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Idosa desamparada após a morte do marido

Idosa desamparada após a morte do marido

Em Nampula, muitos idosos encontram-se em situação de indigência absoluta. Algumas pessoas nessas condições acabam por morrer de desgosto. Maria Juma, de 80 anos de idade, residente no bairro de Namicopo, viu-se desamparada após a morte do seu marido. Presentemente, depende da boa vontade dos vizinhos, que têm prestado algum apoio oferecendo géneros alimentícios. A casa onde reside não oferece condições de habitabilidade e, quando chove, é um autêntico martírio, pois ela passa as noites sem se poder deitar.

O destino de Maria Juma mudou radicalmente no ano de 2000, altura em que o esposo perdeu a vida, vítima de doença. Presentemente, para sobreviver, depende da ajuda de pessoas de boa-fé. A única filha, fruto da união matrimonial, vive no distrito de Rapale, onde se casou. Pelo facto de depender do marido para as despesas de casa, a idosa reconhece que a filha está impossibilitada de sustentar a mãe, tendo em conta o elevado custo de vida no qual o país está mergulhado.

Alguns vizinhos de boa-fé dividem o pouco que têm com a anciã. A situação dela comove a todos. Porém, a pobreza de que todas as pessoas se queixam não permite que os apoios sejam feitos todos os dias. A vida de Maria tornou-se mais complicada quando a casa onde vive ficou parcialmente danificada, em consequência da chuva que se regista na cidade e província de Nampula. Mas valeu a pena a benevolência dos jovens da Comunidade Sant’Egídio que disponibilizaram material de construção (bambus, cordas e tijolos crus) para reerguer a casa de Maria Juma, que não escondeu a sua satisfação em relação ao gesto. A idosa pediu apoio, sobretudo alimentação. Devido à idade, ela já não consegue ir ao poço para acarretar água.

“Quando amanhece, a rotina é sempre a mesma. Acordo e fico à espera dos vizinhos”, disse reconhecendo o sacrifício e, ao mesmo tempo, afirmou que “isso pode ser chato para eles que deviam cuidar das suas famílias. Há dias em que passo fome porque eles não têm nada para me dar”. Segundo as suas palavras, o triste cenário vai-se repetindo diariamente, enquanto não aparece alguma instituição de caridade para acolher a idosa. Porém, ela suplica pela morte para se livrar do sofrimento a que está sujeita.

“Acho que Deus se esqueceu de mim”

Maria não descarta a possibilidade de Deus ter esquecido dela, mas a sua esperança poderá ser a última a morrer, porque ainda alimenta a fé de que poderá receber ajuda. “Será que Deus se esqueceu de mim”, questionou ao mesmo tempo que se consola quando diz que “aguardo uma compensação depois de tanto sofrimento que estou a passar”. Diferentemente de outros idosos que, passando pela mesma situação, se dirigem às lojas para pedir esmola, Maria não envereda pela mesma via por considerar que mendigar não dignifica o ser humano.

Vizinhos estendem a mão

A casa onde reside Maria está rodeada de pessoas, diga-se de passagem, de baixa renda. Fátima Gonçalves é mãe de três filhos, mas dispensa o cuidado que devia prestar às crianças para agradar aquela idosa. “Não tem sido fácil oferecer comida à vovó Maria, mas dividimos o que consigo”, disse Fátima. Muitas vezes, ela é que lava a roupa da anciã. Neste momento, já não o faz por falta de tempo. A vida de Maria é, de certo modo, marcada por frustrações. Para alegadamente se livrar do seu sofrimento, refugia-se nas bebidas alcoólicas. Aquilo que antes era um simples prazer, passou a ser um vício.

Apesar de este não ser o caso, em vários pontos do território moçambicano há anciãos na mesma situação em resultado de maus-tratos protagonizados pelos familiares. Todavia, recentemente, o Governo aprovou a Lei de Protecção da Pessoa Idosa, um dispositivo que visa garantir a defesa de indivíduos da terceira idade e a observância dos direitos que protegem esta camada social, muito vulnerável no país.

Para aqueles que sujeitarem os anciãos a um trato indigno ou infringirem, deliberadamente, os seus direitos, o documento prevê penas de prisão que variam de três dias a oito anos. Maria Amélia, do Departamento da Pessoa Idosa no Ministério da Mulher e Acção Social, disse ao @Verdade que em casos de humilhação de uma pessoa desta faixa etária se deve recorrer à Polícia local e posteriormente denunciar o problema à Direcção Distrital da Mulher e Acção Social.

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