Nos dias que correm, devido à, suposta, exclusão e à desvalorização de novos talentos pelo país da Marrabenta, na sua maioria os que se dedicam às actividades artístico-culturais, perspectivamse novas vivências que culminam, diga-se de passagem, com a “mendicidade artística”, em que os criadores mendigam pelas ruas da cidade de Maputo e não só, a expor o seu trabalho, pura e simplesmente para ganharem a vida. À semelhança de outros artistas cujo dom socorre a sua sobrevivência, o grupo de dança Esquema Dance, cujos membros residem no bairro das Mahotas, passa pelo mesmo drama.
Diríamos, seguramente, que no decorrer dos últimos dez anos ou mais, Moçambique foi corredor de várias músicas e danças provenientes de, quase, todos os países do mundo, com destaque para a África do Sul. A cadência, os passos e a lírica nas mensagens tornaram alguns artistas, como Dj Caal Me – uma referência do estilo House na terra do rand – mais sonantes na Pérola do Índigo e não só. Por exemplo, os títulos “Marry Me” e “Mama I am Sorry”, de Call Me, foram as que mais atenção conquistaram do público de todas as idades. Não faltou quem, mesmo discretamente, dançasse o estilo deste e de outros jovens músicos.
E a solução encontrada para que o género musical não fosse meramente dançado pelos sul-africanos, como é o caso de outros bailados angolanos, os moçambicanos, principalmente, as crianças, os adolescentes e os jovens precisavam de agir, no sentido de aperfeiçoar o baile e praticar nas mais diversas cerimónias realizadas diariamente. Nesse sentido, um dos mecanismos encontrados, para que o estilo não voltasse para a África do Sul ou mesmo para a Nova Iorque onde surgiu, sem que tenha sido aproveitado, foi a fundação de agrupamentos de dança. E o Esquema Dance é um exemplo concreto. Acompanhe a história.
O agrupamento
São jovens estudantes, sonhadores, amantes das artes, particularmente da dança. Chamam-se Xadreque, Dinho e Silva. Actualmente, vivem no quarteirão 22, no bairro das Mahotas. A história deste trio de artistas – se é que assim podemos chamá-los – começa em 2011, quando um dos membros decide fundar um grupo, com o propósito de mostrar à comunidade local as suas habilidades. Na verdade, a iniciativa foi desenhada para servir de “credencial” para que, nas festas realizadas no bairro, o trio tivesse entradas livres.
E Dinho explica: “Quando criámos o Esquema Dance era para participarmos em várias festividades da zona. Às vezes aceitávamos actuar de graça só para termos acesso garantido. Na época, até era divertido”. Mas, “depois de longos meses em que actuámos gratuitamente, decidimos começar a fazer cobranças. Já nos considerávamos profissionais e por isso as pessoas deviam pagar por qualquer serviço prestado. Desta feita, passámos a dançar nos casamentos, nos baptismos, entre outros eventos”. De todos os modos, o intervalo que separa o ano da fundação do agrupamento da actualidade é, quase, curto mas estes afirmam que cresceram. E bastante.
Presentemente, o agrupamento conta com um uniforme e com um rádio, que suporta cartão de memória e um “pen drive”, com o qual realizam “shows” pela ruas da cidade, sempre que oportuno. Entretanto, a ideia de fazer concertos na rua, segundo contam, tem como objectivo angariar algum dinheiro para a compra de roupa e de alguns materiais necessários para o bailado. De certo modo, os artistas apoiam-se no seguinte adágio popular para se confortarem com as moedas que, ocasionalmente, auferem: “Grão a grão enche a galinha o papo”.
Por essa razão, não os incomoda o facto de estarem diariamente em alguns lugares periféricos da cidade a pedirem esmola. A honestidade e o amor pelo seu trabalho fazem com que os jovens das Mahotas sintam-se realizados: “Graças a Deus não roubamos a ninguém. Vivemos do nosso suor. Aliás, do nosso talento”. Segundo narram os bailarinos, as dificuldades existem, mas, “não se pode caminhar lado a lado com elas. É preciso despistá-las, para que consigamos realizar as nossas vontades. Precisamos de patrocinadores, sim. Mas, como não temos ajuda, embora seja penoso, continuaremos a trabalhar”.
Tendo em conta que os artistas pretendem, em certo sentido, reorientar os seus destinos nas artes para uma forma de actuação mais ajustada à preservação da cultura moçambicana, inspirando-se, de certa forma, no modelo sul- -africano, Dinho, Xadreque e Silva revelam-nos a imensa paixão que têm pelo nosso país. De acordo com a tripla, “vivemos numa situação de rejeição por parte dos nossos pais”. Segundo eles, isto significa que os moçambicanos reconhecem que são filhos desta nação, e por ela são capazes de entregar a vida. Mas, o caricato nesta história é que a Pátria não reconhece a paternidade da sua prole.
O que se sabe sobre House?
O House é uma dança pouco comum – sob o ponto de vista da sua coreografia – mais praticada nos clubes de Chicago, em Nova Iorque. Por essa razão, acredita-se também que tenha surgido nos Estados Unidos de América.
Os elementos principais da dança são “Footwork” e “Jacking”, o que faz com que a sua execução seja mais improvisada do que coreografada, com ênfase em movimentos de pernas rápidos e complexos combinados com movimentos fluídos do tronco. Neste estilo, os braços não têm muita importância. Importa referir ainda que nas associações de Chicago, os praticantes de House dirigiam-se ao palco já sob influência de drogas. A dança retira os seus movimentos de outros estilos, principalmente da Salsa, do Tap, do Hip Hop, do Afro-Jazz.
Todavia, por ter sido um baile que surgiu nos clubes, há também alguns elementos pessoais de cada dançarino envolvidos. No entanto, por existirem bailarinos de diversas origens partilhando a mesma pista, houve (e há, ao menos em Nova Iorque) muita troca de informações na origem desse estilo de dança. Por isso, antes de ser um actividade de competição, o House é uma bailado social.