições”.

Entretanto, José da Cunha revela que seria de bom senso que, ao voltar-se ao trabalho, “quando tudo isto passar”, os trabalhos fossem ressarcidos. “Os trabalhadores devem prevenir-se enquanto estiverem nesta incerteza de emprego, para poderem voltar quando as condições assim o permitirem”. Esta chamada de atenção vem na sequência de que houve alguns trabalhadores infectados, porém estão recuperados.

Outro aspecto importante referenciado por Cunha, é de que o turismo é uma área transversal, que passa pelos transportes. “Por exemplo, nós tínhamos um autocarro diário que fazia Maputo-Tofo e Tofo-Maputo, e levava turistas, aliás foi por causa dos turistas que o mesmo foi criado, mas hoje a sua operacionalidade está afectada, foi tomado pela população. Outra linha rodoviária era de Johanesburg-Praia da Barra, uma vez por semana, e hoje essa linha também está afectada por conta da covid-19”.

A situação está deveras difícil. Cada um está entregue à sua sorte. “O BNI e outras instituições bancárias tinham disponibilizado uma linha de crédito, mas ninguém na área do turismo aqui na cidade de Inhambane, aderiu por causa da imprevisibilidade da situação. Ninguém sabe qual é o impacto que o próximo decreto vai criar. A África do Sul foi banida dos voos internacionais e isso afecta sobremaneira o nosso sector. Podíamos ter pensado antes no Kenya, mas ninguém imaginada neste desastre que estamos a sofrer”.

Numa altura em que se faz um apelo vigoroso para que todos adiram à vacinação, o Presidente da Associação de Hotelaria e Turismo, diz que esse aspecto está acautelado, “estamos a encetar esforços junto de parceiros, em coordenação com a CTA, no sentido de adquirirmos vacinas para os trabalhadores da área do Turismo e suas família”.

Há muito peixe mas pouca gente vai pescar

Inhambane é uma cidade pesqueira, nunca será redundante dizer isso. Hoje, porém, poucos pescadores se fazem ao mar, segundo o director dos Serviços Distritais de Agricultura (SDAE) e Pesca, Remarito Francisco. Em contrapartida, há muito peixe, pois a lógica diz-nos que quanto menos pressão, mais pescado.

De acordo com o senso de 2017, foram registados 470 pescadores, mas neste momento pode haver mais. Há movimentação de pessoas do campo para a cidade, e alguns dedicam-se à pescaria. “Os pescadores que não se fazem ao mar, tomam esse procedimento por saberem dos riscos que correm no contacto com os materiais de trabalho e com os colegas. Temos feito trabalhos de consciencialização junto aos conselhos comunitários de Pesca, e as nossas mensagens têm sido acatadas”.

Há um link que aproxima o SDAE aos pescadores, “e isso tem facilitado imenso as nossas actividades. Aliás não são só eles o nosso foco, temos os construtores navais, líderes comunitários, com a respectiva comunidade, e o que temos sentido é que as coisas têm corrido de feição”.

“Não há pior coisa que ter um filho em casa sem fazer nada, estando em idade escola”

Apesar de ser uma cidade tranquila, independetemente das situações que possam ocorrer, os alunos têm a sua quota no movimento urbano. Quando estão de férias é notável a sua ausência nas ruas e nos transportes semi-colectivos. Quando estão em aulas, também não passam despercebidos, abarrotam os autocarros, povoam as praças, e nas vias públicas eles deixam a sua marca. Todavia, neste momento há um vazio no espaço que lhes pertence, as escolas estão fechadas. Todas!

Segundo informações facultadas pela directora distrital da Educação da cidade, Otília Luís, , as quarenta escolas – 8 secundárias públicas, 27 primárias públicas, um Instituto Comercial e Industrial, um Instituto de Formação de Professores, três primárias privadas – estão encerradas.

Abordamos uma encarregada de educação sobre a situação de ter as crianças em casa sem irem a escola, e ela disse-nos que isso é simplesmente triste. “Se você tem uma criança a ir normalmente a escola e precisa de muita atenção, tê-la em casa é muito mais exigente. Não há pior coisa que ter um filho em casa sem fazer nada, estando em idade escola. É muito complicado”. Mas é esta a realidade, que se torna mais difícil ainda, porque esses meninos não podem ir jogar a bola, e mesmo que o quisessem, os campos escasseam nos bairros.

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