Quando este jornal chegar às suas mãos, já haverá matéria suficiente para sustentar um debate que ainda está muito longe de chegar ao fim: dança contemporânea.
Aliás, na abertura do Festistival Kinani, que decorre desde segunda-feira, em Maputo, propositadamente foi estreada a peça que leva o nome de (In)dependência, e que, na verdade, chama-se Limite. É uma trilogia de dança que faz uma viagem pelo país, desde os primórdios da nossa independência, passando pelos dezasseis anos de guerra entre os guerrilheiros da Renamo e as forças governamentais, até aos desenvolvimentos actuais.
Limite remete-nos a uma reflexão sobre a nossa abertura ao mundo, à interacção global cada vez mais inevitável. Não será exactamente para condenar o que está a acontecer, particularmente na área da dança, mas para mostrar aquilo que está sendo constatado. As prováveis vantagens disso. Limite serviu de ponto de partida para um festival que encerra no domingo, com a actuação do grupo francês Kubilai Khan, no Centro Cultural Franco-Moçambicano e que tem em vista juntar actores de vários países da Europa e África. Por exemplo, Limite, estreado nos Estados Unidos da América no mês passado, tem esse condão de dar à luz tudo o que se está a fazer neste evento.
É um espectáculo da Culturarte, que juntou, em Nova Iorque, bailarinos e coreógrafos americanos e moçambicanos, com o objectivo de promover uma interacção. Depois de uma temporada preliminar em que se realizaram workshops de iluminação, dirigidos pelo conceituado técnico francês Michelle, e outro sobre jornadas culturais orientado pela sul-africana Sichel, jornalista cultural do The Star To Night, sedeado em Joanesburgo, e ainda um outro sobre a profissão de dança e coreografia, pela portuguesa Vera, agora se está no próprio ritmo.
Esta última, para além de orientar este workshop, traz ainda um bailado chamado Ausência, porque o que se pretende, essencialmente, é isso mesmo: juntar culturas, para que cada participante possa dar e receber, ao mesmo tempo. A outra parte será aquilo que os organizadores chamarão “Festival Off”. Este “subevento” decorre no Museu Nacional de Arte (MUSART), depois dos espectáculos principais.
Ou seja, depois das refeições, os artistas dirigem-se ao MUSART, onde há música ao vivo, dança tradicional e teatro. Tudo está a acontecer com a presença de protagonistas de Marrocos, Níger, Ilhas Reunião, África do Sul e Moçambique, por parte da África e Portugal, Espanha, França, Bélgica e Áustria, pela Europa. Segundo Eliot, esta terceira edição é produzida totalmente por Moçambique, depois de, nas duas primeiras, ter havido a participação do Centro Cultural Franco- Moçambicano, o Projecto Cuvilas e o Centro de Investigação Coreográfica Maria Helena Pinto.
“Vamos apoderar- nos do Plataforma de Dança Contemporânea em Moçambique, até porque é a primeira vez que se dá um nome ao festival e chama-se Kinani”. O nosso interlocutor referiu ainda que esta será uma forma de alargar este evento ao país inteiro. “Podemos não ir, por enquanto, a todas as províncias, mas através dos nossos coreógrafos e bailarinos, podemos promover a formação nesses locais e depois trazer os formados a Maputo”.
Indo pela luz de Luís Bernardo Honwana, “o aparecimento em algumas cidades do país de escolas de dança onde o balê clássico constituía a principal disciplina formativa e a dança moderna aparecia como via de saída, em paridade com os nossos ritmos tradicionais, trouxe alguma animação ao panorama da dança. Passou-se rapidamente da mera estilização das danças tradicionais para um trabalho de análise tendente à identificação e descrição dos seus passos e figuras e à articulação, a partir desses elementos, de toda uma nova linguagem coreográfica.
É aí que se começam a compor peças mais elaboradas, contando “estórias”, desenvolvendo temas”.
Viva Kinani!