O governo boliviano ofereceu, Terça-feira, um diálogo com os grupos indígenas que convocaram uma nova marcha contra a construção duma rodovia amazónica financiada pelo Brasil.
Desafiando abertamente o governo esquerdista do presidente Evo Morales, os indígenas aprovaram iniciar a nova marcha rumo a La Paz no dia 20 de Abril.
Ano passado, o grupo já havia feito um protesto semelhante saindo do Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), que seria atravessado pela futura rodovia.
Os indígenas que vivem no parque dizem que a obra causará um grave dano ambiental. O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, disse aos jornalistas que o governo está “respeitoso” com o direito indígena ao protesto, e mantém-se “absolutamente aberto para entabular qualquer diálogo” que leve a uma solução da disputa.
“Vamos fazer todos os esforços que forem necessários para (…) ir resolvendo as dificuldades”, acrescentou ele, garantindo que o governo estaria disposto a discutir inclusive uma mudança no traçado da estrada.
Quintana afirmou ainda que, independentemente da marcha, o governo realizará, em Maio, um referendo no Tipnis sobre o projecto, conforme prevê uma lei de Fevereiro passado, que os líderes do parque rejeitam.
Ao anunciar a convocação da marcha, na noite da Segunda-feira, o dirigente indígena Fernando Vargas convidou “o povo boliviano para ser parte dessa luta e da defesa e cumprimento da Constituição, para que cessem as violações aos direitos humanos e à protecção ambiental”.
Segundo Vargas, o protesto deve receber ampla adesão das populações urbanas, a exemplo do que já aconteceu na primeira marcha, entre Agosto e Outubro de 2011.
O impasse acabou por abalar a popularidade de Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, e o obrigou a sancionar uma lei declarando o Tipnis como “intangível”.
Logo depois disso, ele sofreu numas eleições directas para a magistratura, a sua primeira derrota eleitoral desde que chegou à presidência, em 2006.
A nova marcha foi convocada apesar duma intensa campanha de Morales, que apenas três dias antes havia visitado o parque levando geradores eléctricos e prometendo estimular o desenvolvimento da região, numa estratégia para conquistar apoio à construção da rodovia de 306 quilómetros que ligará a Amazónia boliviana à região de Cochabamba.
Morales criticou os líderes indígenas que rejeitam o plebiscito sobre a estrada, o que segundo ele é “antidemocrático, é negar aos próprios indígenas o direito à participação”.
A nova marcha foi aprovada por 38 dos 63 corregedores (autoridades comunitárias) do Tipnis. Há alguns meses, outro grupo indígena, este identificado com o governo, realizou outra marcha, defendendo a construção da estrada.
A obra, avaliada em 420 milhões de dólares, está a cargo da construtora brasileira OAS, que já trabalha nos dois extremos da estrada, mas ainda não pôde iniciar as obras no trecho central do traçado, de 177 quilómetros, que atravessa a área protegida.