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Homens armados tomam dois aeroportos em região da Ucrânia; ex-presidente reaparece

Homens armados assumiram o controle de dois aeroportos na região da Crimeia nesta sexta-feira, uma situação que os novos líderes da Ucrânia descreveram como uma invasão por parte de forças russas. Ao mesmo tempo, o presidente deposto Viktor Yanukovich reapareceu na Rússia depois de uma semana foragido.

Yanukovich disse que a Rússia tem de usar todos os meios ao seu alcance para impedir o caos na Ucrânia, enquanto a tensão aumentava na península da Crimeia, no Mar Negro, a única região de maioria étnica russa e o último grande bastião de resistência à derrubada dele, apoiado por Moscovo.

O presidente interino, Oleksander Turchinov, acusou a Rússia de agressão aberta e disse que Moscovo está a seguir um cenário semelhante ao que antecedeu a guerra com outra ex-república soviética, a Geórgia, em 2008. Um dia depois de homens armados tomarem o controle do Parlamento regional e ali hastearem a bandeira russa, um representante da Turchinov na Crimeia disse que 13 aeronaves russas desembarcaram na península do Mar Negro com 150 pessoas a bordo cada uma.

Mais de 10 helicópteros militares russos sobrevoaram a Crimeia e militares russos bloquearam uma unidade da guarda de fronteira ucraniana na cidade portuária de Sevastopol, disse o guarda. Um soldado no local confirmou à Reuters que integra a frota russa do Mar Negro, da qual parte tem sua base em Sevastopol, e disse que eles estavam lá para impedir o tipo de protestos registrados em Kiev que derrubou Yanukovich.

Algumas testemunhas também relataram ter visto veículos blindados russos e pelo menos um navio de guerra patrulhando a área. A frota negou que as suas forças estivessem envolvidas na ocupação do aeroporto militar perto de Sevastopol, onde homens armados também tomaram a pista, e um partidário do grupo descreveu o grupo armado no aeroporto internacional civil de Simferopol como milicianos da Crimeia.

A companhia aérea comercial da Ucrânia informou mais tarde que teve recusada autorização para entrar no espaço aéreo da Crimeia. O governo russo prometeu defender os interesses dos seus cidadãos na Ucrânia.

A Rússia afirma que não vai intervir pela força, mas sua retórica desde a remoção de Yanukovich, há uma semana, faz lembrar os preparativos para a invasão da Geórgia. Qualquer confronto armado na Crimeia teria grandes repercussões no mundo todo, já que a Rússia e países ocidentais divergem sobre a mudança de poder na Ucrânia e apoiam lados opostos na guerra civil da Síria. Eles, no entanto, se comprometeram a cooperar para sustentar a combalida economia da Ucrânia.

O Conselho de Segurança da ONU convocou uma sessão de emergência para mais tarde nesta sexta-feira a pedido dos novos líderes da Ucrânia, que alertaram para a ameaça à integridade territorial do país. Turchinov disse que não irá ceder às “provocações”.

O PAPEL DO KREMLIN

O principal funcionário do setor de segurança da Ucrânia, Andriy Paruby, disse que os homens armados na Crimeia estavam seguindo ordens vindas da cúpula da Rússia. “São grupos separados… comandados pelo Kremlin”, declarou Paruby, secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional, em entrevista televisionada , em Kiev.

Uma das opções que estão sendo consideradas é a da declaração de estado de emergência na Crimeia, acrescentou. Os Estados Unidos advertiram todas as partes a não inflamarem a situação e disseram ter abordado com a Rússia a questão da tomada dos aeroportos. Autoridades norte-americanas estavam buscando esclarecimentos sobre a origem dos homens armados.

O presidente dos EUA, Barack Obama, alertou a Rússia que qualquer intervenção militar na Ucrânia levará a consequências e expressou preocupação com os relatos de movimentos militares russos dentro do país. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou que o governo da Rússia, que colocou 150 mil soldados em alerta na quarta-feira para manobras de guerra perto da fronteira com a Ucrânia, lhe havia dito que não tinha nenhuma intenção de violar a soberania ucraniana.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que os novos líderes da Ucrânia deveriam pôr em prática um acordo político negociado pela União Europeia antes da queda de Yanukovich. Lavrov disse na sua página do Facebook que o Consulado Geral da Rússia na Crimeia iria distribuir passaportes russos para os membros da tropa de choque da Ucrânia, a Berkut, que foi dissolvida.

Os manifestantes acusaram a Berkut de disparar os tiros que mataram dezenas de manifestantes em Kiev.

PRESIDENTE DEPOSTO

Yanukovich, procurado pelo novo governo ucraniano pró-Europa por assassinato em massa, após as dezenas de mortes de manifestantes, reapareceu na cidade russa de Rostov-on-Don. As novas autoridades de Kiev começaram a tomar medidas para pedir a sua extradição. Yanukovich disse que não se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, mas falou com ele por telefone e se surpreendeu pelo fato de o líder russo não se pronunciar mais sobre a crise.

“A Rússia não pode ficar indiferente, não pode ser um espectador assistindo ao destino de um parceiro tão próximo como a Ucrânia”, declarou Yanukovich em entrevista coletiva. “A Rússia deve usar todos os meios à sua disposição para acabar com o caos e o terror que atingem a Ucrânia.”

Ele negou que tivesse fugido, disse que foi forçado a deixar Kiev por causa de ameaças, denunciou “anarquia, terror, caos e falta de lei” no país e afirmou que não ordenou o fuzilamento de manifestantes que precedeu sua queda. Suíça, Áustria e Liechtenstein tomaram medidas para congelar os bens e contas bancárias de cerca de 20 ucranianos, incluindo Yanukovich e seu filho. Ele disse que falar em contas bancárias estrangeiras é “conversa fiada”.

Os novos governantes da Ucrânia disseram que empréstimos no valor de 37 bilhões de dólares desapareceram das contas do Estado durante os três anos de Yanukovich no poder – uma soma assombrosa, mesmo para uma população agora acostumada a ouvir relatos de um estilo de vida luxuoso e uma residência opulenta perto de Kiev.

A nova liderança da Ucrânia disse que o país precisará de valor equivalente a esse – 35 bilhões de dólares – ao longo dos próximos dois anos para evitar a falência. O novo governo disse nesta sexta-feira que esperava obter ajuda financeira em breve e está preparado para cumprir os critérios de reforma exigidos pelo Fundo Monetário Internacional.

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