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Inhambane com mais “chapas” que passageiros

Pode ser apenas uma impressão. Mas é um facto que, ao contrário do que acontece noutras capitais provinciais como Maputo, a cidade de Inhambane não se queixa da falta de transporte colectivo de passageiros. Existe, sem grandes constragimentos, a todo o momento, da cidade às praias do Tofo e da Barra, e aos bairros de Muelé, Nhapossa e Guiua. Porém, o que se pode questionar é se esses meios oferecem aos utentes alguma comodidade. E a resposta é por demais óbvia: não há absolutamente nenhum conforto, ou, pelo menos, não somos transportados com o mínimo de dignidade.

É um assunto que já ninguém se interessa em debater, ninguém se recusa a ser ensardinhado. Ou seja, cada vez que os passageiros se resignam à humilhação, os tripulantes humilham-nos mais. Sempre que um daqueles pequenos autocarros pára para levar mais pessoas, parece haver mais espaço lá dentro. O mais doloroso é perceber que aqueles que estão à espera do pequeno autocarro, mesmo vendo que não há espaço para mais ninguém, querem embarcar. E entram.

As queixas que se ouvem lá dentro não passam de murmúrios, que se vão perdendo no conformismo de cada um, que pensa que ninguém vai resolver este problema. Todos querem saber do porquê deste sofrimento todo se a praça abarrota de “chapas”. O problema é que os “chapeiros” estão metidos numa luta selvática de ganhar o pão, e a dignidade do passageiro torna-se algo inexistente. Não querem saber se você está bem acomodado ou não, porque ao fim do dia têm que levar dinheiro para o patrão e para eles próprios. É um dilema. E quem paga por isso, em última instância, é o passageiro.

Quem sofre mais é aquele que está à espera nas paragens intermédias, que já não tem lugar para se acomodar. Se deixar este carro passar, por estar cheio, o outro também pode vir cheio, e o melhor é aceitar a humilhação de ser tratado como gado. As pessoas já não falam disso. Já falaram e as coisas continuam assim mesmo. E o melhor que esses passageiros encontraram é entrar e ter alguém lá dentro para conversar e encurtar a distância. Já chegaram, infelizmente, à conclusão de que, mesmo chorando, ninguém lhes vai dar de mamar. E quando é assim, o melhor é não desperdiçar as lágrimas.

Quem faz diariamente o trajecto Nhapossa-Cidade, sofre o martírio de ter as paragens muito próximas umas das outras. O tempo que leva para fazer essa distância é inadmissível. Não faz sentido aquela separação mínima. Por exemplo, entre a Mafurreira e a ponte-cais, na cidade de Inhambane, que é uma distância de pouco mais de dois quilómetros, existem nove paragens.

É um absurdo. Entre a Mafurreira e Gogemo, também foram colocadas nove paragens, e a distância não difere muito da que fizemos referência. É um castigo viajar assim, mas o que parece é que ninguém está disposto a mudar as coisas. Nem o próprio município que, por obrigação, devia tomar medidas parar resolver este problema.

O Sorriso da Luz

Depois das 21h:00 pode ser difícil encontrar um “chapa” disposto a fazer viagem. A essa hora não há negócio. Um e outro passageiro é que vão precisar de ser transportados àquela hora, porque a partir das 15h:30 a cidade começa a ficar vazia. Todos querem voltar para casa. É a hora de pico, que vai até perto das 20h:00. Depois disso será o ponto morto. Mesmo assim há quem anda na “contra-mão” nesta trajectória. Há um “chapa” que leva o nome de O Sorriso da Luz, cujo dono se chama Luz Francisco Fernando. Este é o salvador do “último turno”. É o único que trabalha até às 23h:00, depois de todos os outros terem recolhido.

Falámos como ele há bem pouco tempo, na praça da cidade. Ele afirmou que faz esse sacrifício por dois motivos: para ajudar aqueles que precisam de transporte àquelas horas e, também, aproveita para fazer um pouco mais de dinheiro. “Há pessoas que pensam que nós ganhamos muito com este trabalho, e isso não é verdade. Agora existem muitos carros, há uma grande disputa pelo espaço e no fim do dia a nossa contabilidade não chega a ser grande coisa”.

O Sorriso da Luz é uma viatura cansada, mas tem de estar na estrada porque o dono precisa de sobreviver, como tantos outros que andam por aqui com as suas viaturas debaixo de muitas deficiências mecânicas. O meio de transporte a que nos referimos ganhou fama por causa disso mesmo, trabalha para além do tempo normal de movimentação de pessoas na praça. Muitos estudantes em regime pós- -laboral da zona da Fonte Azul, Muelé e Nhapossa, aplaudem este homem que os espera até sairem da escola. Quem apanha o último barco da Maxixe e quer ir para as zonas percorridas por este “chapa”, sabe que tem transporte garantido.

Mas aos fins-de-semana já não há “chapa” até às 23h:00. “Termino as 21h:00 porque também preciso de descansar”. Na verdade se você não tem transporte próprio, estando a viver longe deste centro urbano, não é aconselhável ficar a divertir-se até altas horas da noite, a não ser que vá recorrer aos serviços de táxi, sempre disponíveis.

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