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Há traficantes de seres humanos em Maputo?

Foi por um golpe de sorte que Helena Madalena, de 15 anos de idade, diz ter escapado de tráfico protagonizado por um casal, há dias, no bairro da Costa do Sol, na cidade Maputo. Os dois indivíduos, segundo a adolescente, simularam conhecer a miúda e os pais. Eles desenvolveram uma conversa amigável, trataram-na de forma amável e alegaram que se dirigiam em direcção à zona onde mora.

Longe de pensar que se travava de um grupo de malfeitores, a rapariga consentiu que fosse transportada num veículo de pessoas desconhecidas. O caso deu-se por volta das 17h:30, quando a rapariga voltava da Escola Secundária da Polana, onde frequenta a 9ª classe. Ela acabava de se separar dos colegas. Helena Madalena ainda está traumatizada com a ocorrência. Por razões óbvias, omitimos a sua verdadeira identidade assim como a dos seus pais. Ao percorrer alguns metros, após afastar-se das colegas da escola, ela foi interpelada por um homem e uma mulher.

Estes fizeram-se passar por gente de boa-fé e persuadiram a jovem a viajar com eles. Entretanto, a meio do caminho, de repente, os referidos malfeitores ainda não identificados mudaram de trajeto, da Costa do Sol para o centro da urbe. “Eles fecharam os vidros do carro, bastante escuros, e tocaram música em volume ligeiramente alto. A partir daquele momento permanecemos no interior da viatura e passeámos pela cidade, enquanto eles falavam constantemente ao telefone com alguém”.

Por não saber para onde era transportada e por temer pela sua vida, Helena Madalena ficou desesperada mas não tinha a quem pedir auxílio. Para além de vidros escuros, no veículo no qual era conduzida havia barulho, o que não permitia que as pessoas vissem ou escutassem o que se passava no seu interior. “Gritei por socorro mas ninguém me ouvia e eles (os traficantes) não me davam atenção”.

A menina não se lembra dos sítios por onde a viatura passou até ao cruzamento entre as avenidas Joaquim Chissano e Angola, onde eles pararam a viatura e a senhora atirou uma revista pornográfica contra a vítima. “Ela disse para eu ler e escolher as partes que me interessavam. Quando recebi a revista e vi pessoas despidas estremeci. Fiquei sem saber o que fazer e bati violentamente no vidro do carro mas depois fiquei em silêncio quando a senhora me mostrou uma faca e com o gesto ameaçou-me de morte”, narrou a rapariga.

Em seguida, Helena Madalena permaneceu no interior do automóvel presa com o cinto de segurança e amordaçada. Nessa altura, o acompanhante e motorista – que usava roupa de cor preta, incluindo boné e óculos escuros – da mulher que vigiava a miúda desceu para comprar bebidas alcoólicas e um refrigerante. Já passava das 20h:00. Durante a viagem forçada, a rapariga recebeu um telefonema do pai que já estava sobremaneira preocupado devido à demora da filha, pois era a primeira vez que esta se demorava a chegar a casa. Todavia, os malfeitores aperceberam- se, antes de a chamada ser atendida, de que a vítima trazia consigo um telefone celular.

“A senhora arrancou-me o aparelho, vasculhou a minha pasta, apoderou-se do meu bilhete de identidade e disse que se eu pensava que com o telefonema havia de estar salva, acabava de escrever na água. E devia dizer adeus aos meus pais, pese embora sem lhes ver naquele instante. Fiquei assustada”. Da Avenida Joaquim Chissano, Helena Madalena foi levada em direcção ao posto administrativo de Infulene, no município da Matola.

Contudo, a viatura teve alguns problemas mecânicos e a dado momento a situação agravou-se, tendo um dos pneus ficado sem ar, o que originou o abrandamento da marcha. Mesmo assim, a viagem continuou por insistência até que, definitivamente, o carro parou de funcionar num local pouco movimentado e com machambas ao longo da estrada. Na altura em que os supostos traficantes de seres humanos desceram do carro para verificaram o que se passava deixaram uma das portas da frente aberta.

“Acho que se esqueceram de fechar as portas porque estavam aborrecidos por causa da avaria do carro e, provavelmente, eles temiam alguma coisa. Um camionista ofereceu-lhes ajuda mas recusaram alegando que não se tratava de um problema grave. Nessa altura eu observava tudo pela janela, enquanto estudava formas de escapar”.

Perante a gravidade do dano no automóvel, a senhora ficou horas a fio a falar com alguém ao telefone em língua inglesa, segundo a vítima, que assegura ter ouvido a senhora dizer que tinha o produto em seu poder – referindo- se à menina – e alguém devia ir ao seu encontro para levá-lo antes que fosse tarde. Enquanto isso, o casal embebedava- se e a aflição da adolescente aumentava. Contra todos os riscos que corria, a miúda desapertou o cinto sem removê-lo do seu corpo como forma de simular que continuava presa no carro. Mais tarde, ela já estava fora do carro, em fuga e a ser perseguida mas conseguiu esconder-se algures no terreno agrícola à beira da estrada.

A nossa interlocutora não sabe o que se passou depois porque no sítio onde se encontrava não estava em condições de ver nada devido à escuridão. Ela permaneceu no seu resguardo por muito tempo devido ao medo de ser achada pelos criminosos. Já de madrugada, a jovem fez-se à estrada para pedir boleia mas ninguém estava disponível para o efeito. Quando as esperanças já estavam esgotadas, com o temor de novamente cair nas mãos dos traficantes e em prantos, Helena Madalena teve, finalmente, o apoio de uma mulher desconhecida.

Com bastante receio de que podia se tratar de uma armadilha, a senhora que acabava de ignorar o pedido de Helena fez marcha à ré e levou a miúda para sua casa na Machava, município da Matola, a partir de onde contactou os pais dela. Nessa altura, Leonardo Matine e Matilde Cossa, progenitores da adolescente, ainda estavam acordados à espera de notícias vindas de “qualquer parte do mundo” sobre o paradeiro da filha.

Helena regressou ao convívio da família depois de um martírio que culminou com perturbações de ordem emocional. Os seus pais estão com medo, sobretudo porque não sabem quem são as pessoas que tentaram fazer mal à menina. A negligência da Polícia em relação ao caso também desconforta o casal. Aliás, no dia em que o caso se deu, a corporação foi contactada mas não desenvolveu nenhum esforço com vista a localizar a vítima.

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