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HCB tem produção recorde mas o seu principal cliente não é Moçambique, onde há défice de energia

HCB tem produção recorde mas o seu principal cliente não é Moçambique

Foto cedida pela HCBA Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) registou nos primeiros três meses de 2016 um recorde de produção de energia eléctrica porém mais de metade da electricidade gerada foi vendida à África do Sul, enquanto somente um quarto de Moçambique está iluminado. Paradoxalmente a província de Tete, onde a Hidroeléctrica está implantada há cerca de cinco décadas, é a menos iluminada do país.

A HCB “alcançou a cifra de 4.364.22 GWh, valor correspondente a 7,51 por cento acima do planificado para o 1º trimestre do presente ano” indica um comunicado da empresa que destaca ainda que “esta eficácia é resultado dos investimentos de modernização das infraestruturas da cadeia de produção e transmissão energética, iniciados em 2009”.

Entretanto o @Verdade apurou, junto da Hidroeléctrica, que dos 4.364.22 GWh produzidos apenas cerca de 25%, 1.099,797 Gwh, foram destinados aos moçambicanos enquanto cerca de 59% dessa energia, 2.602,054 Gwh, foram vendidos à África do Sul. Os restantes 15% da produção foi fornecida ao Zimbabwe, à vila do Songo e ao consumo interno da Central e Subestação.

É irónico notar que desde que “Cahora Bassa é nossa” o número de agregados familiares que utilizam energia eléctrica para iluminação, “passou de cerca de 14% para quase 25%”, de acordo com o mais recente Inquérito ao Orçamento Familiar(IOF) do Instituto Nacional de Estatística(INE).

A província de Tete é aquela que tem a menor cobertura de energia eléctrica, apenas 11,2%, seguida de perto pela Zambézia com 11,5%, Niassa com 12% e Cabo Delgado com 12,1%. A província de Maputo é mais iluminada, com uma cobertura de 73,8%, enquanto na capital do país a electricidade chega a 93,4%.

Enquanto o primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário afirma que “a energia é um factor principal de desenvolvimento e de combate a pobreza” e promete “estabelecer 450 mil ligações por ano até 2025” na verdade não existe mais energia disponível para os moçambicanos.

Desde finais de 2010 que a Electricidade de Moçambique(EDM) opera em défice energético particularmente porque a Hidroeléctrica de Cahora Bassa já não tem mais energia disponível para o mercado nacional, devido aos compromissos futuros assumidos com a África do Sul e o Zimbabwe, e que serviram de garantia para o empréstimo do pagamento da reversão da barragem do Estado português para o moçambicano.

Para garantir a iluminação da região Sul a EDM tem estado a importar de energia da Eskom (África do Sul) que, de certa forma, revende a “nossa” energia que compra a um preço muito acessível à HCB por cerca de 10 vezes mais ao custo que adquire.

Outra solução da empresa estatal que detém o monopólio da distribuição de energia no nosso país tem sido adquirir electricidade à produtores independentes de energia eléctrica que também a vendem bem mais caro do que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, cujo preço para a EDM é de 3,5 dólares norte-americanos por quilowatt/hora(kWh).

Por exemplo a Aggreko, uma empresa da Escócia que opera uma central termoeléctrica existente em Ressano Garcia, vende electricidade à EDM por 15 dólares norte-americanos por kWh. Já a central termoeléctrica da Gigawatt Moçambique fornece por cerca de 10 dólares norte-americanos kWh.

Um documento interno da EDM destaca a necessidade da “reversão dos 200 MW do 5º Grupo da HCB que alocados a Eskom são fundamentais para o Balanço energético do País bem como para a minimização dos custos de energia.”.

Algo que os políticos preferem ignorar pois esta semana o Presidente Filipe Nyusi esteve a “vender” energia que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa já não tem ao Botswana, cujo Chefe de Estado esteve de visita ao nosso país justamente com o objectivo comprar essa energia que o seu país precisa mas a HCB não tem de sobra.

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